“Nada duas vezes”
“Nada acontece duas vezes
nem acontecerá. Eis nossa sina.
Nascemos sem prática
e morremos sem rotina.
Mesmo sendo os piores alunos
na escola deste mundão,
nunca vamos repetir
nenhum inverno nem verão.
Nem um dia se repete,
não há duas noites iguais,
dois beijos não são idênticos,
nem dois olhares tais quais.
Ontem quando alguém falou
o teu nome junto a mim
foi como se pela janela aberta
caísse uma rosa do jardim.
Hoje que estamos juntos,
o nosso caso não medra.
Rosa? Como é uma rosa?
É uma flor ou é uma pedra?
Por que você tem, má hora,
que trazer consigo a incerteza?
Você vem – mas vai passar.
Você passa – eis a beleza.
Sorridentes, abraçados
tentaremos viver sem mágoa,
mesmo sendo diferentes
como duas gotas d’água.”
Wislawa Szymborska
Escritora polonesa ganhadora do Prémio Nobel de literatura em 1996. Poeta, crítica literária e tradutora.
“3”
“Minha boca paira sobre seus seios
na tarde curta e cinzenta de inverno
nessa cama somos delicadas
e duras quentes de entusiasmo maravilhadas
duras e delicadas nós brincamos de anéis
entrelaçadas nossa vela diurna queima
com sua luz peculiar e se a neve
começar a cair lá fora preenchendo os ramos
e se a noite cair sem anúncio
esses são os prazeres do inverno
repentino, selvagem e delicado seus dedos
exatos minha língua exata no mesmo momento
parando para rir de uma brincadeira
meu amor quente com seu cheiro no auge do inverno”
Adrienne Rich
Feminista, poeta, professora e escritora dos Estados Unidos
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