
É preciso que filmes que incluam os velhos e suas perguntas e confissões passem a fazer parte do repertório de grandes distribuidoras porque nada é tão moderno quanto podermos falar acerca do que sentimos. Houve uma estranha mudança no eixo da sociedade: antes, ninguém tinha muito direito à experiência, muita virgindade e pouco sexo, vaginas como “escapes” para que os homens pudessem aliviar seus “espermatozoides”. Claro que eles com prazer e a geração antes da minha... nem soubesse bem o que deveria acontecer, afora os filhos, que saltavam de suas barrigas nove meses depois. Agora, se o sexo não fizer parte de uma “live”, se discussões sobre quem deveria ter feito o quê, onde e como não forem públicas, no primeiro desentendimento, você pode levar com uma ofensa daquelas pela frente.
Bem, a velha do filme vem dessa geração, logo antes da minha: aquela geração que achava tudo uma pouca vergonha, uma exibição e um oferecimento - “mente apertada” pelo machismo que de tão estrutural, era invisível. E Emma Thompson simplesmente arrasou. Daryl McCormack – um lindo, escultural e perfeito – conseguiu construir um “profissional do sexo” que colocou aquela sua impressão preconceituosa no ”fim da fila dos clichês”.
Que filme sensacional! O machismo, claro, em alta, com o marido morto da nossa velha “despejando esperma” nela por 31 anos – claro que sem nem pensar no seu orgasmo. Cá entre nós: nenhum. Zero.
E alguém vai pensar ou dizer: “E velha pensa em orgasmo?
Tantas questões foram colocadas ali, tantos preconceitos dela, problemas dele, segredos/sigilos profissionais e depois – a palavra, a libertação, as confissões, a leveza.
Dentro dessa sociedade onde o narcisismo impera, ver nus, sexualidade, sexo, sensualidade e carinho, além de enormes sinceridades é tão refrescante, que depois você tem vontade de cuspir naquelas fotos bobas do Instagram onde as vítimas da solidão do consumo gastam muitas vezes horas tentando mostrar a melhor comida - que eles não comeram porque esfriou.
Ah, você pode dizer michê, pode falar em prostituição, pode falar de velha assanhada. Mas veja o filme antes. Todos esses preconceitos cairão por terra e provavelmente pela primeira vez você verá sua mãe – talvez sua avó – com muito mais respeito. Afinal queimar soutiens, encarar o machismo, discutir o orgasmo, necessidades sexuais, suas frustrações e falar de gênero continuam sendo temas indissoluvelmente ligados à figura do gênero feminino. Vejam em família e dispostos a falar sobre sexo.
Vai ser sensacional, vocês vão ver.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Deve ser impressionante a percentagem de mulheres que nunca tiveram um orgasmo, não por problemas físicos ou problemas de saúde, mas porque nem sabem que existe, não sabem como é, como se constrói. Vivem vidas, durante décadas, subjugadas aos desejos dos maridos, maridos que também não se preocupam muito com o desejo ou satisfação sexual das esposas. O mundo masculino e machista em que vivemos. Claro que os homens não concordam com esta opinião ou com este facto. Eles vivem em outro mundo. Este filme mostra uma mulher que, quando viúva, decide que quer saber como são as coisas que ela ouve, mas que nunca experimentou. Poderíamos dizer que nem ela nem o marido experimentaram, mas claro que sabemos que isso não aconteceu assim – quase sempre o marido viveu experiências que a mulher não viveu. Muito poucas mulheres têm a coragem desta professora. Quem sabe este filme dá coragem às mulheres que vivem ou viveram situações parecidas?
O garoto de programa que ela contrata é perfeito: lindo, simpático, empático, generoso, etc, etc, etc. Talvez ela encontre finalmente o seu professor, que lhe pode ensinar a viver de uma forma mais leve e livre – os professores carregam um dever e obrigações morais por vezes demasiado exageradas, que os transformam em pessoas com vidas muito empobrecidas emocionalmente.
Um filme interessantíssimo, muito original, com dois excelentes atores. Perfeito para aconselhar a adolescentes e a adultos jovens – quem sabe se cuidam e cuidam melhor dos seus ou suas companheiras de vida. Mais perfeito ainda para adultos e idosos.
Veja o filme, converse com seus filhos, suas filhas. Estes assuntos precisam ser falados com mais naturalidade.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Nancy Stokes, uma viúva de 55 anos, anseia por alguma aventura, conexão humana e um pouco de sexo, um bom sexo.
Direção: Sophie Hyde
Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland
Trailer e Informações:
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