“Meu Nome é Greta” / “My Name Is Greta” (National Geographic, 2020) e “Greta: o Futuro é Hoje” (National Geographic, 2020)
Imprescindível. Não propriamente porque o documentário tenha qualidades artísticas extremas, mas sobretudo porque precisamos de um apoio audiovisual para podermos ter acesso ao assunto de maneira clara e objetiva. Os Presidentes têm filhos e netos – eles vão morrer e seus pais os vão matar. São, portanto, assassinos do futuro. Do próprio futuro. A nossa geração insiste em se manter falando de lucros extremos, em detrimento da vida dos outros, como se só a vida dos poderosos importasse. Pois bem: a situação do planeta está tão descontrolada que não adianta mais assobiar para o lado e desviar a vista para a morte das onças no Pantanal, com as patas destruídas – aqui, ao nosso lado. Não adianta mais marcar uma temporada de esqui, enquanto os ursos morrem afogados – ali na frente, nos Polos. Não adianta falar em lucros, com grandes lançamentos imobiliários, grandes exportações de óleo, fumaça, lixo para sustentar o luxo, os iates, os carrões. Seus filhos vão morrer pelas suas mãos e quando isso acontecer, nada vai poder salvar as crianças porque elas precisam continuar habitando um mundo – e só temos este mundo.
De maneira muito clara e objetiva o documentário mostra a saga de uma menina ao redor do planeta falando uma frase simples: pra quê devemos estudar todos os dias, se vocês não vão deixar um mundo para as crianças, no futuro? E Presidentes – incluindo o nosso, claro – já a chamaram de louca, histérica, malcriada, birrenta, mas o fato é que as emissões de carbono do planeta estão destruindo todas as esperanças de que a vida se mantenha, graças ao efeito estufa – pelo menos como ela é reconhecida hoje. Ah, sim – os ricos vão inventar bolhas de plástico oxigenadas, onde as crianças vão se sentar comportadas – para não furar as bolhas – com seus games. E a vantagem de termos novas crianças - paradas como alfaces paralíticas – será? Ooops – nenhuma.
Os adultos vão continuar pulando o lixo porque afinal os super aristocratas e políticos e biliardários não vão perder seu luxuoso tempo com essas coisinhas insignificantes – mas o mundo virou um depósito de lixo gigante, enquanto os distraídos assobiam para o lado. Quanto espaço físico de terra morta ocupa um depósito de lixo à céu aberto, senhores presidentes? Ah, sim – a Amazônia não está pegando fogo, o Pantanal não está pegando fogo, a pecuária é o bombeiro do Pantanal, as onças não morreram, os jacarés não morreram, as araras não morreram, as pessoas não morreram, nem as pacas e quem reclama – é maconheiro! Seria hilário, se esse discurso nonsense não tivesse já sido dito. Não, lá na Cochinchina não – aqui no Brasil, exatamente em Brasília, sede do Governo Federal. E estamos vendo o “impávido colosso” ser destruído debaixo da nossa cara e a mantemos impassível. Somos feitos do mesmo lixo onde vivemos?
Eu vi os dois documentários e o que mais me chamou a atenção não foram as imagens tiradas por drones, nem a possibilidade de acompanhar em filme a louca vida de uma menina de quinze anos, mas a pergunta: os adultos têm mesmo essa cara de falsa paciência cínica com qualquer criança que tenha razão ao discutir um ponto de vista? Porque fiquei morrendo de vergonha das caras dos adultos. Como estará a cara deles daqui para o futuro? Eles enterrarão seus filhos e vão rir também? Vão corromper a morte? A chuva ácida, a subida dos oceanos? Quando uma menina olha na cara do mundo e fala que a geração dela pode não sobreviver ao que está sendo feito agora, qual é a graça? Se discordar é ser malcriada, desculpe eu também quero ser. Como as autoridades do meu próprio País dizem: se protestar é ser maconheira, passem-me o baseado! Shame on you! Shame on you! How dare you? Isso é mesmo palavra de menina louca? Que vergonha, que vergonha! Como vocês se atrevem? Como?
Para os Prefeitos que querem continuar vendendo lixo em metros cúbicos às empresas de recolhimento – vocês são os únicos que não perceberam que essa é a melhor maneira de nunca resolvermos nada em relação ao problema ambiental, no Brasil! Exijam um plano de reciclagem já! A terra precisa respirar, nós precisamos respirar e ninguém deveria ameaçar, amedrontar, aterrorizar uma geração inteira de crianças. Nossas crianças. How dare you?
Vamos nos juntar às crianças. Devemos isso a elas.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Crescer e se “tornar um adulto” não tem só coisas boas. É também ficar anestesiado, distante, frio, cego, distraído, preguiçoso, passivo, egoísta. Tudo isso pode acontecer se perder a sensibilidade, a noção da realidade. Greta Thunberg, foi capaz de manter o lado genuíno de ser e de viver, de fazer o que importa, de tentar fazer o certo. Mesmo com os mídia e muitos políticos esmagando e abafando a sua luta. É impressionante assistir a estes dois documentários e ver como uma menina de 15 anos assustou os poderosos, como foi considerada e chamada de tudo, até de mentirosa. Mas ela sabe bem o que quer. Nós os adultos sabemos?
Um dos documentários – “Meu Nome é Greta” - tem muitos momentos pessoais, conversas entre Greta e o Pai, entre Greta e a Mãe, o início da sua caminhada. Momentos únicos e que mostram bem como é dilacerante para ela ver o que estamos fazendo ao mundo, o quanto sofreu e sofre, a sua coragem. A sua entrega. Poderia dizer que fez tudo isso para ser importante, para ser conhecida. Mas Greta não quer nada disso. Quer apenas que a ouçam, que a ajudem, que os adultos acordem, principalmente os que mandam. E cada segundo conta. Como ela diz, devíamos afinal ser todos pessoas com Síndrome de Asperger para que o mundo fosse melhor.
O documentário “Greta: o Futuro é Hoje”, mostra o impacto que sua intervenção está tendo nas pessoas, nos jovens e no mundo. As expressões faciais das pessoas quando a ouviram, na ONU e em todos os lugares de importância política onde esteve, ficarão para a história: umas aparentando cara de mães preocupadas com a menina que diz umas coisas estranhas e outras aparentando choque e surpresa – como se nunca tivessem dado conta do que fazem e, principalmente, do que não fazem.
Greta nos chama para o mundo real, para o que interessa afinal. Todos já fomos jovens, já tivemos sonhos e parece que num determinado momento da nossa vida, passamos a ser máquinas, a ter outros desejos – comprar a prenda de Natal, entupindo shoppings, mesmo em pandemia; ser mais espertos que o vírus e organizar festas e reuniões familiares ou de amigos às escondidas; comprar roupa todas as semanas; Comprar, comprar, comprar; rir dos que tentam mudar.
Sabemos que todos fazemos coisas erradas. Todos caímos neste mundo de consumo. Mas podemos reconhecer e tentar mudar. Não dói. Dói mais ficar doente, ficar sem trabalho, sem dinheiro, com fome, desesperado, inundado em contas para pagar, morrer. O que posso fazer hoje? Agora? A partir do próximo ano? Não somos a roupa que vestimos, o carro que compramos, nem a casa onde vivemos. Mas somos o que fazemos e Greta é um exemplo que pode nos servir de experiência vicariante – de exemplo. Não temos muita saída...
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre os documentários
https://www.imdb.com/title/tt10394738/
https://www.nationalgeographicbrasil.com/video/tv/meu-nome-e-greta
https://www.nationalgeographicbrasil.com/programacao#schedule=ngc_sd/12/10/2020