Eu tenho profunda relação com sinfonias, embora não as ouça tanto quanto gostaria. Talvez porque goste de assistir à entrega do condutor. Por isso mesmo, na primeira metade do filme, senti muita falta de uma linha de tempo que me aproximasse um pouco da história. Nada que o Google não pudesse me responder, mas me quebrava o raciocínio não saber o que acontecia no mundo, enquanto ele fazia isso ou aquilo. Da mesma forma, na primeira parte, não imaginava Bernstein como um artista tão profundo com desejos às vezes tão pueris.
Isso não muda em nada a montagem, que foi monumental, juntamente com maquiagem, trilha sonora, cenas de música. Me agradou muito saber que Bradley Cooper e eu temos em comum o fato de detestarmos parar – meu tempo nos teatros me deu a ideia clara de que depois de dizer “ação”, o ator precisa acabar tudo, se possível sem repetir nada, como no teatro. Não rever, mas saber, sentir que ficou bom.
A segunda parte do filme – a partir da doença – foi o meu real mergulho emocional no filme – e amei cada segundo. Há uma entrega, um carinho, uma percepção do que era necessário, um instinto de presença física e Bradley estava lá o tempo todo, inteiro, finalmente inteiro com alguém, além da sua entrega à música. Carey Hannah Mulligan esteve mais intensamente no filme do começo ao fim, como Felícia – não me completou a atuação de Bradley na primeira parte, realmente.
As sinfonias, todas geniais, os coros, as vozes, a música, a regência, a entrega corporal de Bradley, a semelhança – impressionante em alguns momentos. De algum modo, talvez um pouco mais de sensibilidade na primeira parte...
Vejam e depois comentem o que acharam! Um filme que quando teve espírito, ficou incrível, mas ao ter espírito me deixou a pergunta: por que não o teve desde o início? Foi proposital? Bernstein era assim?
Perguntas... não sei como parar de formulá-las...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Maestro” fala da relação entre Leonard e Felícia, não propriamente sobre a carreira, sobre a infância, sobre a biografia do gênio. Quem sabe um dia próximo, possamos ter um filme sobre a sua vida. Ia gostar muito. Duas horas de filme, em que a primeira hora é lenta, partida, pouco fluída. A segunda hora já tem mais movimento, encanto. O filme ficou muito preso à condição de homossexual de Leonard Bernstein, aparentemente com uma aceitação fácil de Felícia quando eram jovens, mas uma dificuldade em aceitar quando eram mais velhos, com filhos adolescentes. Como se as diferenças os fossem afastando cada vez mais. E afastaram, até Felícia ficar doente e Leonard abandonar tudo para estar com ela e os filhos nessa fase. Assim, a esta distância, é impressionante o que este homem construiu, profissionalmente e ao nível pessoal e familiar. De alguma forma percebemos o desconforto da família e a incapacidade de Bernstein em mudar de comportamentos. Um fumador tremendo – isso o filme mostra tanto que enjoamos de ver aquele cigarro sempre aceso - que gostava bastante de whisky, bonitão, charmoso, que não se inibia quando queria algo ou alguém. Leonard Bernstein é um dos maiores gênios do século XX. O filme está inundado pelas suas composições e isso é maravilhoso. Esperava mais ao nível técnico do filme por este ter nomes tão importantes envolvidos como Steven Spielberg e Oliver Stone, mas depois percebi a razão de tudo isso – o diretor foi o próprio Bradley Cooper. Uma pena.
Um filme imperdível apesar de tudo. Leonard Bernstein merece.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: O amor complexo de Leonard Bernstein e Felícia Montealegre, desde o momento em que se conheceram em 1946 em uma festa e continuando por dois noivados, um casamento de 25 anos e três filhos.
Direção: Bradley Cooper
Elenco: Carey Mulligan, Bradley Cooper, Matt Bomer
Trailer e informações: