Quando o filme começa, você quer que ele seja melhor, você espera que ela te surpreenda. Isso não vai acontecer. O filme é o que se pode chamar de água com açúcar e não tem nenhuma pretensão de deixar de sê-lo, o que é uma pena.
A melhor atriz pouco fala (é a tutora da menina), mas tem uma expressividade ímpar, está em cena com olhos impressionantes - dentro do silêncio subjetivo da cultura japonesa – mas além da fotografia, que embora para espaços de locação limitados, é maravilhosa – pouca coisa.
O menino é fofo nas duas idades, os vilões têm o tipo de mau caráter de livro infantil – e lá está ele de novo – o preconceito dói a cada cena. Mas de um jeito água com açúcar também. A ação do filme se revela no menino correndo pelo Havaí, apostando corrida com tudo o que anda, livre.
Alguns erros bem evidentes, como o da morte do pai adotivo, mas pra gente levar uma criança de 10 anos e começar a conversar sobre o amor, o preconceito, os motivos inexplicáveis que levam uma parte da sociedade a se sentir diferente, superior à outras, vale muito porque não sei bem como as famílias descobrem o espaço ideal para abordarem o assunto sem parecerem chatas - Vale dizer que o apartheid social – incluindo o de Salvador - também merece uma explicação bem detalhada – e constrangida - nessa conversa.
O final – claro – é feliz, os maus têm seu lugar, pagam suas penas e os bons também tomam conta de novos espaços. Só por isso já vale levar as crianças pra depois se sentar por ali, ver o pôr do sol, comer uma tortinha e explicar a nossa vida no planeta com um sentido mais humano.
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
Um filme suave, belo, com uma história simples, linear. Um pouco previsível demais o que achei pena. Talvez com um roteiro pouco consistente pelo fato de surgirem algumas cenas que pouco contribuem para o contexto.
Agora vamos às coisas boas. E são muitas.
Um lugar lindíssimo como o Havaí/Hawai é lindo demais de se ver. Com imagens de drone sensacionais sobre os lugares paradisíacos do Havaí/Hawai. Me lembrou tanto dos Açores e da sua beleza estrondosa. Cachoeiras, montanhas esverdeadas, pureza. Os brasileiros por norma vão a Lisboa, Cascais, Sintra, Nazaré, Óbidos. Esquecem o sul e o norte, o interior, a Ilha da Madeira, mas principalmente as Ilhas dos Açores.
Um filme que também inclui voz em off, narrando a história dessa pessoa. Bem japonês. Uma voz linda, pausada, serena, com mensagens sobre a vida, sobre os nossos caminhos. É sempre uma boa aprendizagem ouvir os ensinamentos de um lugar e de povos que observam a vida e o mundo de uma forma diferentemente corajosa e resumem em frases simples. “Só temos uma vida: ou escolhemos chorar ou escolhemos sorrir.”, “Cais 7 vezes, levantas-te 8 vezes.” Frases bonitas, frases sábias. Frases importantes.
Uma trilha/banda sonora maravilhosa. O maravilhoso, charmoso, talentoso, Matt Dillon. Ryan Potter, um excelente jovem ator.
As coisas ou pessoas que ninguém vê. Que quando alguém de fora chega ao lugar, vê. Esse olhar do que é novo, do que vem de outros lugares, e por isso tem um olhar e um foco diferente sobre a vida ali. Não precisa ser criticado, precisa é de ser ouvido, questionado. Por que muitas vezes ajuda os que desligaram o olhar a verem coisas que são importantes. Uma criança bastarda merece castigo porquê? Por ter nascido? Perde a mãe, fica só na vida no meio de uma floresta e é excluída? Estamos com os “indicadores” de “pecado” estragados.
A subtileza, delicadeza elegância, correção, respeito do povo japonês está muito presente. Com a obediência, mas também com a ousadia elegante do amor e da vontade de ser feliz. São um povo e uma cultura inacreditáveis.
O filme realmente tem muitas coisas interessantes e muitas incongruentes. Mas é fofo, tem mensagens interessantes, mostra a importância dos bons exemplos, entre muitas outras coisas. Se tiver filhos jovens ou adolescentes, é um excelente filme para começar a debater as questões de preconceito social.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt5696326/
Circuito Saladearte