Nós os que estamos melhores, pensamos nos que sofrem. Desejamos que tudo termine. Que possam sentir nossa empatia, nossos desejos, nosso carinho e preocupação. E nos perdoem por nem imaginarmos o que vivem neste momento.
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Poemas aos homens do nosso tempo”
“Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.”
Hilda Hilst
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
"Os dias abandonam-se vagarosos
Espiando as velas perdidas no mar,
Sem nome, nem medos, nem porto,
Embarcando sempre ao longe,
Recusando palavras ou atenções,
Temendo acordar febris e adormecer
Sabendo por quem chamar.
Nada mais se ouve.
Estico os pés sobre a água,
A beira-mar limpando a saliva e a espuma das pedras,
E esqueço-me da certeza do regresso, da sorte
Dos enganos que não revelo serem meus."
Daniel Costa-Lourenço
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