As pessoas falam de desigualdade social e logo se pensa em grandes e graves dificuldades – mas ver o detalhe é pior. Nesse documentário, percebemos que para um pobre ir ao banco – e leia-se sempre que quando falamos em pobres, estamos falando de herdeiros da escravização, pelo mundo, apenas teoricamente livres – ou seja, estamos falando de uma partida onde nem a agência bancária é fácil de se achar. Nem vamos imaginar o significado de olhar o gerente no fundo dos olhos para pedir.
Indicado ao Oscar, O Barbeiro de Little Rock, com extrema naturalidade mostra que muitas vezes se precisa de um mínimo, de uma pequena quantia – aquela que pode fazer a “Dona Maria começar a vender bolos pra fora e que precisa de uma partida para comprar farinha, açúcar, fermento, forma e chocolate”, por exemplo. No filme esse impulso é retratado através de uma escola de barbeiros aliada a uma financeira comunitária, que ouve a história dos proponentes a empréstimos – e o começo é mesmo o ouvir porque não há quem os ouça, no mercado – prevendo as despesas de cada modelo de negócio e emprestando o dinheiro para cada novo início.
É um choque, o ouvir. É um choque perceber quem o mercado faz questão de ignorar, de abandonar. A falta de oportunidades, de pequenas possibilidades, de frestas nas portas por onde se possa passar é impressionante. Todas as formas de nomear as diferenças nos passam pela mente: “ficou velha, não tem onde cair morta, pobre tem que morrer, bandido bom é bandido morto, fila dos pés na cova”. Quantas pessoas são “aquinhoadas” com etiquetas que as qualificam como refugos sociais e que podem ser alçadas à liberdade com um pequeno empurrão? Por quê os super bancos não têm uma linha de pequenos empréstimos a juros muito baixos? Meio porcento do lucro bancário poderia ser a fundo perdido para isso, poderia ser lei – afinal falamos de lucros multibilionários.
Uma pequena e perdida pessoa norte-americana conta uma história grandiosa que poderia estar sendo contada pelos senhores vereadores, deputados estaduais e federais com o apoio dos senhores senadores brasileiros por exemplo. No entanto, os bilhões que eles escorcham dos poderes executivos cada vez mais tem fim ignorado. Não sabemos onde é gasto, mas sabemos com quem nunca é gasto - e isso precisa acabar.
Um filme de pouco mais de 30 minutos que deveria ser discutido nos endereços das grandes empresas de mercado, nas Câmaras, escolas de economia, nas casas e nas famílias. Como olhar diretamente nos olhos das pessoas sem dor ou vergonha, quando o assunto é oportunidade? Equidade para gerar finalmente igualdade, no futuro?
Senhores legisladores, ando bem cansada de suas discussões inúteis...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Imperdível. O tempo passa voando. Arlo Washington é um ser humano maravilhoso que faz justiça em cada gesto. Ensina uma habilidade, uma profissão – barbeiro - a homens sem futuro. Além disso também financia, empresta dinheiro a pessoas em situações muito difíceis e, não só salva essa pessoas, como desenvolve as comunidades – comunidades essas divididas pelos ricos, que têm tudo, e pelos pobres, que nada têm. Empréstimos a afrodescendentes, algo que os bancos dessas zonas dos Estados Unidos, não fazem. Afrodescendentes com negócios que movimentam dinheiro nesses bancos mas que depois esses mesmos bancos não são capazes de emprestar dinheiro. Pessoas que saíram da prisão, que não conseguem dinheiro suficiente para pagar as suas contas, etc. Um anjo do século XXI que faz uma pergunta bem pertinente: “se as pessoas que são ricas, que têm dinheiro, não o utilizam para ajudar os que precisam, qual é o objetivo do dinheiro então?”
Maravilhoso, bem filmado, excelente roteiro. Excelente documentário.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: O curta-metragem de John Hoffman e Christine Turner segue Arlo Washington enquanto ele ajuda membros de sua comunidade a escapar dos perigos do setor bancário enquanto é negro. "The Barber of Little Rock" foi indicado para Melhor Curta Documentário no 96º Oscar.
Link do Documentário completo