Faço Poemas
- portalbuglatino
- 26 de fev.
- 2 min de leitura

“ARTE DE AMAR”
“Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.”
Nascido em Barreirinha (interior do Estado do Amazonas), no dia 30 de março de 1926, Thiago de Mello conquistou reconhecimento nacional e internacional, tornando-se um dos mais expressivos poetas contemporâneos do país. É autor de livros reconhecidos mundialmente, como “Faz escuro, mas eu canto”, “Silêncio e palavra”, “Manaus, amor e memória”, entre outros. Além de escritor, exerceu o jornalismo e serviu no Itamaraty como adido cultural no Chile, onde cultivou uma grande amizade com Pablo Neruda e Salvador Allende.
“Desmaiar, ousar, ficar furioso”
“Desmaiar, ousar, ficar furioso,
áspero, terno, generoso, esquivo,
entretido, mortal, defunto, vivo,
leal, falso, covarde e corajoso;
não achar, para além, paz e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
irritado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;
furtar o rosto ao claro desengano,
sorver veneno por licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;
crer que um céu em um inferno cabe,
dar a vida e a alma a um desengano;
isto é amor, quem o provou o sabe.”
Lope de Vega
Trad.: Nelson Santander
Comentarios