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Poesia do Vocabulário

Tantas formas de dizer a mesma coisa
Tantas formas diferentes de se dizer
Tanto a dizer
Tantas palavras
Cada dia, adquirir mais palavras
De mais dizer
De melhor dizer
De melhor ser
“Os modelos”
“Não esqueçamos nunca — disse — as boas lições, aquelas
da arte dos Gregos. Sempre o celeste lado a lado
com o cotidiano. Ao lado do homem, o animal e a coisa —
uma pulseira no braço da deusa nua; uma flor
caída no chão.
Recordai as formosas representações
nos nossos vasos de barro — os deuses com pássaros
e com outros animais,
juntamente com a lira, um martelo, uma maçã, a arca, as tenazes;
ah!, e aquele poema em que o deus, ao terminar o trabalho,
retira o fole de perto do fogo, recolhe uma a uma as ferramentas
dentro da arca de prata; depois, com uma esponja, limpa
o rosto, as mãos, o pescoço nervudo, o peito peludo.
Assim, limpo, bem arranjado, sai à tardinha, apoiado
nos ombros de efebos de ouro — trabalhos de suas mãos
que têm força, e pensamento, e voz; sai para a rua,
mais magnífico que todos, o deu coxo, o deus operário.”
Yannis Ritsos
“Escárnio Perfumado”
“Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas – isso dói, me aflige…
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme…”
Cruz e Sousa (1861-1898)
Poeta considerado como a maior expressão poética do Simbolismo