E o COVID-19 trouxe tantos espetáculos maravilhosos pela internet, gente! A primeira coisa a se ressaltar no FRENÉTICO DANCING DAYS é o nível de qualidade do elenco, que é um escândalo. Como vocês sabem, tudo na minha vida parte/partiu da qualidade expressiva vocal/verbal, ou seja, voz, dicção, articulação, interpretação, prosódia, etc - e com o texto simples, como a forma de ser de Nelsinho Motta, o espetáculo faz a minha geração “gemer” com músicas incríveis, num repertório sensacional. Mas é só a primeira coisa porque particularmente eu fiz parte da geração de pessoas que foi ao Dancing Days, que viveu aquele momento e que foi definitiva e decididamente influenciada por ele pelo resto da vida.
Há uma ousadia visível desde sempre, no Rio. Uma coisa diferente. Aquilo que faz dos cariocas pessoas que não se espantam com quase nada, que faz a gente não “avançar, tietando demais” os nossos ídolos, mas opinar sobre a forma como ele interpretou tal cena com a mesma naturalidade com que divide com o galã da novela uma melancia no “Hortifrutti”. O Rio de Janeiro teria que ser assim pra pegar um cartão postal da cidade (como o Pão de Açúcar) e o transformar numa discoteca histórica; pegar as garçonetes e as transformar nas Frenéticas e pegar uma geração traumatizada pela ditadura e transformar de novo num povo capaz de cantar a favor da liberdade, como a Mangueira neste ano, ao mesmo tempo em que homenageia as Ganhadeiras de Itapuã, com a Viradouro. Capaz de aplaudir de pé a Joãozinho Trinta e Ana Botafogo. Capaz de receber nossa baianidade com Gal, Caetano, Gil, Betânia, João Gilberto, Raul, Caymmi, Novos baianos e tantos. Capaz de sobreviver às balas perdidas e rebolar com a Anita. Portanto, ver um musical como O FRENÉTICO DANCING DAYS, com o alto nível de qualidade dos atores, faz com que a gente olhe muitas vezes a mesmice e suspire – não se faz nada revolucionário repetindo sempre as chances para os mesmos. O charme desse eterno ar rebelde, mas que adora receber coisa boa, gente boa.
Vale ver cada minuto. Uma montagem marcante, de personalidade, com atores muito bons, luz fantástica e privilegiando a ocupação do espaço cênico. Nada que não seja útil. Tem uma mulher lisérgica que deveria ter o codinome “elástica” e que canta demais, tem as atrizes que reviveram As Frenéticas com maestria, tem o menino fofo e perfeito pra ser o Nelsinho – e que canta como um passarinho. Às vezes alguém desafina? Sim. Mas quem não desafinou alguma vez na vida?
Portanto, se você começou a cansar de andar pela casa, FIQUE EM CASA (o tempo que for necessário porque morrer é o pior prejuízo do mundo) e veja o musical. É por você que ele foi liberado. É em sua homenagem, em seu respeito. Tudo perfeitamente com a cara do Nelsinho. Com a cara do Rio. Diferente. Sendo muito bom, claro.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Sempre existem coisas boas em épocas más. A pandemia, que nos amedronta e fragiliza, nos colocando frontalmente perante a possibilidade da morte, como não tivemos antes. Ao mesmo tempo, de toda a parte surgem possibilidades de ver espetáculos, livros, museus, peças de teatro, filmes, documentários, etc. As pessoas parecem querer voltar a colaborar, partilhar. Mesmo em casa, todos nós temos trabalho, tarefas, ocupações, remuneradas ou não. Estar em casa não é ter tempo livre, mas de vez em quando tentamos aproveitar as oportunidades que nunca teríamos em tempos anteriores. Poder assistir a uma peça ou musical do Rio de Janeiro, gratuitamente, mesmo que seja em casa, onde os atores e artistas realmente cantam, realmente dançam e realmente interpretam, só mesmo numa pandemia isso é possível gratuitamente. Repito: Gratuitamente! Adoraria que algo de bom e de partilha ficasse deste tenebroso momento para todos.
Ter a oportunidade de poder assistir ao musical “O FRENÉTICO DANCIN’ DAYS” é sensacional. Tente não perder. Direção e coreografia de Debora Colker já bastaria para marcar o dia e hora para assistir. A história sensacional de como começou a existir um espaço emblemático e marcante da época, que virou novela, que teve envolvidas várias pessoas influentes da “cena” cultural do Rio e do Brasil – como “O FRENÉTICO DANCIN’ DAYS”, é mais uma grande razão. As músicas sensacionais americanas, inglesas e brasileiras que se tornaram inesquecíveis. Porque são sensacionais. Uma delas que conheci quando vim viver para Salvador é realmente um estímulo à alegria e pensamento positivo. Procure na internet, quem não conhece – “Abra suas asas”, das Frenéticas. Vale muito a pena. Impossível ficar sem dançar.
Musical sensacional, com excelentes atores, que cantam, que dançam, que são lindos e charmosos, talentosos. Onde se vê muito, muito trabalho, numa aparente simplicidade. Um cenário simples, lindo, que é mudado pelos próprios atores em cena, forma que adoro especialmente em teatro, dando movimento e uma sensação de vida pulsante. Uma linguagem bem carioca e cheia de gírias e sotaques e jeito de falar que mostram todo o charme desse lugar único no mundo. Figurino colorido, super alegre e encantador. Um roteiro complexo, com inúmeras entradas de músicas entre diálogos enérgicos, com uma afinação só possível com muito trabalho, experiência de direção e talento dos executantes. Fabuloso. Imagino que ao vivo seja simplesmente mágico!
Para quem nunca viu musicais brasileiros de qualidade, é uma oportunidade única e muito especial. Portugal? Tente não perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Site de espetáculos online (gratuitos durante pandemia)
https://espetaculosonline.com/adulto3#f6d9b681-82ba-4974-8e22-0b7fec8a1919
As Frenéticas – “Abra suas asas”
https://www.youtube.com/watch?v=-F6ykqHCWfE
Ficha Técnica
Ano de Produção: 2018
Texto: Nelson Motta e Patrícia Andrade
Direção Geral: Deborah Colker
Direção Musical: Alexandre Elias
Coreografia: Jacqueline Motta e Deborah Colker
Cenografia e Direção de arte: Gringo Cardia
Com Stella Miranda, Bruno Fraga, André Ramiro, Cadu Fávero, Franco Kuster, Larissa Venturini, Ariane Souza, Gabriel Manita, Natasha Jascalevich, Julia Gorman, Ingrid Gaigher e elenco.
Produção Geral: Joana Motta
Realização: Irmãs Motta e Opus
Registro Videográfico: Chamon Audiovisual