“O FLAUTISTA DE HAMELIN E A POLARIZAÇÃO” Bug Sociedade
Será que estou sozinha no momento: “já me enchi dessa polarização”? Quem é de ultra direita acredita mesmo que, ao invés de um plano de governo, de um planejamento de ideias para novos projetos, vamos mesmo engolir coisas que nunca serão votadas em nível municipal como aborto e lei antidrogas? Será que tem ainda quem não tenha uma “leve desconfiança” pelo menos de que esse tipo de lei é do tipo nacional?
É, cara pálida...
Meu ex-chefe na universidade – um grande amigo - virou praticamente um inimigo. O que eu fiz pra ele? Sou a favor das vacinas, lamento a morte inútil de 700 mil brasileiros, odeio as leis antinatureza e armamentistas que esse Congresso insiste em ousar aprovar, me sinto perplexa diante da falta de pudor desses deputados e senadores que legislam em causa própria para fugirem da lei. Isso sem contar com a palhaçada que é ter que ouvir aquele bando de homens infelizes discutirem se posso ou não posso fazer xixi no mesmo banheiro de uma mulher – mulher trans é mulher também, seus tapados! Mal posso acreditar que estas pessoas sejam minhas funcionárias, juro... Jamais eles teriam um emprego na vida real de nenhum de seus milhões de fãs. Quem quer um funcionário como Marçal – que discorda de qualquer coisa apenas porque ela existe? Que certamente teria grandes dificuldades em obedecer às normas da empresa e que poderia provocar seus colegas até que a coisa virasse briga de cadeirada? Como empresário, quem daria emprego a uma pessoa provocativa assim? No entanto, ele tem fãs. E seus fãs votam nele sem pensar que uma Prefeitura administra cidades – como uma grande empresa.
Mas você apresenta razões – a meu ver racionais – mas o tipo de pessoa que meu ex-chefe se tornou não vê, fica cega.
Discordar não pode ser a mesma coisa que brigar violentamente, estou exausta disso. A gente termina um namoro e lá vem o homem de faca na mão, de pistola, dando tiro, quebrando tudo na frente dos filhos e enteados, sem querer saber o que é trauma. As Prefeituras encheram todas as festas de bebidas alcoólicas – vendem o espaço da rua com exclusividade, colocam cartazes nos postes. Mas quem dá agilidade a segurança pública a ponto de salvar a mulher do ataque dos seus ex? Claro que bebidos porque todos falam dos pecados da maconha, mas os pecados da cerveja, da cachaça, do vinho e assemelhados parecem ser menos pecaminosos, embora estraguem ainda mais vidas.
Uns contra os outros foi fácil pescar aqueles mais fracos que apostam suas vidas porque alguém de quem são fãs falou que é bem legal – viu que é igualzinho a votar num cara que ninguém contrataria porque ao invés do bom senso se usa essa cegueira de fazer o que o influenciador “manda”, ne?
Lembram da história do Flautista de Hamelin? Aquele que hipnotizou os ratos e os levou para fora da cidade? Tenho visto tanta gente hipnotizada seguindo o flautista...
Antigamente, quando um rato era hipnotizado, apareciam outros tantos – discordantes – que alertavam para possíveis perigos. Agora, meus amigos, os grupos polarizados de WhatsApp só têm ratinhos altamente hipnotizáveis que se juntam e se retroalimentam de ilusões – e de desilusões, vocês vão ver.
Uma coisa é certa: Crime é crime – aqui e em “Hamelin” também, sabiam? De qualquer modo, creio que muitas pessoas já cansaram dessa discussão que já separou tantas pessoas. Há ratos gatunos em Brasília e em todas as cidades do Brasil - podem acreditar - que estão aproveitando a “deixa” pra roerem tudo por lá.
É fácil: “se saia”, vamos nos unir de novo. Dá tempo.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Ser e sobreviver” Bug Sociedade
Sou virgem de signo e sou portuguesa. Isso implica que dou muita atenção a detalhes, pormenores, coisinhas e quando explico algo, esforço-me por explicar tudo de tudo – e ainda fico com a sensação que faltou dizer algo. Para piorar, faço perguntas esquisitas que ninguém faz – porque já entendeu...e eu não. Ser este bicho “raro” e viver na Bahia é um desafio interessante.
Estudei e trabalhei uma vida inteira – até aos 47 anos – numa área que aqui não consigo trabalho. Sou jornalista porque existe uma lei que permite que qualquer pessoa seja, depois de ter feito vários trabalhos jornalísticos.
Demorei a perceber que as dificuldades nos fortalecem. Nos abrem caminhos, nos amadurecem. Não sei porque demorei, porque não entendia, mas foi assim. Tão estudiosa, tão acadêmica, tão experiente, tão premiada, sofri horrores. A Bahia me vacinou, me ensinou, me transformou. Desde o primeiro dia. Demorei a aceitar o lugar que ocupo. Talvez afinal seja tudo o mesmo: tive mais dificuldades porque demorei a entender para onde vim e a aceitar o lugar que ocupo. Mas foi nesse instante, em que eu e meu coração aceitamos o que é, o que existe, o que temos, que percebi como é poderoso o que me foi dado e como é igualmente importante fazer bem este trabalho – da mesma forma que era importante os trabalhos que fiz no meu país. E é por isso, que todos precisamos entender que somos um ser que aprende por imitação, através do exemplo, principalmente através da visão, através da paixão, tentando fugir das aprendizagens que nos adoecem mas sempre voltando a elas por não saber fazer caminhos novos – ou ter medo de iniciar caminhos desconhecidos. No dia seguinte gostamos de conversar sobre as notícias ou programas interessantes da noite anterior na TV. Transformamos as férias num dever, em vez de um prazer. O Natal também. O réveillon/ano novo, também. O casamento também. Os amigos, as festas de aniversário.
Estamos a construir gerações piores quando não cuidamos o que dizemos, fazemos, somos, junto das crianças e jovens. Quando lhes escondemos a verdade. Quando fingimos estar bem, fingimos que está tudo bem. Quando falamos com eles como se fossemos superiores, como se soubéssemos tudo. Quando aceitamos os favores, aceitamos nos rebaixar para obter o emprego dos sonhos. Quando não conseguimos controlar a inveja pela forma verdadeira como outros vivem. Quando abraçamos o ódio.
A única pessoa que pode mudar o meu mundo, sou eu. No entanto, o que faço, o que digo, o que me apaixona, o quanto sou verdadeira, fará muitas pessoas que me conhecem, melhores e felizes. Ou perpetuando infelicidades, invejas, ódios. Isto é mais simples do que parece. É como uma mangueira do jardim que jorra água sempre naquela direção. Ela só mudará de direção, se você for lá, desligar a água, mudar a direção e ligar a água de novo. Faça isso sem pensar muito. Se estranharem – porque vão estranhar – não se acanhe. Trate o assunto com naturalidade. “Foi, mudei. Antigamente estava no lugar perfeito, mas agora que colocamos uma parede na frente estava molhando dentro de casa porque entrava pela janela.” E aí você vai ter respostas como: “É mesmo. Nem tinha reparado. Que bom que você viu.”
Só mais uma coisa: quando tiver dúvidas sobre o que fazer, pense sempre qual será a melhor decisão para si e para todos, mesmo para os que nem gosta especialmente, ou para os que te tratam mal ou nem te vêm.
Vamos ensinar Putin, Netanyahu, Trump, Bolsonaro, e muitos outros, como se deve viver, como são e como fazem as pessoas de verdade.
Ana Santos, professora, jornalista
Comments