Qual é mesmo a cronologia do amor? Porque nada parece estar arrumado numa ordem de alguma maneira aristotélica, quando nossos olhos se ausentam e vemos nossas inúmeras formas de amar.
ADORÁVEIS MULHERES é apenas um filme que aponta para o amor, a sua forma e o seu estranho e caprichoso tempo de desenvolvimento e memória. Quando amamos, qual é o tempo da perda e quais são os tipos de perda? Há a perda da morte e o nosso coração esfria, rasga, olha para o tempo das recordações para nos fazer sorrir ao dar as mãos à saudade. Há um amor que nunca se perde nessa perda porque envolve uma genética familiar, acho. Mães, irmãs... como era quando minha irmã duvidava de mim até que eu lhe desse umas cacetadas? Como era quando alguém ousava olhar torto para alguma delas?
Para algumas pessoas, essas que veem com naturalidade o preconceito e a falta de afetuosidade de alguns amores, o filme é parado porque o que acontece, tudo o que acontece, acontece no estranho tempo do amor. O perdão, a perda, a dúvida, a negação. E a alegria extrema, a gargalhada, a generosidade. Para elas, certamente o filme é xarope.
A beleza que vemos na tela, está no fato de termos diante de nós atores que entenderam a fusão entre os tempos cronológicos e o desprezam, o ignoram mesmo para nos mostrar que a imaginação, a criação, a saudade, a ficção e a narração fazem parte das histórias de amor – mesmo aquelas onde os Romeus não morrem; onde sequer existem. E ainda assim as perdas se sucedem, como na nossa vida e a dos nossos afetos. Meu amor estudava em cima das árvores, eu precisava “testar” todas as ferramentas e equipamentos que existiam na casa da minha avó, eu e meu amor nos encontramos sem pensar no amor, até que nos olhamos profundamente, dividindo um acarajé.
Quatro irmãs no filme, três na minha vida real, cinco na vida do meu amor. E todos competiram entre si e dividiram momentos. A beleza do filme é que a gente percebe desde o início que a cronologia exata das coisas só importa se a narração for desprovida de amor – o que não é o caso nem do filme, nem da vida real. São tantas histórias que contamos... O Bug nasceu de um amor, a vida está recheada deles, a ficção os enumera de diferentes formas...
Ver ADORÁVEIS MULHERES é tudo isso ou apenas isso. O público vai decidir. Eu saí de lá em êxtase e indico o filme. Há uma generosidade na vida real em ver Meryl Streep fazendo apenas uma aparição apesar de ser a atriz que é, tanto quanto somos figurantes de nossa própria obra de amor em tantos momentos da vida.
Vale a experiência.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Podia falar que o filme é um pouco confuso no início e com diálogos iniciais que se sobrepõem. Que fico sem saber para onde me leva.
Tem imensos atores e atrizes famosos, talentosos e experientes.
Podia falar que o filme mostra o quanto o amor se mostra na bondade. Apenas bondade, sem retribuições ou necessidades de “pagamento” ou de dívida ou de agradecimento. Ajudar quem precisa.
Um filme que não devem perder para que todos lembrem o quanto a bondade salva. O quanto o amor salva. Quem diz que ama mas não é bondoso, não ama. Sente outras coisas, mas não amor. A bondade é querer genuinamente contribuir para o bem estar e felicidade dos outros. Dar o seu café da manhã/pequeno-almoço. Depois, o mundo parece funcionar em ondas porque quem vê esse gesto, e é bondoso, ajuda quem ajudou. E se constrói uma cadeia de movimentos bondosos e de união. Ter nascido e ter sido educado em famílias que ajudam, que são bondosas, não é para todos. Infelizmente. E isso precisa ser mudado. Que não têm segundas intenções, que apenas se sentem bem ajudando, partilhando, contribuindo. Isso faz muita diferença na vida das pessoas. Como faz diferença existirem pessoas nas famílias que pensam apenas em si, que usam os elementos da família para seus interesses pessoais, que não são bondosas, mesmo que sejam limpas, bonitas, simpáticas e empreendedoras. Que tenham o peso certo, que façam todas as maratonas e que sejam muito cultas. As pessoas precisam de ter muita sorte e se dedicarem para não terem pessoas assim na sua família, nos seus amigos, com quem trabalham. Precisam investir nisso. Em se dedicar a quem é bondoso consigo. E alegremente se afastar de quem não é assim. E ser forte, persistente. Se preparar para os embates que serão muitos. Mas que valem a pena. Suas escolhas farão o paraíso ou um mundo aparentemente belo mas podre por dentro. Que te vai atingir mais tarde ou mais cedo. Não avalie as pessoas por fora, pela aparência. Avalie pelas ações. Se cuide.
O filme também nos lembra o infeliz hábito que a sociedade ensina de dizer e fazer o que os outros querem ouvir ou que achamos que querem e não o que realmente sentimos e pensamos. Isto causa muitos dissabores. A todos. Em crianças aprendemos a importância de ser sincero, verdadeiro, mas com os anos deixamos de ter essa coragem e aprendemos a viver escondidos no que devemos dizer, ser, fazer, pensar e deixamos de ser quem somos. Cuidado para não nos perdermos dentro de nós e no final da nossa vida percebermos que devíamos ter feito tanta coisa diferente. Acordem. É sempre tempo. Não existem modelos para seguir ou imitar. Existe uma vida para ser vivida com verdade e inteira. Não pense nos outros que só olham e falam. Pense em você e nos que pode ajudar. Seja bondoso sempre.
O filme nos mostra como são privilegiados os que têm e cuidam irmãos, amigos, vivem infâncias ricas, relacionamentos diversificados com muita gente à sua volta na vida. Aprecie cada segundo.
Os sonhos são para perseguir e nunca desistir. Nunca se esqueça disso. No sonho mais bobo para os outros, está o seu maior feito na vida. Uma mulher naquela época querer escrever livros era um sonho bobo. Para os outros. Um menino rico sem objetivos na vida, fez todos felizes à sua volta. Mesmo parecendo bobinho. Para os outros. Uma menina da aldeia escreve no seu diário, cheia de vergonha, o seu sonho bobo – ir aos Jogos Olímpicos um dia. Num lugar onde não se ia muito longe em nada. Chega a rasgar a folha por medo de descobrirem o sonho bobo. Mas dentro dela tenta sempre e o universo resolve conspirar a seu favor. E o sonho se realiza. Nunca desista. Nunca desista de você.
Nem sempre a vida acontece como desejamos. E por vezes as surpresas são impensáveis e muito difíceis. Mas mesmo aí precisamos procurar a forma de ajudarmos, de sermos bondosos.
Veja o filme e se inspire, se melhore e nunca desista. Coisas boas também acontecem quando mantemos os sonhos em nós.
Obrigada “Adoráveis Mulheres”.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt3281548/
Site Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha
http://www.itaucinemas.com.br/filmes/
Circuito de Cinema Saladearte
Amei! Fiquei inspirada por essas críticas e quero ver.