Pode-se dizer que foi uma imersão. Num dia só, de uma vez só, todos os 13 episódios seguidos. Não é novidade eu ser carioca e morar aqui na Bahia há mais de 20 anos, mas o Rio está dentro de mim. Desde a bossa nova, que foi feita por baianos e cariocas, até as paisagens de tirar o fôlego, Salvador–Rio/ Rio-Salvador parecem ser o destino do meu coração.
Ver perto de 12 horas de histórias do Rio é encantador, mesmo que houvessem inúmeros atores paulistas – muito bem justificados na trama, aliás. Episódios melhores e piores, há uma conexão entre as linhas que percorrem a história e você acaba sendo enredado por elas. Algumas coisas eu tive que me acostumar. A comunidade, por exemplo - tão diferente da habitual, tão “espaçosa e organizada” que, lógico, só poderia ser cênica. Também a rua do Coisa Mais Linda nunca tinha passantes – na fala de Nelson Rodrigues – o mais carioca dos cariocas – sem transeuntes. E talvez a coisa que mais tenha incomodado foi a necessidade de preencher um espaço com sexo. Mesmo quando a história não pedia, lá estava ele. O sexo. Houve momentos em que o sexo apareceu durante 20 segundos das ultimas cenas – parecia que estava escrito e era obrigatório que sendo uma série brasileira, tinha que ter cenas de sexo. Parece que a nossa brasilidade está ali. Meio antigo isso.
Fora pequenos detalhes, a série envolve, pedagogicamente nos coloca diante de um machismo que não acabou e que precisa dar um passo a frente, evoluir pra talvez uma tentativa de amadurecimento social – porque passaram 70 anos e as mulheres continuam sendo assassinadas, agora acompanhadas de mulheres trans, travestis e gays masculinos. Ou seja: tudo o que parece com mulher, os homens atiram.
Vi, ainda ontem, um “senhor advogado” se ofender quando ouviu a verdade sobre coisas que ele disse que precisavam de orientação legal e que eu disse que estavam fora da lei, ouço as pessoas manobrarem diferentemente a sua percepção dos acontecimentos – o mundo evoluiu tecnologicamente, mas em termos sociais ficamos talvez mais hipócritas – de um jeito diferente – queimamos na fogueira do Facebook, mas desprezamos a verdade, se ela não nos contorna. Há a verdade e nós, que temos verdades particulares. Tudo isso é Rio bossa nova e é Brasil atual, mundo atual. Tem pandemia, mas eu quero ir pro Leblon! Quantos Leblons existem no mundo... Dá um pouco de desânimo ver que 70 anos em história e sociedade continuam valendo por 70 segundos. Mas com crime passional, justificativas chulas, absolvição por machismo na prática, lá está a história te envolvendo com boa música, muito ritmo, boas atuações, gente linda, talentosa, uma cidade incansavelmente charmosa e histórias humanas pra contar.
Adorei!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Elenco bonito, bem preparado, roteiro interessante e muito bem produzido. Uma grande produção. Até aqui já vale muito. Aí vem a parte sensacional - a série acontece no Rio de Janeiro. Aí quebra qualquer um. A cidade mais linda do mundo, numa época artisticamente e musicalmente rica. Não tem chance de não ver. Qualquer chance. E, pode correr o risco de querer ver os episódios todos de uma vez, pelo magnetismo da série, da história, da cultura, do lugar. Pode acontecer com qualquer um...
Uma história suave, com temáticas super atuais e necessárias, um charme de cidade, de figurino, de roteiro, de atores.
Algumas canções conhecidas e outras parecem ser originais, mas todas, lindas, lindas!
É uma série para maiores de 16 anos, mas não precisava. Bastava não colocar as cenas amorosas, que são profundamente dispensáveis. A intensidade seria outra com mais delicadeza e deixar a imaginação do público voar, em vez de colocar cenas de “cariz” quase “pornô”, sem objetivo, sem necessidade, sem charme.
A amizade é um dos temas fundamentais e é belo isso. Mulheres que as vidas aproximam e afastam dependendo dos momentos da vida de cada uma, mas que se gostam, que brigam, que trabalham juntas, ...que são verdadeiras amigas afinal. Umas enfrentam o machismo, defendem a igualdade entre pessoas, a igualdade de trabalhos, outras mantêm as aparências de casamentos absurdos. Sendo um filme light e “cor de rosa”, toma a decisão assertiva de nos mostrar o que pode acontecer em situações doentias que deixamos permanecer ou que não somos amigos ativos, vigilantes. Muito importante esta questão.
Nos lembra como é importante buscarmos a felicidade, mesmo que seja “em lugares” muito diferentes do que se espera ou do que é comum.
Novamente somos lembrados de como é difícil lutar contra os poderes instituídos, contra os “esquemas”, contra o racismo, ou ser mulher no mundo do trabalho.
Suave, sem muita profundidade intelectual, mas uma delícia de assistir para quem ama o Brasil e o Rio de Janeiro. O mundo inteiro!
Ana Santos, professora, jornalista
Série Netflix
Criação: Heather Roth, Giuliano Cedroni
Elenco: Maria Casadevall, Pathy de Jesus, Mel Lisboa, Larissa Nunes, Leandro Lima, Gustavo Machado, Ícaro Silva, Alexandre Cioletti, Alejandro Claveaux, Gustavo Vaz, Fernanda Vasconcellos.
Sinopse: No Rio de Janeiro, após o desaparecimento do marido, Maria Luiza abre um clube da Bossa Nova, desafiando seu comportamento normalmente conservador.
https://www.imdb.com/title/tt8001788/
https://www.netflix.com/title/80208298?jbv=81200204&jbp=4&jbr=1