Assim, de cara, achei que a cena 1, com a coisa de filme de ação era meio ruim e que não ia gostar de nada. Como se estivesse no filme errado, tipo ir ver Julia Roberts e “cair” no Velozes e Furiosos. Mas isso durou 1 minuto apenas. Porque, em seguida, fui arremessada para aquela mesma sensação de amor receptivo que senti com Uma Linda Mulher.
O que se fala num filme de amor? Que havia senhoras de 70 anos suspirando ao meu lado, por ex. Que o mundo fica pior sem eles, sem dúvida. Que vale demais à pena sair do cinema com o coração limpo, num momento onde tudo o que queremos parece estar meio fora de alcance.
O casal francês é lindo, numa ficção sem nenhum outro compromisso que não seja a de apontar que tudo poderia ser melhor se as pessoas fossem dedicadas à construção do amor. Também que a vaidade é irmã do egoísmo e que a rotina pode ou não afastar as pessoas e que nós podemos escolher entre sorrir ou ficar de saco de cheio, ser presente na vida de quem importa ou só nos importarmos com a nossa vida. Parecem escolhas que nascem feitas, mas não – a maior parte das pessoas escolhe que o mundo é que lhes deve pagar alguma coisa. Sempre. Não há pessoas no mundo, portanto – há espelhos que refletem apenas cada pessoa. Quantas relações suportam tanto distanciamento? Pois é – eu também vi que são cada vez menos.
Portanto, em Amor à Segunda Vista, vale sentar no cinema e sonhar que podemos voltar a ser mais generosos, sem precisar de Einstein, de manobras espetaculares, do espaço/tempo, da ficção. Nós podemos apenas exercer a generosidade que temos com as pessoas – e podemos começar a treinar com as que amamos, por que não?
A beleza das paisagens francesas, a visão tão clara da mudança do comportamento egoísta para o generoso, o amor amadurecendo – a vida poderia ser um pouco mais clara às vezes...
Saí melhor do cinema – mais feliz – os olhos agarrados ao meu amor. Vale à pena ver, com certeza!
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
Um filme aparentemente simples e banal, com um bom roteiro e bons atores. Aparentemente. E se torna um filme emocionante e original. Adorei. Chorei.
Acho que cada pessoa sai deste filme com uma interpretação diferente. E isso já torna o filme especial. Mistura realidade e o mundo sensorial o que é maravilhoso e perturbador. Por que chacoalha pensamentos e certezas, sensações e o imaginário de cada um.
O filme nos diz que a vida é mais do que o que vemos. A sintonia entre as pessoas, os momentos preciosos da vida, são dois exemplos de como é importante na nossa felicidade também vivermos de forma proprioceptiva e sensorial. Nos lembra a importância das ações com os que amamos. Nos alerta para o perigo da vaidade e do sucesso, na procura da felicidade na vida. Nos lembra também que amar não é deixar de perseguir nossos sonhos para que os outros o possam fazer. Amar é todos poderem fazê-lo. Se a paixão de um é escrever e a do outro é o piano, cada um deve seguir seu destino, seu desejo, deve aceitar o chamamento da vida e ir. E podem ter uma vida juntos. E devem. Uma coisa não invalida a outra. Não é necessário uma pessoa se anular para a outra vibrar. Isso é muito errado. Pouco saudável.
Camarga, um lugar lindo a conhecer em França. Existem cada vez menos lugares assim, selvagens, puros e tranquilizantes. Pensar que o mundo era um lugar assim...
Não percam o filme.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt8265928/
Circuito Saladearte: