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“FEMININO, PALESTINOS E TRAUMAS COLETIVOS” e “Os Véus da Sociedade” Bug Sociedade


Fotografia de Diana Markosian

“FEMININO, PALESTINOS E TRAUMAS COLETIVOS” Bug Sociedade

Dia 17/11/23, em pleno feriadão da República, o Bug Latino vai postar o programa “Traumas coletivos”. Ainda nem havia estourado a guerra do Hamas com Israel quando gravamos – eu tive que fazer um enxerto – mas a situação dos palestinos vem me deixando tão incomodada, tão infeliz, que vou abrir um grande círculo onde caberão todas as pessoas que precisam de ajuda, no mundo e o nosso olhar quase indiferente e com certeza inconsequente.

Não sei se éramos mais egoístas antes, mas a internet deixou esse nervo exposto, visível a qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade. Basta olhar um pouco as redes. A nossa postura receptiva e cordial com as pessoas que estavam (bem dizer) presas entre dois fogos na Faixa de Gaza, não pode nos fazer esquecer que logo antes, na pandemia, vimos morrer 700 mil brasileiros e até agora eu não sei bem o que deveria ter sido feito, já que estávamos presos – nós também – à espera de salvação contra o vírus da COVID. Enquanto isso, éramos pulverizados e víamos incrédulos a pulverização de milhares, de centenas de milhares. Aí veio a fome. Terrível. E o ex-presidente falando que não via ninguém com fome quando andava na rua, enquanto a gente via, esbarrava, com gente catando lixo e dormindo na rua em toda parte.

Refugiados, doentes, pessoas perdidas, há em conta de milhões. Morrem afogados nos oceanos que desembocam na Europa, fogem de suas guerras e misérias, se jogam bombas, venenos, gritos, sofrimentos. O que a ONU faz? Reclama dos grandes operadores do dinheiro e eles dizem que todas essas mortes são uma espécie de mi-mi-mi internacional, já que na casa dos oligarcas nunca faltam enormes sobras.

Novos desertos, novas secas, novas enchentes e incêndios – tudo maior, mais novo e terrível – mas uma discussão verdadeira sobre o que vamos fazer com o calor e frio extremos não aconteceu de verdade ainda. Uma coisa assim “olho no olho”, o que é pra fazer agora. O joelho machucado do Neymar parece mais importante que o massacre dos Palestinos ou Brasileiros, já que ele não presta atenção em nada que não seja ele mesmo.

Nessas horas, o olhar fica solitário e sem respostas – não somos mais capazes de nos unir para nada? Ninguém parece reparar que estamos falando cada vez menos uns com os outros pra depois vermos problemas de desenvolvimento como doenças, remédios e pais em busca de filhos brilhantes – mas bem quietos.

Fizemos o buglatino.com para as pessoas se reunirem em torno de temas que acrescentam valor às opiniões uns dos outros. Isso é enriquecimento. Por favor, nos sigam, nos compartilhem, nos indiquem para a geração mais jovem e, ao mesmo tempo, aos idosos, aos asilos. Estamos jogando nossas experiências no valão do desinteresse, enquanto aprendemos a criar nudes falsos e a traumatizar meninas, como se isso não fosse coisa de criminoso. Os homens continuam assassinando, violando e espancando o gênero feminino, enquanto clamam por banheiros separados para as mulheres trans “em nome da tal moral e bons costumes”. O xixi é pecador; o nosso sangue, não.

Ando cansada de pagar por rótulos obtusos, enquanto os homens insistem em se sentar sobre fatos gravíssimos.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Os Véus da Sociedade” Bug Sociedade

O Véu revela ocultando, oculta revelando. Ao ocultar algo, provoca a vontade de descoberta. Ao revelar algo pode apenas ser uma distração, para ninguém saber o que a sociedade quer ocultar.

O que conhecemos do que acontece no mundo tem sempre um véu sobre ele. A forma como tudo nos é apresentado, onde é apresentado, as imagens ou vídeos que acompanham. Como crianças a quem os adultos escondem informações para as “proteger”, também nós, os que vivemos de acordo com as regras dos poderosos, sabemos apenas o que nos deixam saber. Achamos que sabemos de tudo, achamos que o que nos é mostrado é tudo.

Dizem que Mussolini mandou tirar fotos dos Etíopes, antes de invadir a Etiópia, em 1935, para convencer o mundo de que a sua invasão, na verdade, era preocupação em “civilizar” os “selvagens”. Onde já ouvimos isto sobre outros povos e outras “invasões”? Dizem que Mussolini antes invadiu a Líbia com o objetivo de “treinar” as atrocidades e horrores que mandou cometer na Etiópia. Dizem que as mulheres lutavam na linha da frente. Na luta contra essas “invasões”, na guerra civil espanhola e em muitas mais situações. Dizem que os homens se tornam “homens” quando lutam nas guerras. E o que se chama e como se considera as mulheres? Não se conta, não se fala e as mulheres voltam para os seus deveres domésticos.

Tem muita coisa escondida sobre o papel da mulher no mundo, sobre o seu valor. Cada vez sabemos mais sobre mulheres que escreveram, mas eram homens que assinavam os seus livros; que eram soberbas escultoras - Camille Claudel, por exemplo - mas não tão consideradas como escultores homens como Rodin; excelentes cientistas e estudiosas como a primeira mulher de Einstein - Mileva Maric - mas totalmente abafada pelos deveres domésticos, entre outras razões.

As “coisas” acontecem. As pessoas fazem “coisas”. Muitas vezes do nosso lado sem nem darmos conta. Se acontecem conosco, sentimos bem na carne e na alma. Mas o que não acontece conosco, pouco sabemos. Ou nada sabemos se não interessa ser conhecido. E podem passar muitas gerações, séculos, o tempo que for, que nunca saberemos. Ou só os especialistas sabem. E no entanto, basta uma ação, um interesse, um movimento, que nem precisa ser estimulado por ninguém – apenas por seu desejo e determinação - para ir em busca do que é importante e está oculto. E, aos poucos, as informações vão surgindo, oralmente, um papel velho, uma biblioteca de algum colecionador, arquivos, a internet. Tudo se pode saber. Existem muitas “coisas” e muitos acontecimentos que precisamos saber, que precisamos tornar público as várias versões – não apenas a versão dos que dominam a situação.

Um americano, 56 anos, engenheiro civil da Força Aérea, que vive na California, queria comprar uma casa em Virgínia, sua terra Natal. A família é muito numerosa, fazem regulares convívios lá e comprando uma casa, isso facilitava os encontros. A casa que em crianças chamavam de casa assustadora, no caminho para a escola, ficou à venda. A família se empolgou, ele achou que não lhe iam vender a casa por ser afrodescendente, mas venderam. Comprou. E, descobriu que essa casa, essa quinta, esse sítio, essa fazenda, foi o lugar onde seus antepassados viveram, como escravos. A família e ele ficaram muito abalados no início, mas ao mesmo tempo, parece que a vida está a dar a possibilidade de poderem apaziguar seus corações e, quem sabe, apaziguar os corações dos entes queridos que tanto devem ter sofrido ali. Se quiser saber mais desta história tão chocante, mas também emocionante, veja aqui. O oculto se revela para os que procuram com o coração, quero acreditar. Parece que o véu se solta com o vento quando a história e a verdade precisam ser conhecidas.

Mary Wollstonecraft, escritora, filósofa, e defensora dos direitos da mulher, inglesa do século XVIII, tem uma afirmação que deve nos caber, em todas as populações subjugadas e inferiorizadas: “Eu não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens; mas sobre si mesmas”.

Em pleno século XXI, precisamos buscar e manter o poder sobre nós mesmos. A nossa última liberdade e a que mais está em risco. Faça dos véus, cortinas ao vento.

Ana Santos, professora, jornalista

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