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“Língua Portuguesa para Todos” Bug sociedade

Foto do escritor: portalbuglatinoportalbuglatino

Que desnecessário termos que ouvir opiniões e “achismos” sobre a forma como cada falante da língua opina sobre o outro... O português melhor é o de Portugal ou do Brasil? Angola ou Moçambique? Quem vai ter a “prerrogativa de ensinar”?


É até difícil iniciar o assunto porque, em sendo português, parece que tem que ser igual em todos os países da lusofonia. Não é. Outra coisa estranha, é que ninguém consegue “controlar” a evolução do idioma, embora todos “achem” a sua forma de falar melhor que as outras. Portanto, se a gente vai morar em outro país que não fala o mesmo idioma, tem mais chance de tentar se adaptar.


No caso das relações forjadas pela colonização, Portugal precisa entender e aceitar que como Colonizador não permitia aos colonizados terem intimidade no trato do dia a dia – eis aí o melhor motivo para explicar porque nos lugares onde havia mais escravizados, se saiba usar pior o tu e porque o Brasil usa preferencialmente o você – que começou com vossa mercê, vosmecê, você – já caminhando para cê – mas distanciado e respeitoso na origem. Portugal estranha a forma, as relações mudaram, o mundo e a sociedade também, mas a origem foi assim e assim evoluiu.

Essa palavra é mágica – evoluir. A língua é viva. Ninguém consegue impedir sua evolução. Coloque duas pessoas conversando e logo uma “adota” uma palavrinha diferente. “Deletamos” namorados chatos, “freezamos” uma cena, nos “logamos” na internet. A língua não para de descobrir palavras diferentes, novas, econômicas – nem que tiradas de outros idiomas.


O que não pode, mas muita gente faz? No Brasil, então, os “macacos de imitação” nem bem vão à primeira aula de inglês e já trazem estruturas prontas e na ponta da língua. “Nós vamos estar fazendo, você vai estar ganhando” – canso só de ouvir... Verbo é ação e toda ação é drama. E tantas ações juntas, ao mesmo tempo, “é o cão chupando manga”...


Mexer na estrutura da língua então – que nunca inicia frase nenhuma porque é conclusivo – não pode. Se mexe na estrutura, a casa cai. O idioma também não aguenta.


Porém, contudo, todavia, ir pra escola em outro País e se negar a usar as palavras que ele tem e usa na educação formal é profundamente ridículo. Bizarro. Inadmissível. Quem se mudar para o Canadá e insistir em escrever grama, ao invés de “grass” vai repetir o ano letivo sem reclamar. Quem insistir em escrever grama ao invés de erva... também não pode reclamar do resultado.


Se o idioma português falado em Portugal assimilar grama, um dia os linguistas vão aponta-la como sinônimo de erva. Não sabemos como vai ser, o futuro vai dizer, mas brigar pra ver se você tem o direito de entrar na casa que te recebe e mexer em tudo é de uma falta de educação enorme e certamente vai render uma volta em preconceito e discriminação que são ignorantes, mas são, sobretudo, reações de autoproteção.


Então - usado certo e conclusivamente - tenham respeito, a casa não é a da sogra e se fosse, você ia “pegar leve e baixar a bola” porque a casa não é sua.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Internet, redes sociais, como tudo na vida. Você que decide se utiliza para o bem ou para o menos bem. Quando começou o Facebook, me recusei a fazer parte e só aderi porque diziam que antigas colegas de voleibol tinham colocado fotos em que eu estava. E eu queria ver. Mas não gostava e não usava. Só via e postava muito raramente. Quando vim para o Brasil viver percebi que o Facebook pode ser uma ferramenta espetacular para o meu trabalho e para a minha vida. E tem sido. Também tem sido muito interessante conhecer o lado Facebook das pessoas. Os temas que surgem e as opiniões. E foi por causa de uma notícia que lemos no Facebook e suas repercussões nas redes, sobre a língua portuguesa em Portugal e no Brasil, sobre a influência de Felipe Neto na linguagem das crianças portuguesas, que decidimos escrever sobre este tema super sensível entre os dois povos “irmãos”.


Agora parece que tudo precisa ser um problema. Pegamos no problema, aumentamos a problemática, o tornamos terrível ou cômico e ganhamos visualizações/dinheiro em vez de contribuirmos para diminuir ou nem existir nenhum problema. Entendidos em linguística, em língua portuguesa, em vocabulário, em latim, em gramática, etc. Todos mostrando como são bons. Todos ridicularizando o “outro lado”, criando lados. Todos criando e desenvolvendo um problema. Como as pessoas estão apenas preocupadas em mostrar seus títulos, seu saber? E que saber é esse que para nada de bom serve? Bajulação, vaidade, empáfia, soberba, cegueira intelectual apenas. Vazio social, contribuição zero.


Quando era bem jovem, em Portugal, começou a dar a novela “Gabriela, Cravo e Canela”. Foi uma revolução. Primeiro porque podíamos assistir TV naquele horário. Depois porque tudo era diferente. As pessoas, as roupas, os lugares, os jeitos, os comportamentos, a linguagem. Primeiro estranhamos e depois adoramos. Era delicioso ouvir “aquele” português musical, doce, explicativo, sincero, desconcertante (até hoje é). Foi um sucesso. Por todo o lado as pessoas falavam uma ou outra palavra nova e era gostoso. Nem eram só palavras, mas expressões. A coragem de falar de assuntos nunca falados. A coragem de falar de sentimentos. Portugal ficou melhor, mais humano. Depois veio a novela “Casarão”, com outro jeito. Depois vieram mais e mais e mais. Tantas novelas que em Portugal deixamos de dizer rapariga, passamos a dizer menina. Deixamos de dizer “bicha” do pão, para dizer fila do pão. Veado passou a ser uma palavra que tinha mais significados do que o nome de um animal. E muitas mais. Enriqueceu o vocabulário. Uniu um pouco mais os povos. Despertou o sorriso dos portugueses.


Parece que Portugal está a viver outro confronto. Felipe Neto, youtuber famoso, parece estar a abalar a cabeça de algumas pessoas. Conheço o nome do youtuber mas nunca escutei um vídeo. Mas desenvolver um problema porque as crianças em Portugal estão dizendo bala e grama, em vez de rebuçado e relva? E se pensássemos que agora dizem bala e rebuçado e relva e grama? 4 palavras em vez de 2. Ai Gabriela de Cravo e Canela, como tudo era tão poético no teu momento. Deu muito problema também, sabemos. Mas depois foi tudo tão melhor.


No Brasil é registro que se utiliza e em Portugal é registo. Handebol no Brasil, Andebol em Portugal. O Word do meu computador já me está avisando que está no texto uma palavra errada (Andebol). Acontece muito. Uma briga de 8 anos, eu e o meu word. Mas é assim. Cada país tem o seu português: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde. E todos se entendem. Na hora das avaliações, na escola, na faculdade, regras são regras. Se quiser ter boa nota ou se quiser ser respeitada num destes países, é bom saber escrever e falar o português desse lugar. Não pense que aqui no Brasil vai levar palmas se escrever andebol. No meu caso, passei já muitas vergonhas com serviço/saque, recepção/passe, passe/levantada, ataque/cortada, etc. Você falando de uma coisa e as pessoas entendendo outra e te considerando uma lerda no assunto. Acontece. Engole.


Como ir trabalhar para Inglaterra ou Estados Unidos e adaptar a língua inglesa ou americana e o sotaque. É tão simples. Sim, sentimos um choque inicial. É verdade. Mas esse choque penso que é mais dos portugueses que são ensinados com profundo rigor e formalidade. Somos tão punidos, olhados de lado e diminuídos quando escrevemos alguma palavra errada, que ficamos condicionados nesse mundo de terror. Quando alguém escreve ou fala uma palavra diferente, salta logo a nossa luz vermelha. Mas agora são tempos de baixar um pouco a guarda. De aceitar a diversidade. Os países têm muitos estrangeiros, refugiados. A forma de pensar do brasileiro, do afegão, do sírio, do ucraniano, etc, é diferente da do português. Todos, vivendo em Portugal, vão enriquecer a língua com seu jeito de explicar, de se expressar. Conseguimos dizer o que precisamos, o que sentimos, resolver problemas? Isso é o importante. Se desejamos ir para a universidade, faculdade, aí as regras de cada país são rígidas e devem sê-lo. Demorei muito a aceitar que meus textos precisavam de passar por uma pessoa amiga brasileira para serem corrigidos. Eu que corrigi durante anos, textos de monografias de final de curso, de universidade, mestrados e doutoramentos/doutorados de amigos, em Portugal. É duro no início. Depois precisamos entender as regras do lugar, do país. E, se desejamos trabalhar ou estudar a nível académico, temos de integrar essas regras. Dói mas passa. A língua é movimento.


Os livros de Mia Couto são sensacionais porque falam de uma forma que é só dele. Jorge Amado, igual. As letras das músicas de Gilberto Gil, de Caetano Veloso são pérolas.


Vivi numa das ilhas do Açores, terra mágica, durante um ano, nos anos 90. Fui professora e jogadora de voleibol. Tinha uma colega de equipe/time que era da Bulgária e tinha um filho de 4,5 anos. Ela, o marido e o filho aprenderam muito rápido o português. Impressionante. O filho andava numa escolinha e aprendia a falar e a escrever, lá também. A ilha que vivíamos tem um sotaque um pouco fechado das vogais. Uma forma fácil de explicar seria que é como se fosse português com sotaque francês. Bastante diferente do som do português do continente. Um dia a mãe estava dizendo que o filho a corrigia todos os dias porque ela falava com o sotaque português do continente, como lhe ensinávamos, e ele dizia que não era assim – e falava alto o que era para ele “correto”. Era muito engraçado porque quando estávamos a falar com ela, no final do treino, lá vinha aquele pequerrucho lindo, chateado, dizendo à mãe que ela não sabia falar e que precisava se corrigir. Coisas da vida. Qual caminho você escolhe? O que complica ou o que soluciona?

Ana Santos, professora, jornalista

 
 
 

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