A expressividade de Omar Sy é sempre atraente e vê-lo em cena faz com que a gente “descanse da nossa vida” para embarcar em qualquer aventura proposta pelas suas personagens. Não dá pra perceber que o filme é uma comédia no primeiro terço, pelo menos – há o exagero, mas ele te instiga, sem aquelas explosões características do humor.
Há uma qualidade dramática muito forte, no filme, que aponta para questões que estão ao nosso redor com muito vigor: o significado do tratamento médico, como as pessoas precisam e pagam para terem atenção, como isso é explorado pela ciência médica, os conglomerados de saúde, o uso da fé. E também a linha de drama, a construção dos vilões, o amor e a fofoca, num enredo que, lentamente, vai nos envolvendo.
A interpretação das personagens, muitas vezes propositalmente caricata, contrasta com naturalidade com que Omar Sy transita na cena.
Mas do segundo terço até o final, o filme ganha a movimentação necessária para se tornar uma comédia de costumes incrivelmente movimentada, bem humorada, com bons momentos. Tem, claro, aquele estilo de humor francês, tem moral da história, tem entrega. E mesmo começando um pouco escuro, ele se justifica assim.
Não gostei da dublagem - o sotaque dos atores, de uma certa forma, meio que atrapalhou a passagem do conteúdo, mas não havia a opção legendado.
Lá no final, um final feliz diferente do imaginado, mas que levanta a questão do amor do mesmo jeito – o que acaba descaracterizando aquele “ar de exploração” que faz parte do filme, desde o começo.
Pra um dia de tarde, pra assistir durante uma frente fria, enrolada no lençol, vale. Mas sem grandes pretensões.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O cinema francês, principalmente o cinema de comédia, é muito interessante. Falam em muitos assuntos difíceis, intensos e profundos, de forma cômica, suave, aproveitando essa leveza para ser “profundo” sem custar muito, não sei se me entendem... Em muitos momentos da nossa vida é o possível e resolve muitos problemas. Como no filme. Omar Sy é um médico, digamos, inusitado, mas que nos ensina muitas coisas sobre o que somos afinal na vida. Somos o que a nossa profissão diz ou as nossas ações? No meio de tanta boa disposição dá para pensar, refletir, acertar agulhas na nossa vida. O coração é sempre o melhor timoneiro em todas as nossas travessias. Boa navegação.
Uma produção rica, cuidada, com bons atores. Um filme de época, muito fofo, para uma tarde de domingo com pipocas e mantinha nas pernas. De que está à espera?
Ana Santos, professora, jornalista
Direção: Lorraine Lévy
Sinopse: Knock é um médico que vê em um vilarejo nos Alpes franceses, uma oportunidade única de se dar bem. Ele começa a diagnosticar cada paciente com uma doença, real ou imaginária. Um mestre das artes da sedução e manipulação, ele se torna um sucesso.
Elenco: Omar Sy, Alex Lutz, Ana Girardot.
Informações:
https://www.imdb.com/title/tt6515342/
Link com o filme completo
https://www.youtube.com/watch?v=2Krtj3J7gGQ