
“... E ELE “TRUMPEÇOU” NO PRÓPRIO DISCURSO...” Bug Sociedade
Não quero comprar mais essa história chata de polarização que todos os veículos querem continuar nos empurrando. Se o mundo precisa ser dividido em duas partes, pra mim terá que ser a dos educados e a dos “cascas grossas”.
No caso do Trump, no do “clone” punguista que tentou nos roubar a carteira da democracia, além da nossa saúde, no do “portuga implicante boquirroto” ou no caso do descabelado argentino insano, cabe a mesma cunha - “casca grossa”. Gente mal educada, de boca podre de suja, de onde saem toda a sorte de venenos e maledicências criam o que? Seguidores que tentam copiar essas obsolescências. Arminhas, armonas, tiros pra todo lado e todas essas coisas insanas que somos obrigados a aturar do time dos frequentadores dos “pés sujos” de alma, de princípios humanos. Só que dessa vez, um dos deles – dos grossos – usou o que aprendeu contra o chefe – e não sei se de propósito ou sem querer – lhe deu o que nosso boca suja tupiniquim conseguiu antes – o rótulo, a etiqueta de “coitadinho”, apesar de.
- Apesar de insuportável deve prestar porque, afinal, um louco o atacou. Apesar de golpista declarado deve prestar porque ele não ia ser agredido à toa; apesar de nunca ter trabalhado na vida deve ser engano porque se não trabalhasse, como alguém poderia querer assassiná-lo?
E assim, parece incrível que a minha empatia se desvaneça e eu fique tentando resgatá-la em mim mesma porque “apesar de tudo”, são pessoas humanas e ninguém merece isso. Perceberam a diferença entre um time e outro? O time dos cascudos pergunta logo se a chuva no interior da Bahia veio pra atrapalhar suas férias eternas – como eu disse, o velho problema de não gostar de trabalhar se impunha sempre.
Bem, o do tiro, falou cem mil vezes que é a favor dos tiros, que os homens devem se defender atirando no inimigo – tiro daqui, tiro dali – só que ele acreditava que nas outras etnias, naturalmente. Mas dessa vez, o seu próprio time pariu o tiro.
Como o Américo Pisca Pisca do Reformador do Mundo, ele deveria olhar pra Deus e pensar: Fui eu mesmo quem pediu isso, quando reformei o mundo e clamei pelos seguidores mais grosseiros e ignorantes que existissem no meu território... Oops... Talvez seja melhor engolir essa minha cara de nojo e entender que Deus escreve avisos – nós é que fingimos não vê-los.
Mas como todo machista, ele vai ser orgulhoso e “trumpeçar” em sua vaidade. De novo.
Tsc tsc tsc... Ninguém merece mais um traste fazendo chantagem emocional com a gente ao invés de aprender que com grossura você conquista revanche.
Um pouco mais de igualdade, de justiça e de liberdade. E educação, porque “sem o apoio doméstico da mamãe” sobram bocas sujas descontroladas e delas o inferno já está cheio...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Que lodo...” Bug Sociedade
Mais um dia. Um dia atrás do outro. Dias que voam, dias que se arrastam. Dias sossegados, dias exaltados. Dias fáceis, dias difíceis. Cada um na sua luta, na sua caminhada, mas como ouvi um monge budista referir numa entrevista, algumas pessoas – cada vez mais pessoas – esquecem o que vieram fazer e ficam assistindo os outros a viver. Ou, pior, decidiram fazer o que os vai tornar visíveis.
Dizem que a ação é inimiga do pensamento, na medida em que quanto mais ativa a pessoa está, menos pensamentos ruminantes circulam na sua mente – pensamentos repetitivos de preocupação, de medo, de ansiedade, de desconfiança, de insegurança.
Basta assistir a uma criança saudável brincando e perceber como ela é feliz descobrindo o mundo sem parar um único segundo – agir sobre o mundo, entendê-lo tocando-o, mergulhando nele, transformando-o. Quanto mais ação, mais construção, mais atenção à nossa própria vida – os níveis de satisfação pessoal costumam ser bons porque você tenta, você procura saídas, você age, em vez de ficar pensando sobre o que vai fazer, como vai fazer e quando vai fazer. E pior, preocupada com o que os outros vão dizer...
Passamos nossos dias olhando écrans – celulares, tablets, notebooks, écrans de computadores, no trabalho. Mas também como divertimento, interesse.
Sabemos tão pouco do que nos rodeia, mas gostamos de dar a nossa opinião. Até aqui pode parecer estranho e um pouco “sem vergonha”, mas quem nunca? O que acontece é que agora as situações pioraram muito. Já não é suficiente falar mal de alguém, nem cancelar a pessoa nas redes sociais. E isso já era horrível. Agora é ameaça de morte, intimidação, ameaça aos seus familiares, destruição da sua vida de trabalho, devassa em público, bloqueio das suas redes sociais, etc.
De uma forma geral vamos nos encolhendo, aumentando nossos silêncios, calando nossas bocas, contra o que está errado. O medo de ser “esmagado” na internet, no seu bairro, na rua, é cada vez maior. E vamos vivendo nesta vida de “faz de conta”, mas onde as pessoas que se recusam a aceitar isso, são dizimadas. Uma pessoa que vai presa injustamente, ainda leva consigo uma energia enorme para superar esse problema horroroso. Mas a prisão e suas condições, o afastamento da vida social, o desaparecimento dos amigos que afinal não eram amigos, vai te quebrando, te secando, te mudando. Você muda e muito. Vai perdendo as forças, as formas de lutar, a saúde, as oportunidades.
Falei prisão, mas pode ser algo bem mais simples como quebrar a perna e, após a cirurgia para colocar placa e parafusos, no dia seguinte, quando volta para o trabalho, ser demitida sem razão. Assim, duas lambadas diretas na sua cara, a vida te dá. E você se pergunta: porque razão? E eis que você percebe a razão, quando as dezenas de amigos que iam a sua casa, comiam da sua comida, tinham empregos maravilhosos à sua custa, simplesmente desapareceram. “Voilá a razão.
Ou pode ser um seu colega de faculdade que já era um grande oportunista durante a licenciatura, mas que agora pertence a altos cargos no país e até parece uma pessoa civilizada – apesar de todos saberem que aquela “esperteza sonsa” está lá dentro dele, guardadinha. Mas deixa pra lá, não vale a pena a gente se chatear.
Ou pode ser o atleta que se cala para não perder o lugar no seu clube ou na seleção. Ou pode ser o árbitro que não marca a falta, ou marca o que não é falta, mesmo com Var, com sensor na bola, com uma resma de árbitros auxiliares. O que existirá mais? Ou o jornalista que não faz as perguntas que devia fazer, para não perder o que tem.
As pessoas já não dizem o que pensam, nem fazem o que têm vontade. Elas estão fazendo o que é necessário para manterem as coisas boas que têm. E com filhos, piora. E se os filhos tiverem problemas de saúde, pior.
Aquilo a que um dia chamamos liberdade, perdemos e ainda não percebemos. Estragamos, deixamos à chuva e ao sol e enferrujou. Todos sabem da nossa vida – nós até gostamos de a mostrar – quando corre bem, claro. Na verdade, mostrar a falsa vida. Já não pensamos livremente, não falamos livremente, não somos almas livres, soltas, leves. Somos pedregulhos, pesados e enferrujados, bloqueando a engrenagem das nossas próprias vidas. Não dizemos, nem fazemos o que devemos fazer. Nos atropelamos nas filas para os grandes concertos ou shows, se formos ricos. Nos atropelamos na busca das poucas oportunidades de trabalho, se formos pobres. Gastamos nossos tempos livres discutindo se aquele artista fez bem em separar-se, se o jogador devia ter jogado, criticar a casa do lado porque parece abandonada ou porque a casa do lado ficou bonita demais. Fazemos de tudo para fugir da nossa vida, do que temos de cuidar. Distraímo-nos com os outros, com coisas. Coisas e coisas. Que não levamos conosco, quando formos embora. Porque a mochila que pode ir com a gente é outra e leva sentimentos, realizações, partilhas, contribuições, experiências de verdade. E é uma pena ir vazia...
Ana Santos, professora, jornalista
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