“NINGUÉM AQUI ESTÁ ACOSTUMADO COM JUSTIÇA” Bug Sociedade
Sempre nos quiseram impingir, aqui no Brasil, uma magnanimidade falsa que perdoa tudo e todos com uma grandeza muito mais para estúpida, do que cristã. Assim foi com todos os crimes cometidos historicamente pelo Estado, desde a não discussão da escravização – que dura até hoje, passando pela proclamação da república como uma espécie de “castigo” dado pelos escravagistas à Princesa Isabel, pela abolição da escravatura e culminando pela anistia a todos os crimes atrozes, doentes e cruéis cometidos pelos militares, na ditadura.
Assim, parecia que a porta dessa nossa “pseudo grandeza” vivia aberta como a casa da sogra – mas, não. Não somos esse povo quase apalermado, que vê a vida passando na janela, sem interferir. O que aconteceu aqui desde o final de dezembro passado, foram sucessivas tentativas de criação de caos social que - por sorte e incompetência – não deram certo. Mas pela primeira vez na nossa vida e na nossa história estamos nos dedicando a buscar justiça, ao invés do velho tapinha nas costas e aquele “deixa pra lá”, com cara de idiota de sempre. Precisamos acreditar na existência de uma justiça para todos e a batida da Polícia Federal, ontem, na casa de Angra do ex presidente, foi inacreditavelmente pedagógica.
Não que seja esse o resultado esperado, mas a justiça tem uma cronologia e organização bem diferentes das explosões de ódio que os super machos daqui nos fazem temer ou quando a gente assiste o ambiente “café com leite” se construir com vários nomes diferentes: anistia, como os militares gostam ou pizza, como os políticos amam, por exemplo. Justiça é diferente. A polícia não chega dando porrada e chute, mas tocando a campainha, às 6 horas da manhã. Mas dessa polícia eu sou muito fã. Inteligente, sabe jogar iscas, sabe colher depoimentos, negociar delações.
O tempo passou e talvez ninguém tenha pensado que nunca nos foi apresentado um plano de governo qualquer até o final de 2022. Nunca houve: não vamos investir em educação porque vamos investir em tal coisa, repararam? Houve apenas: se armem e se virem, enquanto eu dou o filé para os meus filhos. No caso dessa ABIN paralela, houve: ninguém vai (...) minha família e meus amigos. Se tiver que tirar o chefe, eu tiro, se não der pra tirar o chefe, eu tiro até o ministro. Para nós, os não filhos, era “se vire”, pare com esse mimimi – mesmo diante de 700 mil mortos pela COVID. Para os filhos e familiares – num desenho que vimos tantas vezes – era tudo, todo o resto, não importa se era legal ou não.
Nenhum planejamento que não fosse “ficar com o filé”. Até as carpas morreram no seco pra que se catassem as moedas. Agora temos a novidade da justiça: de um novo ministro do Supremo que vai entrar para a história como ministro da justiça; com um ex secretário de segurança que entendia de bandido o suficiente para aceitar as denúncias que foram apresentadas para enfrenta-los, como ministro do Supremo. O que seria o difamatoriamente chamado de “Xandão” – o codinome – virou o nome – carinhoso, quase íntimo – Ministro Xandão, um dos heróis da democracia. Um “Avenger”, claro, como Flávio Dino.
A nossa história estranha bastante heróis vencedores, mas passo a passo, entre os escravizados mortos no 2 de Julho por defenderem a nossa independência, em troca de liberdade; entre os Yanomamis que estão lá, que foram quase chacinados e que precisam de uma resposta diferente de um muxoxo – precisam da resposta do povo brasileiro inteiro. Porque mesmo os que se transformaram em míopes, fãs de mitos vazios, todos temos uma tia avó indígena ou uma avó negra (é impossível não ser miscigenado no Brasil, não esqueçam) que precisa ser defendida – ou honrada, em algum momento de nossas vidas.
Esperar pela justiça é difícil, a gente fica impaciente, mas o Judiciário virou o espetáculo das manhãs, que precisa ser compartilhado agora com o povo porque nós também precisamos de justiça. O Executivo – que foi leiloado no governo passado – precisa pegar de volta o poder de executar um planejamento competente para o Brasil – ainda não engoli trocarmos Ana Mozer pelo tal “Fufuca”. E o Legislativo precisa “Renascer” – igualzinho a nome de novela nova. Precisamos de pessoas que parem de dar “ataque de pelanca, com os baixos palavrões advindos da grosseria” e que pensem no Brasil, que pensem que são descendentes de Tancredo, de Ulisses, Darcy e não “filhotes de Fufuca do Centrão” - como ratinhos a roer o nosso orgulho de sermos brasileiros.
Queremos e esperamos justiça. Sem anistia.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“DNA” Bug Sociedade
Jürgen Norbert Klopp, treinador do time de futebol masculino do Liverpool, desde 2015, informou que sairá do clube no final da temporada. Falamos de um clube que não tem a filosofia de demitir treinadores quando as coisas não estão bem. Que quando contrata um treinador é por décadas. O próprio Klopp percebeu que não está a dar o que o clube necessita e, além disso, percebeu que não tem o mesmo entusiasmo. Nas suas próprias palavras, ao explicar à sua companheira o que sentia, explicou que “se sente um carro veloz que percebeu que está com pouca gasolina e que precisa diminuir a velocidade para não gastar a gasolina de uma vez e ou precisa de se cuidar para não ficar sem gasolina a meio da viagem que está fazendo com o Liverpool.
Xavier Hernández Creus, atual treinador do Barcelona – um dos melhores jogadores que jogou no Barcelona e na seleção espanhola – declarou que vai deixar o Barcelona no final da temporada. “A sensação de ser treinador do Barcelona é desagradável, é cruel. Sentes que te faltam ao respeito muitas vezes, sentes que não te valorizam o trabalho e isto é um desgaste terrível a nível de saúde, de saúde mental, de bem estar. Eu sou um homem muito positivo mas a energia vai baixando, vai baixando, até ao ponto em que dizes que não tem sentido.” Xavi é uma pessoa da “casa”. Não é um estranho que foi contratado para treinar o Barcelona.
Jannik Sinner, tenista italiano de 22 anos, venceu o Open da Austrália, um dos 4 troféus mais ambicionados pelos tenistas. Lutador, trabalhador, perdeu muitas vezes. Parecia que não sabia nem conseguia quebrar a “parede” que só os grandes eram capazes. Mas, com um time que parece constituído por boas pessoas – que são também bons profissionais - com pais que respeitaram sempre suas escolhas, que lhe ensinaram que apreciar a viagem, apreciar os bons momentos e ter boas pessoas junto de si, eram coisas muito importantes, a “parede” se desfez. Medvedev não desiste. Só o vi desistir quando jogava contra Djokovic, talvez por lhe reconhecer valor e mérito e aceitar – quando as pernas já não estavam frescas. Com os outros ele sempre sabe que eles desistem antes dele. Mas no domingo Medvedev não foi capaz. Precisou aceitar que aquele menino de 22 anos era consistente e que não desistiria de nenhuma jogada. Sinner é pensador, maduro, determinado. É bom saber que mais uma estrela chegou ao cume. E com ele, aguardam-nos jogos soberbos – como os que nos proporcionou nestes últimos dias.
Penso que as reações serenas de Sinner, após a vitória, podem nos dizer que ele percebeu como é duro, difícil e terrível o caminho da glória. Está feliz mas sabe, agora, o quanto se sofre para obter o que tanto sonhou. Talvez Klopp tenha percebido que o emprego de sonho que tem desde 2015, exige mais gasolina e “acelerações” constantes e muito mais elevadas do que ele deseja para sempre na sua vida. Xavi é também surpreendente ao dizer o que diz da casa onde foi tão feliz e deu tantas coisas boas – tantos prêmios e campeonatos.
Por outro lado, vemos o treinador do Real Madrid, Carlo Ancelotti, com 64 anos, que parece não se afetar com nenhuma pressão.
Cada ser humano tem suas pressões internas, suas fragilidades e sua forma de aceitar, reagir, lidar com o que a vida lhe coloca na frente.
Confesso que cada vez mais gosto das pessoas que mostram sensibilidade, fragilidade, que dizem o que sentem de verdade. Que falam a verdade. Que o que dizem e fazem é apenas o que dizem e fazem. Que não é uma estratégia para outra coisa.
E olho para a família Bolsonaro e não consigo ver nada de verdade, de honestidade, de gente com nobreza, com visão de futuro, com um olhar bom sobre a humanidade. Nada ali parece prestar. Nem a hora a que vão pescar – e olhem que eu sei bem que os horários de pesca são vespertinos a maior parte das vezes. Parecem a “família Midas” ao contrário – em tudo o que falam e tudo o que tocam, transformam em...
Ana Santos, professora, jornalista
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