É uma reportagem policial, dessas que passam na TV fechada e que muito mais nos chamou a atenção por contar a história de uma campeã de ciclismo, do que propriamente por tratar de um crime – afinal, o Brasil é cheio deles e já nos acostumamos.
O que mais me chamou a atenção foi exatamente o que não foi dito em nenhum momento: como a inveja corrói a mente de alguém, até que ele se transforme em um assassino? E como, uma mente inteligente, capaz de escapar de país e da polícia, se deixou levar por sentimentos tão torpes pelo simples fato de se admitir de alguma forma inferior ao invejado?
A reportagem não traz nada de novo em termos de montagem ou edição, é apenas detalhada, mas talvez pelo fato de não estar pulverizada em 2 minutos de matéria, num jornal noturno qualquer, conseguiu me conduzir a essa projeção, que talvez contribua para que pensemos no que estamos fazendo socialmente. Não ensinamos ninguém a perder. Não ensinamos ninguém a sobreviver ao luto, à frustação ou perdas. Nossos cursos formam apenas “campeões” – mas a vida não é assim. Ao contrário: a vida real é cheia de perdas, lutas, problemas pra os quais deveríamos ser preparados desde crianças.
Assim, a atual namorada se sente em perigo diante de uma campeã em ascensão e sua maneira de resolver a questão é assassinar aquela a quem supõe estar paquerando seu namorado. Simples assim. Como num game onde você aperta o botão e ganha uma vida. Ela apertou o gatilho e tirou a vida.
Você se sentiu culpado? Nem ela. Você estava pelo menos apaixonada pelo seu namorado, sofreu, o procurou para falar alguma coisa? Nem ela. Apenas matou a fonte de frustração e seguiu a vida.
Sabendo que existem mil reportagens como essa, como devemos nos sentir por não estarmos falando sobre a importância de saber, de aprender a perder desde o nosso desenvolvimento mais tenro, dentro de casa? Ah, em tempo: como o marketing acredita que perder dá prejuízo, não espere que seu filho, seu amigo, seu vizinho, consiga um tutorial sobre o assunto no YouTube.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma pessoa que tenta fazer o seu caminho de forma inteira e sem medos, por vezes não atrai só coisas boas. Infelizmente. Esta mulher, com familiares atletas, com paixão pelo esporte, pela atividade física, com desejos saudáveis, com um curso de Engenharia, podia ter sido a melhor do mundo na sua especialidade esportiva. Estava nesse caminho, estava impressionando os amigos, a família, o mundo. A infelicidade de se ter cruzado com uma outra mulher, também linda, também talentosa, mas desiquilibrada, sociopata, psicopata, sem escrúpulos e com um ciúme cego, impediu a continuação de uma vida linda.
Bem recente, bem atual. Julgo que precisamos ter cuidados acrescidos em relação às pessoas, com toda a certeza em relação a algumas delas que aparentemente parecem perfeitas. Esta mulher – assassina - é linda, atleta, especialista em Yoga, vivia uma vida de nômada digital antes da pandemia. A gente fica sem saber se uma pessoa assim era maravilhosa e desandou porque teve de parar num lugar, ou se já fazia coisas erradas só que nunca era descoberta. Sei que este tipo de acontecimento horroroso, trágico, nos deve estimular a aumentar nossos cuidados. Mesmo quando as pessoas parecem intocáveis.
Vemos investigadores policiais que não desistem, que procuram para além do óbvio. Quem sabe se esta forma dedicada de investigar não poderia resolver tantos e tantos casos que não têm ainda solução.
Assista se puder. É importante sabermos a realidade que nos rodeia.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Uma jovem atleta promissora é assassinada. Seu suposto assassino desaparece e uma caçada humana internacional pelos US Marshals começa.
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