Que dor dá esse filme, principalmente porque você olha ao redor e vê que tudo pode voltar a ser o que foi, que o nosso cuidado precisa ser permanente. Como se constrói, de uma democracia, uma ditadura? Como se evolui, de uma ditadura, para o despotismo, tirania? Quem resolve que o povo A é inferior ao B? A sociedade dita civilizada é mais civilizada que uma aldeia indígena, por exemplo? O que significa ser indígena e ter que assumir que é pardo por falta de opções nos censos? O que é pardo? Inferior? Diferente? Estamos fazendo isso agora com todas as aldeias indígenas do Brasil.
A Rússia achou que a Lituânia poderia ser invadida, ter muitos assassinados, outros condenados a trabalhos forçados na Sibéria e depois Polo Norte. Lituanos eram inferiores? Indígenas são?
Para governos que se sentem megalomaníacos, um alerta: o tempo conspira sempre em prol da razão. Mas em 1941 poderíamos alegar atraso. Em 2021, só podemos alegar crueldade, indiferença e ignorância. Na Rússia, diríamos; ora os russos são assim. Mas no Brasil atual, se alegaria o quê? Ah, não ligue, nós é que somos selvagens ou “a nossa sociedade é diferente da deles”... Mas a nossa sociedade está dizimando a deles!
É importante sentir o incômodo. É importante sentir a vergonha. Isso não pode continuar a acontecer no mundo. Um político não pode mais – para facilitar sua própria eleição – entregar a presidência da Câmara dos Deputados para compadres do mal – e fingir que ninguém viu.
A crueldade te ensina a atirar, a necessidade de sobreviver te ajuda a atirar na cabeça, na cabeça ninguém sofre, atire você na cabeça, falando baixinho pode atirar na cabeça, se você estiver entre os 10 mais ricos, pode mandar atirar na cabeça e ninguém vai te pegar...
Lituânia, 1941. Muito diferente de Brasil 2021? Muito diferente da forma como se tratam os refugiados?
Uma artista, que pintou mentalmente todas as cenas, que as eternizou e que sobreviveu para as pintar. Um soldado que aprendeu a atirar na cabeça, mandou atirar nas cabeças de seus prisioneiros e depois se suicidou – porque se a culpa não pega você aqui, pegará em outra vida. Porque somos todos finitos e uma roupa não transforma a sua alma, não a faz evoluir. De alma somos nus – nós e as nossas culpas. Senhor político, qual é a sua culpa? Senhor presidente, qual é o seu medo? Porque os medos dos pequenos são difíceis de transpor dia a dia, mas suas mentes estão livres.
Que atriz, que interpretação, que silêncios, olhares, que sentimentos não falados...
Senhores poderosos, quantas santas terão de ungir para serem considerados limpos diante do céu? Quanto de sofrimento se conseguirá admitir por encarnação? Quantos você matou, ao comprar facilidades? Quantos você sequelou?
Ver o filme é se ver – você se absolve ou condena? De que lado você está, afinal?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme lindo sobre percursos de vida muito difíceis, sobre o amor entre pessoas, sobre perda, sobre sobrevivência, sobre ver sempre algo animador, mesmo nas tragédias. Baseado numa história verídica, em 1941, na Sibéria. Emocionante e belo.
Trilha sonora belíssima.
Algumas mensagens que ouvimos na vida, só damos a verdadeira importância muitos anos depois. Mensagens importantes que podem ser escritas, faladas, sentidas, observadas. Que ficam anos incubadas, esquecidas. Nos salvam, anos depois.
O talento é amar algo e querer repetir e repetir. Nunca pensar no cansaço. Sentir-se capaz, realizado, ao fazê-lo. Seja no que for. Se alguém, que tem importância na nossa vida, acredita nesse nosso talento, nosso caminho pode ser ainda mais longo, estável e produtivo. Neste filme isso é muito marcado e por isso o filme se torna ainda mais necessário de ser visto. De ser divulgado nas escolas, nas universidades para que os alunos percebam, apesar das circunstâncias difíceis de cada um, como é sempre possível desenvolver os talentos.
Usar o nosso talento para ajudar os outros, para melhorar o mundo, para resolver problemas. Sim, devemos utilizá-lo também para sobreviver. Claro!!! Mas não para explorar os outros ou querer ser famoso e rico. Por favor, não!!!
Não temos controle sobre o nosso futuro. Muito menos quando os líderes são seres sem alma. Julgo que precisamos olhar bem à nossa volta e não adormecer no que parece que está mais ou menos e no que achamos que nunca vai acontecer. Criticar também não chega. Talvez escolher melhor, prestando atenção à coerência nas decisões e caminhos dos que pretendem liderar. E é muito fácil perceber, porque os líderes ficam vaidosos e expõem as suas misérias, pela fala, pelas ações, pela ganância, pela inveja, pelos inúmeros preconceitos. Também não quer dizer que qualquer outro seja melhor. Quer dizer que quem esteve e errou talvez não sirva, quer dizer que quem está errando talvez não sirva, quer dizer que é necessário modificar, procurar, encontrar outras saídas. Atenção ao caminho. Atenção às escolhas. O nosso futuro depende disso. O nosso, de todos no mundo. Afinal, estamos todos no mesmo lugar. Algum dia mostraremos que somos seres inteligentes e humanos no mundo que escolhemos líderes que não colocam este nível de sofrimento nos outros...espero eu...
Tente ver o filme. Intenso. Sensível. Vai amar.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
Sinopse: Em 1941, uma aspirante a artista de 16 anos e sua família são deportadas para a Sibéria em meio ao desmantelamento brutal da região do Báltico por Stalin. A paixão de uma garota pela arte e sua esperança sem fim quebrarão o silêncio da história.
Diretor: Marius A. Markevicius
Elenco: Bel Powley, Lisa Loven Kongsli, Martin Wallström.
Link do IMDB
https://www.imdb.com/title/tt3759298/
Link do trailer