Num País como o nosso, que perdeu centenas de milhares de vidas por descaso, ver o filme começar com o Macron fazendo o que jamais tivemos – um líder – foi precioso. Ver como poderia ter sido foi essencial para que eu realizasse dentro de mim o horror que desenvolvi contra o presidente por instinto – de sobrevivência, agora vejo.
Aí foi finalmente achar engraçados os infinitos rituais que desenvolvemos - fora o enjoo que fiquei com o cheiro de cloro e as inúmeras roupas que manchei com ele, no curso da pandemia.
Aqui em casa fizemos quase tudo aquilo e até hoje separamos o que pode ficar numa quarentena “café com leite”, o que é desinfetado com álcool (enjoo do cheiro de cloro) e o que está “liberado”, mediante uma passadinha de detergente, como frutas. Portanto, o filme ridiculariza finalmente o nosso medo – pelo menos até a próxima pandemia.
Todas as marcas que vemos atualmente nas redes sociais estão lá e o que implicam – o professor de atividade física “se achava”, até que a mulher dele “viralizou, cantando” – e ele começa a comer compulsivamente por “ter chegado em segundo” – outra marca que o mundo precisa discutir e que o filme lança – essa louca competitividade ao nosso redor.
São manias, loucuras, brigas, distâncias que o filme tenta tocar e sem muito compromisso com grandes nós dramáticos, o filme desata muitos nós emocionais nossos, íntimos. Sofrimentos e perdas que aconteceram e dos quais precisamos de espaço para rir e chorar.
O pequeno agradecimento ao final, foi a minha lágrima discreta, aliás MAIS QUE AMIGOS: VIZINHOS tenta dar leveza ao que sentimos, no Brasil, no mundo. Uma leveza de desapego, num planeta que nos leva enquanto nós lhe roubamos os restos. Como hienas insaciáveis. Dores inenarráveis. Cada vez mais – primitivamente humanas.
Vejam o filme. Ele não vai concorrer ao Oscar, mas você vai se ver nele, com certeza.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O que imediatamente causa impacto, para quem vive no Brasil, é ouvir as palavras do Presidente da França, Emmanuel Macron, no início do filme. Palavras enviadas aos franceses no início da pandemia, palavras responsáveis, palavras carinhosas, palavras que nos fizeram muita falta aqui...como eu gostaria de ter ouvido palavras assim e como gostaria de me ter sentido cuidada por um presidente. Aqui na Bahia fomos felizmente cuidados pelo Governador Rui Costa e isso guardaremos para sempre.
Junto com essas palavras, o filme inicia com imagens de uma das cidades mais bonitas e encantadoras do mundo – Paris. Os drones fazendo magia, linda magia. Este início cativa totalmente. Depois a gente não sabe se chora se ri porque tudo está ali, tudo o que sofremos, todos os medos, todas as dores e, ao mesmo tempo, agora à distância tudo parece tão bizarro, cômico, estranho, patético. Se prepare para dar umas grandes e sonoras gargalhadas, vendo como cada um reagiu, pelo mundo inteiro, de forma tão igual à sua, sendo também uma forma de nos percebermos unidos e semelhantes.
Um filme suave, cheio de humor, cheio de graça, de bons atores, de Paris, de seres humanos que vivem no mesmo prédio e que nem sabem os nomes...podia ser em qualquer cidade do mundo.
Um pouco longo, mas mesmo assim, bom para exorcizar um pouco as dores, perdas e sofrimentos que passamos, que todos passamos. Me fez muito bem dar essas gargalhadas, quem sabe lhe faz bem a si também. Nosso sofrimento vivido nesse tempo precisa de filmes destes. Para seguirmos...
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: As sete famílias que moravam no prédio da Rua da Humanidade, nº 8 em Paris não fugiram para o campo quando o coronavírus chegou. Mas três meses vivendo em lockdown vão revelar o que há de melhor e pior nesses vizinhos.
Direção: Dany Boon
Elenco: Dany Boon, François Damiens, Laurence Arné.
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt13834006/