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“O DERRETIMENTO DO SUL” e “Solidão e muros” Bug Sociedade


Alfredo Ceschiatti - site Galeria Duque

“O DERRETIMENTO DO SUL” Bug Sociedade

 

O clima extremo chegou, já faz parte. Aqui no Brasil há uma mania nacional de colocar tudo sob as mãos de Deus, como se a gente não precisasse se preocupar com nada, que está tudo “bem entregue” nas mãos Dele. Isso está sendo péssimo. Ficamos descuidados com trabalhos que são nossos porque “Deus há de prover”.  Não, não adianta destruir, desmatar, passar o trator em tudo, fazer pasto e plantação de soja porque embora dê dinheiro, dá muito mais destruição ambiental do que lucro. Podem olhar para como o caminho do agro é o mesmo caminho do desmatamento: a região sul foi aos poucos migrando para o centro-oeste, que acabou migrando na direção de parte do nordeste e norte. Para o sudeste coube o grosso da industrialização e o espaço com a agricultura foi sempre dividido. Pois o sul está se desmaterializando na nossa frente, o centro-oeste queima cada vez mais rápido e até no norte já teve seca. Seca no norte!

 

Apontar, timidamente para o problema, não adianta mais. Temos que insistir, gritar, denunciar, ameaçar não votar nunca mais naquele deputado ou senador - qualquer coisa que os faça planejar um futuro regrado, regido por leis que parem de discutir o desnecessário.

 

Há votações em Brasília que nós – isso mesmo cara pálida, você também – precisamos impedir. O Marco Temporal tem que cair e a terra indígena, protegida, fica com quem sempre a protegeu – e que nunca foi o agro. O relaxamento das regras ambientais não pode acontecer. Há terra abandonada e cansada em diversos territórios do Brasil, mas eles querem destruir sempre mais, avançar mais, nunca investir em recuperar. Precisam de “novidades”. Isso não pode acontecer. Tracem o caminho desse agro “esganado” e de uma maneira simples se consegue dimensionar que o agro só é 100% pop na TV. O agro também pode ser tóxico, destrutivo e os “coronéis” querem cada vez mais veneno, cada vez mais terra virgem, mais dinheiro. Se possível, em dólar.

 

Quem fala, quem aponta que isso não pode ser, que não pode continuar, é chamado de anti-desenvolvimentista. O agro sempre torceu o nariz pra nós. Antes de ser chamada de “comunista” por discordar de que armar o Brasil era solução pra algum problema nosso, já era chamada pejorativamente de “brasileira” porque ensinava às crianças que não havia motivo para matar os animais – inclusive beija-flores, imaginem. Há espaço no Brasil para que troquemos preconceitos por conceitos. O principal é que todos somos brasileiros. Ninguém virou europeu só porque tem bisavós europeus. Somos iguais de norte a sul.

 

Olhando agora como ficou o Rio Grande – uma terra maravilhosa em que vivi, pisei, morei – não há dúvida de quem estava argumentando certo. O governador gaúcho é incompreensível pra mim. Houve aquele terror, no ano passado; ele investiu em quê? Será que confiou no destino? Mas não só ele me chama a atenção: Havia projetos de emergência climática correndo na Câmara desde que a serra carioca derreteu, em 2012, creio. Onde estão os regramentos? Os prefeitos do interior sabem o que fazer? Ou estiveram todos – como estão – ao redor de orçamentos secretos cada vez mais bilionários? Vejam, senhores, o dinheiro é nosso. Sobretudo, a vida de cada um de nós é valiosíssima. Somos todos brasileiros.

 

No Japão – acostumadíssimo a desastres naturais – as pessoas todas, bairros inteiros são treinados a evacuarem, sabendo com muita antecedência para onde devem ir, o que devem levar como bagagem e como devem agir. Nós vemos isso nos socorros de lá. As casas não são construídas para durarem uma vida inteira e os prédios são feitos com amortecedores, para balançarem sem cair. Alguém se lembrou de perguntar aos engenheiros do Japão como se lida com aguaceiros dessa dimensão? Como se fazem pontes que resistam à chuva extrema? Alguém treinou as pessoas? Lhes disse para onde ir?  Havia algum lugar pronto para receber desabrigados? Equipes treinadas?

 

Honestamente, estou cansada de perder o sono com os políticos do Brasil. Se isso acontecer em Salvador, devemos rezar para o Senhor do Bonfim ou a Prefeitura vai se lembrar de “acordar” os bueiros que tapou? Estamos prontos para o clima extremo? Como, se não vi nada na cidade falando sobre como devemos agir? E eu moro na parte de cima da ladeira, gente.

 

Não devo me preocupar da cidade estar sendo constantemente mais murada? Cimentada, dia a dia? Não devo me preocupar se o lado de lá do Dique do Tororó tiver sido” desligado” do lado de cá, com um muro? Devo apenas me esquecer da minha idade e “pular” para atravessar a rua? Devo esquecer que a Vasco da Gama agora é uma avenida com cercas por todos os lados? Se houver uma enchente, como as pessoas poderão escapar, pra onde podem correr e se proteger?  Se aparecer um maluco terrorista atirador, quem estiver lá no meio do VLT faz o quê? Será que só eu penso nisso?

 

Portugal, um País tão pequeno comparado ao nosso, um “espirro de pulga” bem dizer, parece muito maior porque não é murado, cercado e cimentado. Só eu tenho a impressão de estar ficando presa em Salvador?

 

O fato é que a chuva precisa ser combatida com natureza e prefeitos e governadores parecem estar confiantes de que o clima extremo será apenas um calorzinho a mais. Não estão investindo ambientalmente. Não pediram ajuda às artes e a cultura para mudar hábitos. A Madonna se apresentou uma noite, por duas horas e desequilibrou totalmente o discurso da ultra direita - isso quer dizer muito.

 

Onde está o plano de enfrentamento à crise climática? Nós vamos continuar nos sentindo seguros nas ruas de cima, mas rezando para a chuva não nos pegar nas ruas de baixo? Ao invés de trabalharmos, nos unirmos, vamos apenas rezar? Sem fazer mais nada?

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Solidão e muros” Bug Sociedade

“Solidão é o que sentimos quando desejamos conexão, quando desejamos intimidade, quando ansiamos por companhia e não temos nada disso. Mas também é sentir que não somos vistos, que não somos ouvidos, que somos invisíveis e ignorados. A solidão é pessoal, mas também política, econômica. Solidão não é estar só. Solidão é querer companhia, querer que te escutem e isso não ser possível.” Continuamos mergulhados nas declarações da economista Noreena Hertz porque precisamos.

Sabem qual é a população que se sente mais só, no mundo? Não são os mais velhos não. São os jovens. Pois é.

Em Nova Iorque existem sites de aluguel de amigos. Alguns com 600 mil amigos disponíveis. Você aluga uma pessoa para ela fazer de conta que é sua amiga – vai com você ao cinema, às compras, almoçar, o que quiser. Você paga e tem uma pessoa maravilhosa, carinhosa, simpática e que te faz sentir que tens ali uma amiga. O que acontece de diferente é que quando chega o horário final de aluguer, a “sua amiga nova” avisa que o horário terminou, pede seu dinheiro (140 dólares) e vai embora. A população, entre 30 e 40 anos, que acaba de chegar a NY e que trabalha muito, sem tempo para cultivar amizades, é a que mais recorre a esse serviço.

Los Angeles, tem serviços que podemos recorrer, através de sites, para “comprarmos” abraços amigáveis. Pessoas que trabalham muito e que estão recentemente divorciadas, que de alguma forma ficaram sozinhas naquela cidade – elas e seu trabalho, com colegas do lado que passam o dia olhando o computador, o celular e de fones no ouvido. Trabalham muito, não têm nenhum convívio, entre os 40 e os 50 anos, são os que mais recorrem a este serviço. Pagam para receber abraços. Ficam tão necessitados do efeito transformador dos abraços, que alguns, para conseguir pagar esse luxo, passam a viver no seu carro. Comem no trabalho e dormem no carro, para poder afastar a solidão, pagando por abraços.

Califórnia. Flippy, o primeiro cozinheiro robô do mundo. Para os empresários, é o melhor empregado do mundo. Nunca se atrasa, nunca falta, nunca falha, nunca se aborrece, nunca reclama, nunca adoece. Não fala com seus colegas humanos e os colegas humanos têm medo de perder seus empregos para “adversários perfeitos”.

Se prevê que estão ameaçados 300 milhões de empregos no mundo, nos próximos 5 anos – jornalistas, escritores, pensadores, contadores / contabilistas, economistas, profissionais do marketing, advogados, etc, etc, etc. A solidão vai piorar com a falta de trabalho, ao perdermos a ocupação socialmente útil.

A arquitetura da solidão. Essa forma como as cidades pensam muito mais nos carros e menos nas pessoas, aumentam ainda mais o problema. Ainda hoje passei em ruas de Salvador que, após as obras de melhoramento, agora têm muros e grades, cada vez menos grama e terra, árvores nem se fala. Estava no carro pensando como vai ser nos dias de grandes chuvas? Como vai ser se a desgraça climática que sucede no Rio Grande do Sul, suceder aqui? Como vai ser se acontece um acidente? O que vai acontecer às dezenas e centenas de pessoas de moto, que passam por entre os carros, sempre cheios de pressa? Aqueles muros me remexeram com o estômago. Barcelona está iniciando mudanças inovadoras na arquitetura e na circulação de carros, para favorecer as pessoas e lutar contra a solidão das cidades. E nós? Não queremos ver...

Na Coreia do Sul, existem discotecas diurnas para maiores de 65 anos. Uma preocupação comunitária, apoiada pelos governos, para diminuir a solidão nesta faixa da população. Uma nova forma de negócio rentável, saudável e útil. Sabemos hoje que são os jovens e os idosos os que mais sofrem com a solidão. Que negócios existem, que negócios podemos implementar que sejam rentáveis e úteis para a saúde destas populações? Não negócios para adoecer mais as pessoas e as explorar, mas negócios que ajudem a humanidade e dessa forma ganhamos dinheiro e fazemos algo bom para o futuro de todos. Temos muito a fazer, temos muito a mudar. Está na hora de provarmos que somos o ser mais inteligente que vive no planeta.

Ana Santos, professora, jornalista

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