Já vimos tantos filmes sobre perdas na vida - mas não como esse. Em A SAUDADE QUE FICA, as separações nos são apontadas de um ponto de vista tão diferente que só isso – não fosse a qualidade da história – já valeria assistir o filme.
O que acontece quando seu espírito fica livre do corpo por morte ou coma? Eu mesma, que já trabalhei por anos em hospitais, me fiz essa pergunta uma centena de vezes. O que podemos fazer, o que queremos fazer e não tivemos tempo, o que cremos estar acontecendo, está acontecendo mesmo?
Em A SAUDADE QUE FICA, essa é a abordagem, mas não tem nada de espíritos volitando pelo ar: a gente vai se apercebendo do estado deles, de sua relação uns com os outros, com os vivos, os parentes aos poucos, e o enredo da história só se fecha totalmente na sua cabeça no final do filme. É suave, em sendo dramático; é delicado, em sendo intenso.
Personagens muito bem construídos, com buscas que independem de se estar vivo ou morto, me deixam a sensação de que as perguntas nos seguem na vida, assim como nos seguirão após a morte, o que nos igualaria enquanto seres. Com tantos maus sobre a Terra, atualmente, vê-los tendo que arcar com muitas perguntas é um prazer.
Não percam, não deixem de ver. Creio que ver em família é uma coisa que deve ser relevada porque é um bom momento pra se aprofundar um pouco sobre sentimentos e buscas. O que você veio fazer pelo mundo nessa vida?
Certamente o coração de todos ficará mais leve ao final. Sem religião, mas com espiritualidade.
Valerá a pena.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme japonês que nos fala da morte, que nos fala do que deixamos por fazer quando nos vamos. O povo japonês é um exemplo em muitas coisas. A forma inigualável como lidaram com a morte e destruição das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a forma como lidam com eventos ambientais que destroem suas vidas num ápice – e que o resto do mundo está começando a sentir também, vejam o Rio Grande do Sul aqui no Brasil por exemplo. Um povo que devia ser ouvido, seguido.
O filme sugere que quando morremos de forma violenta ou súbita, ficamos numa espécie de limbo da vida – uma vida paralela à vida que deixamos. Como se ficássemos num lugar onde precisamos enfrentar e resolver alguns assuntos importantes. Temos possibilidade de visitar a vida, mas não somos notados, não podemos agir sobre.
Veja o filme, independentemente da sua religião e do que pensa sobre a morte. Este filme nos provoca alguns exercícios que são muito importantes, doces e regeneradores – emocionalmente falando. Emocionante, inquietante.
Excelentes atores. Um filme que “conversa” com a nossa maturidade emocional e pessoal. Que nos impacta mais ainda quando já temos na nossa conta a morte de pessoas que amamos muito.
Vivemos como se fossemos apenas seres vivos, com um corpo que vai se degradando, envelhecendo, avariando e um dia deixa de funcionar. Mas somos mais do que isso. Bem mais. E é uma pena quando só percebemos isso no final.
Não perca...e aproveite o filme para conversar com as pessoas da sua família que já estão velhinhas ou doentes sobre o sentido da vida, sobre o que precisa ser perdoado, o que ainda gostavam de fazer. Este filme pode ser uma ajuda para grandes passos nesta existência. Boa sorte.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Após uma calamidade devastadora, uma mãe procura pelo filho desaparecido. Até descobrir que ela está morta e presa em um reino de espíritos pertubadores.
Direção: Michihito Fujii
Elenco: Masami Nagasawa, Kentarô Sakaguchi, Ryûsei Yokohama.
Trailer e informações: