Num momento especial, onde por um capricho assistimos à Servidão e Pureza, filmes de Renato Barbieri, apareceram os 6 episódios imperdíveis da primeira temporada de Escravidão: Uma História de Injustiça, com o ator super mega, blaster maravilhoso Samuel Jackson. Que pesquisa! Antropólogos, sociólogos, viagens ao Brasil, Inglaterra, Holanda, América do Norte, do Sul Central, Canadá, Senegal, Angola, Moçambique, etc, mergulhos em águas profundas, denúncias investigativas com documentos, escavações que dependiam das marés – houve espaço para tudo e a história agradece!
A participação de um ator como Samuel Jackson, acostumado aos flashes e a forma como ele vai se “desmontando do seu mundo” é incrível. A feição dele se humaniza, seus olhos deixam de fixar o presente, se esvaziando de um tempo para se encherem de passado por inúmeros momentos e o conjunto do filme faz com que a gente mergulhe numa história emocionante – mas de extrema crueldade.
Logo ali atrás, no tempo, houve um momento onde uma parte da sociedade via os negros como coisas, mercadorias. Pagava para tê-los e explorava seu trabalho. Fácil de falar. Dificílimo de ver. Começamos a perceber que a escravidão da forma como aconteceu, só foi possível porque silenciava informações da população das metrópoles – eu sou brasileira, mestiça e na escola não soube disso, nunca nenhum professor que tive, comentou, aventou, imaginou a cena da morte por afogamento de 300, 400, 1000, 11.000 - 100 mil mortes – 1 milhão! Na verdade, nunca falamos que alguém morresse na travessia. Falavam que muitos marujos tinham escorbuto, dava pra imaginar que todos tinham – negros e brancos, mas ter um número de negros assassinados, abandonados, torturados? Nunca. Ter uma descrição da violência? Entender o que significa cada ferro esculpido para mãos, pés, pescoços, bocas? Nunca.
Exatamente por isso, é importantíssimo aproveitarmos a carona de uma produção pra nós ainda impossível para situarmos o Brasil e sua incrível história de “ter que embranquecer” para se “desafricanizar” – o que deu em nós! Maravilhosamente cafés com leite quando percebermos a beleza da mestiçagem como fator de união e não separador cultural. Claro que ainda estamos no pedaço errado da história, procurando fatores de “branqueamento” – dinheiro, status, poder indicação. Mas a história evolui.
Foram seis episódios onde não se economizou nada, não se usaram atores, mas havia pesquisadores e técnicos por toda a parte do mundo – e eles andaram por metade do mundo!
Escravidão: Uma História de Injustiça é talvez um dos melhores candidatos para uma maratona com muitas lágrimas e lições de vida. Todos ali são lembrados – e a lembrança talvez seja a primeira coisa que faz diferença, numa história que tentou e ainda tenta invisibilizar pessoas.
Nada se compara à verdade. Nada se compara à denúncia da verdade. Nada se compara ao conhecimento de sua raiz, de sua vida, de sua cor, de sua história.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A primeira temporada de mais um seriado incrível sobre escravidão e a tremenda injustiça, em 6 episódios. Seis verdadeiras aulas de história, com dados que engasgam, que chocam, que parecem invenções de cabeças enlouquecidas pela maldade. Infelizmente é tudo verdade...
Cada vez aparecem mais filmes, séries, seriados desta temática tão impactante e dolorosa na vida da civilização. Isso é ótimo porque aumenta o conhecimento, esclarece dúvidas, conceitos velhos, deturpados, antiquados, errados. Quem sabe ficamos um pouco melhores, quem sabe a dor e as feridas saram um pouco mais.
Neste seriado, novas abordagens, novos detalhes, novas informações que ainda dão uma maior dimensão do horror daqueles tempos.
Uma edição, uma direção e uma produção de luxo, onde existem recursos para tudo o que é necessário. Com nomes e personalidades do cinema, da história da América, dos direitos humanos. Condições para viajar a qualquer lugar do mundo, para mergulhar em qualquer água, onde a história se encontra em silêncio, aguardando ser conhecida, lembrada, divulgada. A história contada de uma forma abrangente, mundial. Fantástico. Impressionante. Um dinheiro muito bem gasto.
Muita dor, muitas vidas perdidas, muito sofrimento. Detalhes impressionantes e difíceis de digerir. Tentem ver. Aqui no Brasil está passando no canal National Geographic. Procure, onde vive, em que canal está passando. Veja com seus filhos, sobrinhos, netos. Converse depois. Não tenha vergonha de dizer que muitas coisas não sabia e que agora será melhor pessoa por saber. Que achava que a história era bem diferente, que aprendeu que a história era de uma forma e foi percebendo que era de outra forma. E que apesar de ter aprendido tarde a verdade, é melhor tarde. E que se fizer coisas boas com o que sabe e com o que aprende, sempre vale a pena.
As pessoas que fizeram o filme e que participaram nele, mergulhadores, investigadores, atores, viveram momentos duros, difíceis, de confronto com seu passado, com a dor da sua família e com a necessidade de saber onde pertencem, de onde veio sua família, sua história. É emocionante ver sua coragem e o que sentem, o que vivem de intenso dentro de si. Uma enorme mágoa mas também uma enorme entrega na busca da verdade, na busca de retomar um pouco de justiça e de respeito, no mínimo. Mais um seriado que deveria entrar como conteúdo de matérias/disciplinas de cursos, de graduações, de mestrados, de doutoramentos, da vida do dia a dia. Como mais um daqueles livros da Reader’s Digest, que moravam na prateleira da casa de todas as famílias e que eram e foram a entrada no mundo da informação, da curiosidade, do conhecimento para muitos de nós. Da verdade do mundo.
Ana Santos, professora, jornalista
Escravidão: Uma História de Injustiça
(Primeira temporada)
Episódio 1 - Culturas Perdidas
Episódio 2 - Racionalização
Episódio 3 - Siga o dinheiro
Episódio 4 - Liberdade ou Morte!
Episódio 5 - Origens Africanas na Cultura Mundial
Episódio 6 - Abolição da Escravidão