Sem delongas: todos precisam ver o filme. É um filme pra Oscar, apesar de alta e definitivamente perturbador. Exatamente pelo mesmo motivo, acho que não ganha – é perturbador demais.
Creio que já falamos e repetimos que o Bug Latino nasceu porque percebemos que as pessoas estão falando menos, lendo menos, trocando o mergulho no livre pensar, no uso das palavras, pelo reagir, pela não interpretação, pelo uso atípico do comportamento, como forma de ameaça e agressão. Não o agir – resultado de pensar, pesar, trocar informações. Apenas o reagir – como os “haters” fazem, com cancelamentos, ameaças de morte e mentiras, mentiras, mentiras, que ganham novos nomes pra disfarçarem a percepção de que são apenas mentiras. Como palavras, não tomem o “OWNNNN” como base porque é uma interjeição.
Ver um filme onde o roteiro, a direção e a interpretação levam isso às últimas consequências é doloroso, mas ao mesmo tempo (pelo menos pra mim), é libertador.
O filme parte de alguma coisa que eu quero chamar de “realismo fantástico ou mesmo mágico”. É totalmente excêntrico, com mudanças (sobretudo no áudio desequilibrado) que criam o parâmetro entre o fato real e “suas interpretações fantasiosas”. A imprensa do Brasil erradamente, chama isso de inverdade, quando deveria dar o nome pelo qual todos conhecemos a ação – mentira. À ação de mentir também não se deveria chamar de Fake News, que dá a ideia de mentiras permitidas, mesmo que sujas. Nenhuma pessoa, tenha o cargo que tiver no Brasil, na América ou no planeta, pode ir pra TV dizer que vai fazer uma audiência pública com ignorantes como nós (que nunca estudamos nem vírus, nem vacina e por isso mesmo somos ignorantes no assunto) para decidir se o Governo vai dar vacina contra COVID em crianças de 5 a 11 anos, em detrimento da opinião dos estudiosos, pesquisadores, cientistas, que dizem que é pra tomar. É mentira. Das sujas. Quando os bebês do mundo inteiro nascem, ninguém faz perguntas idiotas sobre vacina contra coqueluche, cachumba, paralisia infantil, tríplice ou qualquer uma delas – percebem? Nós acreditamos nos cientistas.
Em NÃO OLHE PRA CIMA o fato é outro, mas o uso político da mentira é exatamente o mesmo. Tem música religiosa apoiando a mentira, coro, repetição, repetição, repetição, mais mentiras para sustentar a mentira original, uso das redes sociais para crucificar os cientistas e sustentar a mentira, diante da verdade da ambição política. A cientista é “filha do demônio”, mas na verdade, se existem incautos ignorantes que acham que estão abafando ao xingar, ameaçar, bater, gritar – os maus políticos usam e pronto.
O filme, portanto, dá aulas intensivas de brasilidade e civismo, em 2 horas e vinte minutos de verdades absolutas. Aqui, me lembro da infectologista Luana Araújo que, na CPI da COVID, perdeu a paciência e mandou o político pular da “Terra plana”. Se na vida real, ela faz o papel da cientista com louvor, a quem você colocaria no lugar do político ambicioso, mesquinho, falsamente religioso, que usa símbolos religiosos e que mente não importa quantos morram, se ele tiver a oportunidade de “desviar alguma coisa pra si mesmo, sua região, seus coligados? Escolha. A porta está aberta e tem uma multidão se acotovelando pra passar por ela.
NÃO OLHE PRA CIMA é uma produção cara, cáustica, muito bem feita, que mistura linguagens de mídia com muita habilidade e que usa o trabalho do ator para, como poucos filmes, levar o espectador à loucura, impaciência e perplexidade. Paramos aqui, no trabalho do ator para ressaltar a beleza do que foi desenvolvido pelo diretor e roteirista Adam McKey e pelo resultado arrebatador no desempenho do elenco inteiro. In-tei-ro mesmo! Mark Rylance, que interpreta o dono da super empresa que “lembra, quem sabe, o FaceBook, a Microsoft ou...” está absoluta e “alegremente” inexpressivo, frio e calculista, num grande papel.
Adoraria dar spoiler, contar o filme inteiro, mas fico apenas no IMPERDÍVEL!
Um filme que vem para não deixar pedra sobre pedra, para destruir tudo o que você é induzido a acreditar todos os dias. De verdade. E este é o spoiler.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Meu Deus! Um filme de uma nova era. Aparentemente cômico, irônico, estranho, exagerado. Recheado de atores famosos, talentosos, experientes. O roteiro parece conter um surto do diretor. Pois tem tudo a ver com a realidade. E para quem vive nos Estados Unidos ou no Brasil, mais ainda.
Contêm todos os clichês, artimanhas, manias, ratoeiras, maldades, espertezas e hipnoses, sociais, económicas e políticas do mundo. É impressionante. Você se vê a sorrir ou a gargalhar pelo confronto assustador com a realidade, assim, de uma forma chocantemente aberta. Parece que decidiram abrir a caixa de pandora e mostrar ao comum dos mortais, aquilo que sempre souberam e escondiam, o que é degradante no ser humano, o que desconfiam, que criticam, que têm medo que aconteça ou que esteja a acontecer.
É imperdível, necessário e urgente ver o filme, ver com adolescentes, com idosos. Falar depois abertamente do que se pensa, dos medos, das soluções que cada um acha viáveis. E, principalmente, voltarmos a conversar sobre assuntos dos quais temos opiniões opostas. Como disse, conversar, não discutir ou brigar. Precisamos voltar ao lugar onde nos percebemos de novo como pessoas que habitam o mesmo lugar e que descobrir a saída para os problemas, é descobrir para todos.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Dois astrônomos de baixo nível devem fazer um tour gigante da mídia para alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que destruirá o planeta Terra.
Diretor: Adam McKay
Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep.
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt11286314/
Circuito de Cinema Saladearte – Salvador - BA
Vocês me convenceram! Imperdível!