Os franceses tem a habilidade de apresentar grandes discussões sociais de uma forma engraçada e em GOSTOS E CORES isso não foge à regra. A “super patética” família tradicional que não sabe nada do que acontece dentro de si mesma está ali, perfeitamente retratada – com seus ataques e seu vicio em falar sem que ninguém os ouça e, claro, privilegiando a fala dos homens héteros.
No decorrer do filme, símbolos são reapresentados e discussões são retomadas a partir do amor que a filha sente por sua namorada e como isso pode ser mais problemático ainda se, ao invés de uma mulher, ela se apaixonasse por um homem negro e muçulmano. Ao final, chega-se à dificuldade de decodificar a si mesmo que todos nós temos, com muitos encontros e desencontros – todos hilários.
Me chama muito a atenção que a França esteja “nos devolvendo” os corpos normais – sem Whey Protein – nos mostrando que é possível ter nossos próprios traços, dentes e corpos – e continuar bonito.
Claro que não haverá um debate profundo, mas muitas gargalhadas podem também nos aliviar a aceitação de quem somos e de quem são as pessoas ao nosso redor, renovando que o que vale é o amor – ainda que a gente não partilhe dos mesmos conceitos ou parceiros.
Simples, fácil, leve e engraçado – uma receita da Netflix para divertimento certo.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A animação do início do filme é soberba. Atores bonitos, talentosos, uma geração incrível que a França produz sem parar. Um filme que aborda de forma cômica e perspicaz a temática lésbica, para além de uma abordagem bastante provocante dos “silenciosos” choques culturais profundos nas sociedades modernas – os judeus, os islâmicos, os gays, as lésbicas, os estrangeiros, os ilegais, etc, etc, etc. Um filme bem humorado e muito interessante. As questões culturais, familiares e religiosas tantas vezes interferem na felicidade, no amor, na verdade de cada um e vemos que isso acontece no mundo inteiro. Este filme é um mergulho em tudo isso e por vezes um mergulho muito engraçado e outras vezes, muito doloroso.
Abertura, compreensão, aceitação, frontalidade, diminuição dos preconceitos, são alertas deixados pelo filme, no meio de muita gargalhada. Faz bem à alma um filme destes de vem em quando. Faz-nos repensar muitas coisas da vida e, quem sabe, melhora as cabeças mais preconceituosas.
Por último, por último, os títulos, as definições, as gavetinhas, as categorias...quem é assim não pode ser assado. Quem sabe o que veio para ser aqui? Quem sabe da vida dos outros? Quem disse que somos só uma coisa, uma pessoa, uma vida, uma profissão? Quando seguimos o coração e a verdade de nós, nada é o que parece, nada precisa ser como os outros dizem. Pode e deve ser como nós decidimos e desejamos. Um filme leve mas que aconselho muito.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Simone acredita que é lésbica e tem até uma namorada secreta. Mas as coisas ficam complicadas quando ela começa a se sentir atraída por um chef senegalês.
Direção: Myriam Aziza
Elenco: Sarah Stern, Jean-Christophe Folly, Julia Piaton.
Trailer e informações: