
A primeira coisa é que os americanos se curvam à nossa dispersão e a cada filme voamos em mil direções, mil ações – filme sem ação atualmente me relaxa tanto que quando percebo, já dormi. Além de não faltar ação, o enredo nos coloca diante da loucura que rege o mercado, a autoridade, o compromisso. Se acontecesse tudo o que aconteceu com Tom Hanks em Países como o Brasil, México ou Argentina, cairiam em cima de nós num acidente diplomático. Mas foi com a Arábia Saudita, com petrodólares esvoaçantes ao redor dos turbantes e aí – bem, e aí nada. São dois princípios diferentes. Um mundo para os têm dinheiro e o outro mundo – o nosso.
Diferenças culturais e sociais abissais. Não se pode – sem ter dinheiro e posição – beber, conversar com mulheres. Machismo abissal. Andar com a cabeça descoberta, conversar com homens, reclamar. Para tudo, entra o velho “não está, não chegou, não vem”. Mas com cifras em bilhões, tudo se pode esperar. Há uma paciência especial para com quem tem dinheiro. Miséria e luxo. Favela e palácio.
Ficamos nós diante de sentimentos e sensações humanas, vemos calor, fome, atração, agradecimento, amizade, desprezo, indiferença, desculpas, invisibilidade. Tudo ao mesmo tempo numa aventura incrível.
Tom Hanks é Tom Hanks – imbatível quando está em cena. Consegue segurar cada momento com a leveza e o peso necessários. Mal e bem, sorriso de fachada, sofrimento. Mil facetas numa comédia dramática inusual e com timing perfeito – afinal, quem sustenta o ritmo é ele – Tom Hanks.
Assistam, sem falta. Mas se permitam sentir o desconforto de ter que engolir coisas para as quais, independentemente de quem for ou seu motivo, precisam ser discutidas, evitadas – mesmo proibidas. Falta de consideração encabeçando a lista, talvez.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Tom Hanks. Onde ele está tem probabilidade de ser um filme bom, com roteiro que estimula reflexões sobre o sentido da vida. Como neste caso. Um filme que aparenta ser até sem sentido e inundado de ficção, se torna, do meio para o final, num filme surpreendente, belo e tocante.
Neste momento, com a Arábia Saudita se tornando cada vez mais num país que conta no “mapa mundo” do futebol e dos negócios, é interessante assistir a este filme – apesar de ser de 2016. Uma cultura com questões já conhecidas e arrepiantes, confirma que o que é proibido não é proibido para todos. Álcool, festas, liberdade, luxos. Você apenas precisa estar com as pessoas certas, no lugar certo, fazendo o que ali, naquele lugar, é certo. O final é muito bonito, vale pelo filme todo e merece ser mantido em segredo. Por isso tente ver. Não tem desculpa. O link com o filme completo está aqui, apesar de ser dublado.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um representante de vendas americano procura recuperar suas perdas viajando para a Arábia Saudita e vendendo o produto da sua empresa a um rico monarca.
Direção: Tom Tykwer
Elenco: Tom Hanks, Omar Elba, Sarita Choudhury.
Trailer e informações:
Link do filme completo dublado
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