Eu me defendi desse filme o mais que pude. Teria que reviver o luto pela perda de Elecktra – a loba – e quem já teve um cachorro sabe bem que cada perda é irreparável. Para quem os ama, o filme é um poema que exalta o amor fiel entre dois seres de espécies diferentes, mas que podem ser absolutamente complementares, como nós e os cães.
Quando eu perco um cachorro pra vida, costumo dizer que ele me espera no céu dos cachorros. Oh, bem, o filme tem um céu, reencarnações sucessivas e leais aos donos, amor, dedicação, palavra... É uma espécie de paraíso da lealdade entre espécies que pode ser coisa de filme, mas que eu acredito que façam parte da vida real de muitas pessoas.
Na vida real, tenho uma irmã totalmente dedicada aos animais – mesmo aos animais tão incompreensíveis urbanamente falando, que eu não saberia como amamentar, como gambás, por exemplo. Também não saberia ensinar corujas a voar, raposas a sobreviver, mas de cachorros/lobo como huskys e malamutes eu entendo bastante. O suficiente para entender e imaginar que aquilo pode ser a vida real sem que o saibamos e que talvez os animais – nomeadamente os cachorros – possam nos ensinar a humanidade que estamos perdendo, a dedicação total, o tempo e, claro, o amor. Não o amor freudiano, cheio de explicações, mas o amor canino – aquele que apenas vive o segundo presente e por isso é capaz de valorizar aquele momento onde a gente “os pega pela cabeça” e lhes acarinha as orelhas.
Quem atua no filme certamente tem pelos animais o mesmo amor, como Dennis Quaid - que tem uma pequena participação no filme que faz toda a diferença na trama. A escolha da locação foi maravilhosa e talvez eu tenha um dia o privilégio de viver no campo com vários cachorros ao meu redor. Me chamou a atenção e eu quero saber quando a generosidade dos atores com a experiência dele e de Marg Helgenberger vão deixar os estúdios e ocupar um pouco mais visivelmente as nossas vidas.
Amei o filme. Chorei do começo ao fim, fiquei com o nariz entupido, lembrei do Ringo, Ringo Jr, Nala e Elecktra, cachorros/lobos da minha vida adulta, mas também do Plic, Tica e todos os cachorros que estiveram ao redor do desenvolvimento da minha capacidade de amar. Dos cachorros do meu sogro e do meu cunhado, em Portugal e de todos os milhares de cachorros com os quais me desviei pra brincar um pouquinho na vida. Eu sou melhor também por causa deles.
Pra quem tem menino em casa, é um filme obrigatório. Se você conseguir, depois, adotar um bichinho e deixar-se amar por ele, garanto que sua família vai aprender muito. Principalmente a ver-se dentro de olhos que sempre te amam, não importa a sua dor ou humor. E esse tipo de amor faz falta, importa. Acredite em mim: do vira-lata ao cachorro com o pedigree mais puro, o que eles têm de mais importante não é, nem nunca será a beleza – será o amor por você. E o filme mostra isso do começo ao fim.
Vá ver, chore bastante e lembre disso tudo da próxima vez que encontrar um cachorrinho pela rua. Ele pode ser dono do seu coração, se você deixar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme sobre pessoas que vivem e convivem com filhos muito especiais – os cachorros/cães. Companheiros insuperáveis. Que tudo entendem, que sabem ocupar um lugar dentro de uma dinâmica familiar tranquilamente e que enchem os dias de alegria e nos deixam uma sensação feliz de companhia. Algumas pessoas consideram que os lugares que os cachorros escolhem para estar deitados, sentados, comendo, são os lugares de melhor energia das casas. Preste atenção a isso.
Este filme passa a ideia que eles não morrem para sempre, de tão especiais que são. Bons atores que amam animais, cachorros/cães que são excelentes e um roteiro um pouco “cor-de-rosa”, simples, evidente, mas que coloca para reflexão alguns assuntos importantes. Um deles é que os cachorros/cães/animais mostram muito de como somos e aproximam ou afastam as pessoas. É um filme obrigatório para quem ama cachorros/cães.
Nós achamos que gostamos ou não de animais, como se isso fosse uma escolha de duas possibilidades. Alguns passam pela nossa vida e são bonitinhos e fofos. Mas alguns nos encantam, nos protegem, nos amam de uma forma que poucos humanos serão capazes. E deixam um buraco, um fosso brutal na nossa vida, quando vão “embora”. Também esquecemos que os cachorros/cães, têm uma “personalidade” e um comportamento muito de acordo com o comportamento e a “personalidade” do dono. Por isso alguns são estáveis, serenos e protetores. Mais gentis do que muitas pessoas. Comem com uma delicadeza de “família real”.
Em menina existia um cachorro/cão em minha casa que era rafeiro, com ar de abandonado, mas que era o dono da casa, da quinta. Que ladrava, avisando que o dono estava chegando, uns 5 minutos antes. Que muitas vezes parecia ter “discussões” com o dono, meu pai. Chamava-se Garoto e dizem que era um grande caçador. Tivemos a Boneca que era pequenina e branquinha e que foi a primeira a ter autorização a entrar em casa. Lembro que quando raramente me deitava no sofá para ver TV (porque éramos muitos para sentar no sofá e esse luxo de deitar acontecia muito raramente), a Boneca saltava e se enfiava debaixo do meu braço – devia ser quentinho. Foi uma dor quando o Garoto e a Boneca foram embora. Meu pai é apaixonado por animais e sempre aparece um cachorro de novo, que foi “oferecido”. Conheci mais cachorros e todos fofinhos.
Duas cachorras mudaram a minha forma de ver a vida: Lhasa e Elecktra. Lhasa, cachorra de cidade, silenciosa, Golden Retriever, linda, que no início me incomodava por deixar as casas com milhões de pelos. Uma donzela, educada em todos os momentos, doce e calma, que amava música clássica e que era mais civilizada que eu com toda a certeza. Nunca a entendi completamente por nessa altura ainda ter um jeito de achar que animais devem estar sempre fora de casa porque sujam e porque atrapalham os nossos horários e a nossa liberdade. Quando morreu, a dor e a vergonha de não ter aproveitado e respeitado mais o seu espaço demorou a passar. Ainda demora... Elecktra, inicialmente assustadora pelo seu porte. Forte, poderosa, selvagem, tribal, guerreira e a dona dos lugares onde estava. Literalmente dona dos lugares. Lembro com muita saudade que quando chegava a casa, ela ali estava, na varanda, protegendo a casa e aguardando a nossa chegada. Numa pose, entre deitada e sentada, meia de lado e emanando uma energia inigualável. Uma deusa. Era admirada e respeitada por todos no bairro. Carros paravam para as pessoas perguntarem a raça e para tirarem fotos. Uma loba / Malamute do Alaska é realmente uma raça impressionante na aparência. Viver num país muito inseguro criminalmente e ter a Elecktra era ter 5 guarda-costas. Qualquer homem, fosse de que tamanho fosse, que viesse com más intenções a esta casa, amansava como cordeiro quando a via. E ela sabia bem quem entrava na casa para fazer o bem ou para outras razões. Me ensinou muito, me protegeu como uma mãe, como família, me ensinou a perder o medo de viver num lugar onde não se sabe com quem contar. Tinha uma alegria contagiante quando chegava a hora de passear ou quando estávamos a cozinhar comidas que ela amava, como sardinha. Era uma companheira, uma amiga e quando foi embora, senti que perdi um dos seres que mais amei na vida. Parecia que sabia que eram os meus primeiros anos de vida num país diferente, que fala a mesma língua mas com uma cultura totalmente diferente, perigoso, que demora a acolher. Ela acolheu-me enquanto não me habituei a esse estranhamento social e cultural de uma sociedade totalmente diferente. Quase oposta. Foi determinante no que eu sou agora. Como se me tivesse ensinado a voar num outro lugar. Era totalmente independente, algo que eu amava assistir e era imponentemente linda! Um dos amores que tive na vida.
Amei o filme. Bom para ver, estando em casa. Tenha lenços de papel por perto porque vai chorar rios e rios se mergulhar no filme e nas recordações dos tempos felizes com nossos “amigos”.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt8385474/
Diretor: Gail Mancuso
Baseado no livro de W. Bruce Cameron
Elenco: Josh Gad, Dennis Quaid, Kathryn Prescott
Sinopse: Um cachorro encontra o significado da sua existência através das vidas dos humanos que conhece.
Telecine (atualmente gratuito)
https://www.telecineplay.com.br/programacao
Circuito de Cinema Saladearte
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha