Outro filme “by quarentena” e meio antiguinho – 2016 – mas imperdível. Principalmente num momento tão “colapsante” no mundo, onde estamos diante do fato indiscutível que podemos morrer a qualquer momento, 100 METROS é a força da resistência diante do imponderável – e a vida é o exercício do imponderável e nos esquecemos disso.
De uma maneira bem simples, nossos neurônios “fabricam uma capa” para que seus “fios” não fiquem desencapados – a bainha de mielina. A esclerose múltipla é uma doença provavelmente autoimune, onde o nosso sistema imunológico confunde a bainha de mielina com um invasor e a tenta agredir. Não há uma causa definida, não há uma idade, não há uma função profissional que estimule sua aparição; é a ação do imponderável, diante dos nossos olhos, na maior parte das vezes, no auge do nosso vigor.
No filme, o imponderável acontece e a definição de esclerose múltipla passa finalmente a ser para nós a percepção do sofrimento que causa, das perdas envolvidas e da importância do amor. Também não de qualquer tipo de amor, mas daquele tipo que estimula e desafia; que empurra, mas dá segurança. O resultado prático é que você fica estatelada em frente à TV, vivendo aquele momento, sofrendo e torcendo para que tudo dê certo e se consiga vencer aquele embate com a doença, pelo menos até o próximo surto. Isso se deve muito ao fato das interpretações serem muito boas, super naturais e da interação entre os atores ser perfeita, mesclando temperamentos explosivos (tenho um amigo em Sevilla exatamente com o mesmo temperamento, inclusive), à uma enorme dedicação e disciplina. Uma aula.
O final é incrível, quanto mais pensamos que tudo aquilo aconteceu de verdade, misturando takes de ficção com a vida real. Chora-se bastante também, é bom lembrar. Mas é tão bom se ver vivo e capaz de lutar só por saber que aquele personagem é uma pessoa real...
Não esqueça de levar pelo menos um pouco de papel para o nariz, mas não perca esse filme – ele vai fazer falta na sua vida, eu garanto!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma história de vida sobre uma pessoa com Esclerose Múltipla. Muito emocionante, muito triste, mas muito estimulante.
Pensei em não fazer a crítica a este filme. O que eu poderei dizer de uma doença que duas pessoas que amo demais, da minha intimidade, carregam na sua vida? Tenho até vergonha de dizer algo porque eu vejo o que vivem, o que sofrem, o que perderam. Têm muito mais sofrimento e dureza, mas que não mostram. Duas pessoas fortes, resistentes, corajosas que vivem um mundo muito diferente, cheio de travessias e surpresas. Que vivem a vida real, 24 horas.
O filme fala de amor à vida, aos amores, aos filhos, aos amigos, aos sonhos. Todas as vidas são especiais. Todas as pessoas guardam em algum lugar a sua bondade. Umas têm muita coisa por cima, mas a sua bondade lá está. Bem no fundo, mas existe. O sogro representa um pouco essas pessoas que ficam amargas e rezingonas por causa da dor que a vida lhes causou. Mas, devagar, a bondade vai saindo e trazendo de novo um olhar mais luminoso sobre os dias e o futuro. A esposa, alguém que ama, aconteça o que aconteça. Um exemplo.
O filme informa de uma forma suave as pessoas que não sabem nada da doença. É importante que vejam. Mesmo que saiba alguma coisa, ficará a saber mais um pouco. O filme ainda aumentou mais a admiração e respeito que tenho por essas duas pessoas. Gostava que partilhassem mais o que sofrem e vivem, porque lhes faria bem e nós poderíamos dar mais apoio, mas sei que são assim. Pessoas caladas e resistentes.
Deixa uma mensagem poderosa. Sem saber, muitas vezes somos os ídolos dos outros, o exemplo, os que conseguimos algo que desperta a coragem das outras pessoas. Lembre disso sempre que enfrentar uma dificuldade, sempre que achar que os outros não vêm a sua coragem.
A trilha sonora/banda sonora é linda. Para minha grande e feliz surpresa, é de Rodrigo Leão, um dos compositores portugueses mais talentosos da atualidade. Maria de Medeiros, atriz portuguesa de renome internacional, faz uma personagem muito engraçada mas também muito doce. Algo me diz que as participações dos dois portugueses foi mais humana do que financeira...
Por favor, não percam.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt5089786/
Diretor: Marcel Barrena
Elenco: Dani Rovira, Karra Elejalde, Alexandra Jiménez
Sinopse: Um homem diagnosticado com esclerose múltipla questiona as limitações do seu corpo e, com a ajuda do sogro, treina para uma prova de Ironman.
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Circuito de Cinema Saladearte
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha