A gente, no Bug Latino, já tinha lançado o programa SER – JUSTIÇA, que conta a história de três homens honestos que foram capturados pelos vícios e iniquidades do sistema carcerário do Brasil. Ver JUÍZO, não deveria ter nos surpreendido, mas foi como um tapa na cara. Talvez pelo fato de que a sociedade finge que não vê, o sistema finge que atende, os juízes fingem que sabem o que fazer e o poder executivo finge sempre – seja lá sobre o que for.
É desolador ver que a juíza é, age e fala como a sociedade deveria fazê-lo, se não estivesse possuída pelo espírito terrível da indiferença. Afinal, não acontece muito com os filhos da classe média e menos ainda com os filhos da classe alta – e se acontece, quando acontece, bons advogados (e se precisar algum “pingadinho”) resolvem o caso. Antes, há uns 15 anos atrás, tudo o que a juíza fala, o vizinho nos chamaria pra dizer, a tia, o avô. Agora, os pais ficam ali engolindo a vergonha e implorando uma chance, enquanto o sistema devora as crianças. Não sabem falar bem, só o básico mesmo. Não sabem escrever bem. Não passam de ano. Não sabem fazer interpretação a situações, palavras. Tudo literal, como as crianças pequenas. Mais ou menos como: Fez porque o traficante mandou e ele não queria morrer e nem pensou em resolver de outro jeito porque não sabe falar bem.
O Reformatório - ou seja lá como se chame a coisa - não reforma nada. Na verdade, é um lugar onde não se faz nada, nada acontece, nada se aprende. Nada, nada, nada, nada. É o vazio. Um depósito de adolescentes pobres e pretos e carentes de alguém que aponte o que está errado na sua forma de ser. Na forma como o Brasil constrói soluções mentirosas para seus problemas verdadeiros. O Brasil de verdade é mentiroso.
Um deles fugiu na véspera de sair. Esteve em audiência com a juíza, ela falou que iria sair no dia seguinte, que iria só dormir na cela – com essas palavras – mas ele não entendeu, viu um buraco no muro da Instituição e saiu, fugiu, escapou, achando que estava fazendo uma grande coisa.
Uma juíza real, com meninos que não eram os mesmos que tinham sofrido exatamente aquilo com o sistema, mas serviram para não revelar as identidades das pessoas. É, gente. Ainda por cima, um DOC.
Nada muito rebuscado pra filmar e entregar o filme, mas a forma, sem retoques, combina perfeitamente com aquilo que vemos. Sérgio Cabral seria útil conversando sobre a grandeza de seu pai com aqueles meninos e como ele a jogou fora pra ter, ter, ter. É incrível como a gente vê tão pouco pra muitos, aqui no Brasil e quase tudo para tão pouca gente – claro que políticos inclusos.
Dá assim aquele asco enorme. Aquela vergonha extrema. Uma vontade de vomitar coisas.
Nas casas onde os adolescentes não precisam matar seus pais abusadores porque eles não são abusadores, seria maravilhoso ver o filme com a família, antes de dar piti por causa do game, porque a roupa não foi passada ou porque a empregada não fez o bolo. E se sentir pequeno, ridículo e mesquinho.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A vida é tão linda e tão fofa...
Ao mesmo tempo, para outras pessoas, pode ser tão difícil...
Pode ser tão dura...
Pode ser totalmente inacreditável...
Este documentário/filme nos mostra como a vida pode ser tudo e nada. Como pode ser difícil, dura, terrível, sem saída. E como quem quer ajudar, por vezes não tem meios.
Um filme muito difícil. Vemos claramente a divisão dos que se perdem por falta de carinho, por falta de caminho, por falta de educação e formação. Vemos também o que acontece a quem faz uma coisa errada e nunca é perdoado. Acusado nas coisas mais difíceis e duras, e isso é compreensível, mas nas coisas mais comuns vemos os que são, ou não, protegidos.
Durante seu percurso, cada vida terá seus problemas e suas dificuldades. Isso é certo para todos nós. Mas algumas vidas parecem acontecer no caos, ou para o caos, ou por causa do caos. E, se você for minimamente sensível e honesto, vai perceber como isso é tremendamente injusto.
Você pode construir uma vida inteira equilibrada, mas seus filhos, de alguma forma podem desiquilibrar tudo.
Você pode fazer coisas erradas para se salvar em momentos de desespero. Você pode nascer sem saber o que faz aqui e que importância tem o que faz e, por causa dessa sensação, não entender o que faz de errado e pagar por isso sem sentir. Pode apenas se borrifar para as regras e assumir seja o que for que isso implica. Pode tanta coisa acontecer...
Eu tive sempre curiosidade de conhecer as prisões para tentar entender que lugar é esse onde achamos que “consertamos os seres humanos que estão ‘danificados’”. Conheci uma aqui na Bahia e vos digo que não é lugar nem para colocar coisas, quanto mais pessoas. Meu Deus...
O filme nos mostra uma juíza incrível. Como ela, desejava que fossem todos. Vale a pena ver o filme por causa dela.
Também somos alertados que o que fazemos e a repercussão do que fazemos é diferente.
Um filme cru, que fala das coisas duras da vida e dos destinos terríveis de tantos adolescentes e famílias. É importante que veja. Precisamos de pensar, enquanto sociedade, como mudar este caminho que não tem para onde ir...
Ana Santos (currículo em buglatino.com)
Informações sobre o filme
Sinopse: No Rio de Janeiro, durante muitos dias, a diretora Maria Ramos testemunha e filma o julgamento de vários adolescentes acusados de roubo, tráfico e homicídio. Os jovens menores são protegidos pelas leis brasileiras e seus rostos não podem ser expostos; portanto, eles são substituídos por adolescentes de comunidades pobres.
Diretor: Maria Ramos
Link IMDB
https://www.imdb.com/title/tt1438492/
Link do filme
https://www.youtube.com/watch?v=pW_GlqItlFI&t=70s