Engraçado que ao assistir, custamos a acreditar que o filme já tem alguns anos porque parece que foi feito para que o Brasil pare e pense; para que os brasileiros se revejam, se “re-conheçam” e revisem o que nos levou ao 8 de janeiro passado – o dia da infâmia.
As mães da Praça de Maio são como uma instituição na Argentina até hoje – estavam lá quando o Presidente esteve em visita oficial, ainda no mês de fevereiro. Aconteceram tantas coisas de janeiro até hoje, que ver o filme me confundiu as emoções, já que muitas vezes o amor é tanto que vira coragem, enfrentamento, busca, renúncia, compaixão, despedida. Sim, o filme usa como pano de fundo a ditadura na Argentina, a tortura, a morte de mães, o roubo de crianças recém-nascidas, dando-as para a adoção da família dos golpistas, torturadores, filhos da ditadura, aproveitadores dos sistemas de força, abusadores da liberdade.
O trabalho dos atores é resumido em: PRIMOROSO. Não apenas a protagonista, Norma Aleandro; todo o elenco, 100%. Cada detalhe da construção das personagens foi desenvolvido, tudo muito minimalista, quase suave – o que dava à impaciência da personagem de Héctor Alterio um contorno de superioridade difícil de engolir e que constrói o final, dentro de nós.
Se a sutileza é a marca da força da atuação do elenco, a fofura, o talento, a competência da menina Analia Castro valeria um texto à parte. Poucas crianças conseguem tanto e ela conseguiu tudo.
Direção hábil, denunciando claramente tudo o que vimos na tentativa de desenho de golpe que tivemos há poucos meses, aqui mesmo, na nossa casa. A manipulação da informação, a fuga dos fatos, a ideia estereotipada de superioridade – tudo estava ali.
Como uma aula particular – mais uma – o filme declara, aponta e desenha do que escapamos e a vergonha que precisa alcançar a emoção dos que acham normal espancar jornalistas, mulheres, LGBTQIA+ apenas por serem quem são - com a autonomia a qual todos temos direito.
O filme me flagelou, atingiu-me em cheio. Creio que nesse momento da nossa história ele precisa ser visto, considerado e homenageado porque nada – NADA – pode ameaçar as democracias – principalmente “as histórias oficiais”.
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Pense num filme obrigatório. Este é um deles. Se se considera uma pessoa informada, mais obrigatório ainda. Provavelmente não verá nenhuma novidade, pois é uma história muito famosa e conhecida, mas é uma obra prima que nos toca profundamente e que devemos assistir. Os horrores das ditaduras, muito semelhantes, atingem as pessoas, seus familiares, a sociedade, no meio do coração. Para sempre tudo fica diferente, para sempre nada será mais do mesmo jeito e mesmo para os torturadores, mesmo para os favorecidos, mesmo para os que lideraram, lideram. A ditadura da Argentina e as Mães da Praça de Maio. Um dor eterna e tão funda.
Uma hora e meia que te cola à cadeira do princípio ao fim.
Todos excelentes atores, excelente roteiro, excelente direção. Preciso salientar Norma Aleandro, é uma atriz soberba. A marcação das palavras, mas principalmente as suas expressões faciais, seus olhares, suas mudanças de comportamento, seus detalhes. E Analia Castro, tão nova, sendo Gaby, que menina incrível, que atriz. Fiquei impressionada.
Filmes deste tipo precisam ser feitos e apoiados permanentemente, para que a verdadeira história, ou pelo menos a mais próxima da verdade, seja preservada. E precisam ser vistos, divulgados, conversados, ensinados aos mais jovens, para evitarmos esta escalada absurda de extrema direita cega e lamentável. As informações fundamentais precisam chegar a todas as pessoas, precisam ser preocupações do mundo do marketing, dos influencers digitais. Não podemos continuar a descer a ladeira do vazio e da banalidade sob pena de pagarmos extremamente caro por isso.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Durante os últimos meses da ditadura militar argentina em 1983, um professor do ensino médio tenta descobrir quem é a mãe de sua filha adotiva.
Direção: Luis Puenzo
Elenco: Norma Aleandro, Héctor Alterio, Chunchuna Villafane, Analia Castro.
Trailer e informações: