É muito triste que a sociedade tenha se especializado em segmentar pessoas que vivem em um País, que dividem trabalho, suor e sofrimento; sonhos, desejos e esperanças no mesmo lugar. Pessoas amigas, que passam a se olhar como inimigas. Os ódios são então cultivados como numa horta de horror, de horrores.
Vivemos isso no Brasil. Segmentamos os pobres. Eles tinham um lugar diferente – a favela - e torcendo pra não cair, lutando pra se manter no mesmo status, a classe média, desesperada, sempre fez de um tudo pra que a “aristocracia rica” lhe reconhecesse alguma virtude. A nossa situação geral chegou a um ponto de bizarrice que agora conseguiram separar o Brasil entre ricos, remediados e pobres de direita e de esquerda e enquanto isso, os políticos e os empresários vivem de renda. Nós, o povão sonhamos com algum trabalho que nos pague e reconheça quem somos. Mas seria fácil de ver se não nos vendassem os olhos – somos todos pessoas e temos os mesmos direitos sob forma de sonhos diferentes.
O filme mostra com claridade única que basta uma pessoa querer intermediar a aproximação entre grupos e ela pode ser construída. Não é tarefa fácil, há muita perda e sofrimento; mas é preciso que se perceba que estamos perdendo todos os dias alguma coisa. Negros, imigrantes, indígenas, mulheres, gays, trans, velhos. Por isso, o filme tem uma beleza inigualável, uma verdade de sofrimento, de dor, de perda que pode ser resgatada e ressignificada, se houver esse alguém.
Por que faltam tantos professores assim? Não faltam. Apenas não sabem que no meio da louca burocracia e das regras que lhes são impostas porque os governos “acham isso ou aquilo” eles podem mais. Muito mais.
Nós não mudamos o mundo inteiro, mas “gotejamos” coisas boas, de boa intenção, de bom coração. No filme também.
Há quem não queira, há quem receba e depois finja que esquece o rosto que o acolheu, antes. Mas, como no filme, as sementes ficam.
90% do filme feito dentro de uma sala, poucas externas, imagens controladas, poderia ter sido imaginado para uma pandemia. E é perfeito, singelo, forte, denso, emocionante. O cinema vai ter que rever seus custos multimilionários porque há muito o que mostrar, há muito do que falar.
O filme acaba e você quer fazer mais, contribuir mais.
No nosso caso, ainda bem que existe o Bug Latino. Somos melhores com ele. Nos expressamos através dele.
E você?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, Tv
Um filme de 2007. Já o vi várias vezes. Obrigatório para quem é professor. Como atualmente está na Netflix e como a sua temática é sempre atual, resolvemos colocá-lo no Bug Latino.
A vida de um professor não é uma vida como as outras. Quem casa ou quem convive com um professor deve aprender isso. Deve também pensar se aceita esse tipo de vida. Mas nunca deve impedir um professor de se dedicar ao que ele faz. É uma profissão que salva vidas. Uma profissão que faz a diferença entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. É angustiante ver o mundo lidar com a educação com visão comercial, dizendo que é visão econômica. Como gastar menos, como pagar menos, como exigir mais? Triste.
Esta professora gastava dinheiro dela para várias atividades escolares. Uma professora americana. Sei que os professores portugueses o faziam e o continuam a fazer, muitas vezes. Os que conseguem ter dinheiro para isso. Não, não é o certo. Mas sem isso, muitas crianças não comeriam, não aprenderiam, não seriam adultos com futuro. Teoria todos sabemos. A prática é outra história.
Outra questão muito bem apontada no filme é este mundo em que vivemos, dividido por cores de pele, por culturas, por países, por estatutos sociais, por gangues, milícias, religiões. Além disso, a completa falta de perspectivas futuras das famílias e que as crianças e os adolescentes adquirem. Estudar é um fardo em vez de ser um estímulo. É impressionante. E é também impressionante como a insistência e dedicação de um professor pode desbloquear essas portas da esperança, fechadas a sete chaves.
Mesmo sendo de 2007 vai perceber que parece feito em 2021, parece feito sobre as escolas públicas do Brasil, Portugal e um pouco por todos os países do mundo.
Hilary Swank é uma baita atriz, que eu simplesmente adoro. Os filmes que escolhe são sensacionais. Ela quer dizer coisas, quer ser uma atriz que colabora no mundo. Adoro isso num ator. Todos os meninos e meninas são atores incríveis. A diretora da escola, Imelda Staunton é outra baita atriz. Quem puder ver o filme “O segredo de Vera Drake”, vai ver um filme que é importantíssimo, sobre uma história verídica, e vai ver o desempenho impressionante de Imelda.
Um filme que deveria ser obrigatório para professores, para alunos, para famílias. Para todos, portanto. Se nunca viu, precisa ver, precisa pensar sobre o assunto, precisa encontrar uma forma de ajudar este mundo a ficar um pouco melhor.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Uma jovem professora inspira sua classe de alunos em risco a aprender a tolerância e buscar educação além do ensino médio.
Diretor: Richard LaGravenese
Elenco: Hilary Swank, Imelda Staunton, Patrick Dempsey.
Informações:
Nunca vi o filme mas tenho de preencher essa falha ...
Pela vossa análise é um filme a não perder...