Eu tinha ficado muito chateada por perder a primeira exibição de “Michelangelo”, no Festival de filmes italianos do Espaço Itaú de Cinema porque eu sou totalmente apaixonada pelos clássicos de arte – louca por gregos e romanos, em resumo.
O filme, porém, me levou a uma viagem totalmente inesperada à mente e ao sentimento de Michelangelo, viajando por suas obras. E vê-lo, para além das obras, me abriu um espaço diferente, mais encantado ainda – se é que isso é possível – para entender os sentimentos de um homem que queria ser a extensão das mãos de Deus, que quis dar vida à pedra e – como ele mesmo disse – perdeu sua vida tentando dar vida a primitivos pedaços de mármore. Acontece que ele deu, mesmo.
Não tinha lugar lá embaixo da saída do ar - as salas estavam mesmo lotadas – e ficamos na fila B. Meu Deus, era como tocar as esculturas. Elas estavam mesmo ali, ao alcance do mais próximo olhar e o filme abre espaços poéticos que beiram a perfeição estética.
Mostrar, para além da brutalidade dos pedaços de mármore, as obras refletidas em poças de água é uma coisa linda. O filme vai de perfeição de escolhas clássicas às perfeições estéticas, de linguagem e de trilha. E que trilha! Fiquei da fila B, de boca aberta e dor no pescoço, maravilhada com a interpretação do ator que fez Michelangelo e a beleza dos italianos. Nada dessa coisa atual com todos os corpos iguais, imitativos, de dentes brancos, botox e silicone nos mesmos lugares. Na verdade, a beleza italiana vem de traços suaves combinados com aduncos – grandes narizes e bocas perfeitas, mãos grosseiras e braços definidos. Olhar para os italianos é perceber que há imperfeições que evidenciam a harmonia dos traços.
Quem não foi já perdeu, certamente. E perdeu mesmo. O filme é enlouquecedor de tão bom. E olha que tento ver os filmes de todos os grandes artistas clássicos, coleciono mentalmente suas biografias, consumo histórias reais e mitológicas nascidas da Itália e da Grécia. Nunca tinha visto uma abordagem tão suave, tão humana.
Quem sabe vocês não pedem pra repetir? É o que resta, porque a outra opção é chorar!
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
O encanto pelas obras de Miguel Ângelo / Michelangelo é universal. É inacreditável pensar que um homem foi capaz de realizar obras de tamanha grandeza, perfeição e intensidade. Trabalhou a mármore de uma forma tão perfeita que criou “seres vivos”.
As esculturas e os frescos/afrescos têm tanta vida e falam tanto que é impressionante assistir a este filme. Um filme de amor pelas obras do grande criador. Uma aula de história de arte e das suas criações, com uma trilha/banda sonora espetacular. E para completar, uma voz e um texto muito envolvente e interessante.
Um conhecimento exímio do corpo humano e do trabalho em mármore. Um detalhe e perfeição só possíveis num gênio. Vivemos num mundo tecnológico que nos permite errar e corrigir e apagar no espaço de um segundo e vemos um artista que não tinha espaço para o erro. E o que fez ficará para sempre. E quantos mais anos avançam mais a sua obra se impõe e mais valiosa é. Incrível.
O mundo do turismo tem alguns pontos no globo terrestre que sabe que são sucesso certo no seu negócio. Alguns deles são sem dúvida os locais onde a obra de Miguel Ângelo / Michelangelo se encontra, como a Capela Sistina por exemplo.
Belíssimos atores e a bela língua italiana que é sempre um encanto ouvir.
No festival Varilux de filmes franceses podemos perceber que o estado francês apoia o cinema, em filmes que abordam temas fundamentais sobre o patrimônio histórico, humano e social do seu povo. Também o Governo italiano e o Vaticano apoiaram este filme. Essencial para a preservação e divulgação da sua história. Uma pena que alguns países tenham governos que não sabem as suas funções nem responsabilidades no lugar que ocupam.
Um filme obrigatório para quem ama arte, para quem tem filhos, para quem ama a vida, para todos. Obrigatório.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt7587878/
Festa do cinema italiano
http://www.festadocinemaitaliano.com.br/programacao
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha