O Tao é caótico dentro de sua ordem imutável... Em “Call me Chihiro ou “Meu Nome é Chihiro”, com extrema leveza o filme nos mergulha pouco a pouco na extrema solidão de um mundo onde as pessoas não conseguem se comunicar, criar soluções funcionais dentro das órbitas esperadas das suas vidas, como sua própria família, o que as transforma em seres que perambulam em busca de semelhantes. “ETs terrenos”.
Deveria ser um roteiro pesado, mas na verdade não é, por causa da abordagem taoísta. As personagens orbitam nas vidas que construíram de forma deliciosa, com pequenos momentos onde se mostra o mundo real, o estresse, a impaciência, a ignorância, rigidez, agressividade e como cada personalidade reage naquele meio – o que é suficiente para entendermos a solidão em que vivem as novas gerações.
Cenários comuns, figurinos idem puxam o foco para a interpretação e a construção das personagens – profunda e primorosa.
Vale ver em família e comentar, perguntar se, como adulto, tem perdido tanto a paciência com filhos, sobrinhos, amigos, se tem falado o suficiente com eles, ao invés de reclamar e recriminar e voltar atrás, se desculpar, redimir. Estamos num pós pandemia estranho, evasivo e grosseiro uns com os outros e podemos nos refazer.
O filme começa e termina com “começos”, talvez apontando para o fato de que tudo é impermanente, por mais que torçamos para ter, manter, permanecer.
Lindo. Vale cada minuto.
ANA RIBEIRO
O Japão e os japoneses são fascinantes, surpreendentes, muito sensíveis, dão imenso valor aos detalhes, às coisas simples. Muito diferentes dos outros povos, têm imenso a ensinar para quem tiver interesse em aprender. Muitas pessoas dizem que eles estão muito mais avançados em tudo. Talvez. São um povo muito sofrido que todos os dias procura aprender e nunca esquecer o passado. Se os outros povos fizessem só esse detalhe já era uma diferença enorme no mundo.
Chihiro é uma mulher extremamente sensível, com um passado difícil. Parece que está a tentar ajudar todos os que sofrem e não conseguem sair do “buraco” onde estão presos. Constantemente é doce com quem é agressivo, é amorosa com quem a trata mal, carinhosa e cuidadora com os invisíveis. Uma alma linda, linda. Todos usufruem da sua generosidade e acabam por se apegar tanto a ela que cometem o erro comum na sociedade - querer mudá-la, melhorá-la, para seu interesse e conforto na vida.
Um filme com muitos ensinamentos.
Chihiro nos estimula a ser mais bondosos, a ver a vida de uma forma mais doce, mais simples. A descomplicar. A apreciar momentos que muitas vezes nem apreciamos como ter os pés na água, olhar o sol, olhar o mar. Não estaremos aqui para sempre. Talvez possamos aproveitar mais se ouvirmos Chihiro e se percebermos o que ela percebeu. E, deixar essas pessoas – todas até – serem o que desejam ser sem as limitar, nem guiar pelos nossos desejos.
Amei, amei, amei. Tente ver. Vai amar, amar, amar!
Ana Santos
Sinopse: Chihiro trabalha em uma pequena loja de bento à beira-mar, Nokonoko Bento, e se torna uma figura popular na cidade.
Direção: Rikiya Imaizumi
Elenco: Kasumi Arimura, Hana Toyoshima, Tetta Shimada.
Trailer e informações: