É estrondosamente silencioso o que fazemos com as emoções. Nós as calamos. Não importa muito se são boas ou más. Nós as calamos. De alguma forma, mostrarmos ou falarmos do que sentimos dá a falsa impressão de que somos mais fracos.
As animações, por outro lado, têm a possibilidade de nos abrir as emoções usando a porta da fantasia – muito mais do que abrem as chaves das portas da ficção. Na fantasia podemos nos apoderar de nosso pensamento infantil e nos permitir ir em busca do que deixamos pra trás. E lá está a tristeza imensa e a agressividade como tampa de tristeza; depois, a impaciência e irritação como tampas para a dor de quem sofre a indiferença de outrem; depois, o menosprezo pelas opções feitas para tamponarem as perguntas que não se consegue fazer porque, por sua vez, podem destampar perdas, amores e saudades.
A CANÇÃO DO OCEANO fala de tudo isso, e por isso, é o filme infantil mais adulto que vi nos últimos tempos. Quanto de dor lhe causa a COVID, no mundo? Quanta impotência sua se transformou em impaciência? E quanta provocação você criou ao redor de si, até o ponto em que a explosão do outro lhe machucou também? Será que alguém viu o que fez para entender os motivos pelos quais foi machucado ou a dor é tamanha que parece ser só uma, a sua? A quem perdeu? A quem quase perdeu? Pode dizer como seu coração se apertou, a preocupação que sentiu e o alívio pela recuperação a alguém? Teve coragem de dizer à própria pessoa?
O mundo é cheio de palavras e gestos e eles se entrelaçam para contar a cada outro uma emoção ou uma razão, um raciocínio. Muito fácil de dizer, mas... muitas almas são afônicas, as vezes falam tão baixo que não ouvimos e outras, nem falam. São almas emudecidas.
Por tudo isso, A CANÇÃO DO OCEANO deveria passar nos Jardins da Infância do mundo, tendo depois a professora (no Brasil, a tia) e os pais das crianças para, em roda, falarem do que sentem e de como conseguem traduzir o que sentem para as pessoas que importam. Porque se as prendemos, podemos nunca mais recuperá-las e usá-las com a pessoa que queremos. E lá ficam aquelas emoções à deriva, sem seu dono, sem a pessoa para o qual foram sentidas.
Um filme perfeito, a ser compartilhado entre amores.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme animado muito bonito, baseado em lendas, tradições e folclore irlandês. Belo, belo.
Um filme indicado e aconselhado pelo Circuito Saladearte.
Fala de aspetos importantíssimos que todos estamos vivendo nesta pandemia: perdas, tristeza, mudanças, diferenças, confrontos, coragens, medos, inseguranças. E nos mergulha num mundo imaginário e sensorial que muitas vezes encontramos nos nossos sonhos. Um filme a não perder. Lindo, sensível, ternurento.
Amei, amei, amei.
Ana Santos. Professora, jornalista
Informações sobre a animação
Diretor: Tomm Moore
Sinopse: “Canção do Oceano” conta a história de Ben, uma criança de dez anos, que descobre que sua irmãzinha, Saoirse, é uma Selkie (uma mulher que consegue se transformar em foca). Juntos, os irmãos viverão uma aventura para salvar todas as criaturas “faerie” (fadas) das garras da terrível deusa celta Macha. Mas a própria deusa carrega em si alguma coisa que nos assemelha, nós mortais, a ela... A condição humana, o sofrimento da perda, os conflitos familiares, o sacrifício, são temas que atravessam essa belíssima aventura.
Link de IMDB
https://www.imdb.com/title/tt1865505/
Filme com acesso gratuito até 27 de junho de 2021
https://www.youtube.com/watch?v=XgV8McTZFH8
Circuito Saladearte de Salvador convida-o para Cineclube Saladearte