
“E AGORA QUE A CULPA DOS TEMPORAIS NÃO É MAIS DE DEUS?” Bug Sociedade
Ano passado eu troquei as telhas com medo do clima extremo e não sei se vai adiantar alguma coisa, se vou conseguir me proteger. Parece que bem pouca gente perde o sono com isso porque “se Deus quiser” aqui não vai chover tanto quanto no Rio e em São Paulo.
Sou carioca – desde que nasci convivo com tempestades colossais e com gangues de bandidos que jogavam sacos de lixo enormes. que boiavam na rua cheia, para o motorista parar, ao menos frear - e ser assaltado. Mas agora, com a emergência climática – fato do qual se fala desde a ECO 92 – os administradores, políticos, deputados, prefeitos e todos os etcs e tal, não podem mais dizer que foi Deus, que a chuva caiu de repente, que choveu mais em um dia do que em um mês porque isso É o clima extremo – e nós o construímos, carbono por carbono. O lixo à céu aberto, proibido no Brasil, ri na cara do clima extremo e ele cai na nossa cara, na nossa casa, na nossa rua.
Aí vem o prefeito – no caso, do Rio, mas poderia ser qualquer um, afinal – “Vamos socorrer as pessoas, nem vou falar da chuva porque é assim mesmo, desentupir, drenar, mas se cai mais chuva do que o esperado, é assim mesmo.
Mas não – não é assim mesmo. Tudo aqui começa do fato de que há áreas de risco altíssimo que continuam ocupadas e não há uma ação para afastar as pessoas do perigo. É como se no Brasil existissem “suicidas compulsivos” que moram nas áreas de risco porque escolheram – mas ninguém mora lá porque quer e sim porque não tem outro lugar para ir.
Quem sabe então as prefeituras – agora e não depois – apresentam aos governos estaduais e federais planos para realocar as pessoas que correm risco iminente, além de limpeza das bocas de lobo, desentupimento de valões, desassoreamento de rios, as drenagens de sempre, etc? Um plano de emergência onde o gasto do dinheiro fique aberto nos sites e que seja “contado aos tostões” pelas comunidades porque eles precisam render ao máximo?
Por exemplo: Onde estão os bilhões que os deputados federais arrancaram do governo federal ainda no final do ano passado? Tem algum dinheiro para obras de prevenção da emergência climática no interior, de onde eles são? Ou só o meu medo foi suficiente para me obrigar a me precaver contra as chuvas – e sem saber se isso vai dar certo, entre rezas e suspiros!
Estou can-sa-da de ouvir que foi algo inesperado – inesperado como, se o Cacique Juruna chegou na ECO 92 com uma pele de onça ao redor do corpo pra denunciar a caça de animais e o problema com o meio ambiente? 1992! São mais de 30 anos! Os prefeitos ainda são surpreendidos? A culpa ainda é de Deus? Quantos anos vão passar, para que a palavrinha mágica – planejamento – ocupe as mentes dos candidatos?
Sem casa em lugar seguro, não há esgoto e água encanada, a saúde paga, o Estado não consegue levar as mínimas condições de serviço como escolas, postos de saúde, transporte, luz, segurança. Começam os “gatos”, os incêndios, água parada, ratos, lixo. Sem ser prefeita de nada, além do “telhado de casa”, mas olhando com objetividade para os prefeitos do Brasil, eu pergunto: Quem vai ter coragem de se candidatar ao cargo esse ano, sem falar de ações reais contra a emergência climática? Quem?
E pergunto a nós, os eleitores: Quem vai ter a insolência de votar no amigo do amigo, no cara que lhe prometeu um emprego de rachadinha, sabendo que pode morrer na volta do trabalho, que pode cair num rio, confundir rio com rua, perder o filho, o amigo do filho por causa de um raio, de uma barreira que caiu? Porque clima extremo é como segurança pública – você pode ser rico à vontade que está em perigo. Sempre. Eu troquei o telhado e continuo com medo. E o prefeito, será?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Viver a vida” Bug Sociedade
Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid nos últimos anos, que tem alcançando prêmios e performances excepcionais com seu time, referiu domingo que tenta manter o grupo sereno e atento. “Problemas sempre vão existir e um grupo precisa estar atento a todo o momento, para perceber quando aparece o problema, saber resolver e resolver rápido”. Outro aspecto que o diferencia é a forma como agregou positivamente 3 estrelas mundiais: Vinicius, Bellingham e Rodrigo. Os 3 se completam, os 3 se apoiam e os 3 são uma máquina de coisas grandiosas para o seu clube. Nem todos os líderes conseguem isto, nem todos os liderados compreendem que é melhor para eles dividirem espaço e oportunidades. Não é só no futebol, não é só nas competições desportivas. Numa empresa ou até numa família, a “vontade” de ficar com as guloseimas todas para si, nunca tem bom resultado. É impressionante como a forma gulosa ou até oportunista de agir, seja em que meio for, envenena tudo, mais cedo ou mais tarde. Quem nunca viu jogadores brigando em campo, tentando ter a bola para ser o que marca o pênalti? Quantas empresas faliram porque era maior a frequência com que as pessoas tiravam dinheiro do que a frequência com que trabalhavam para ganhar dinheiro? Quantas famílias se desfazem e se destroem com a ganância de chegar ao “pote”? Com a luta pelo poder e pelo espaço? Em vez de se prepararem para os problemas e, juntos, resolverem os problemas, logo que os sinalizem? Em vez de construírem e “marcarem golos de todas as formas”?
O psicanalista argentino, Gabriel Rolón, docemente nos alerta para perguntas importantes: “Quem você é? O que você quer? O que te assusta? Porque você escolhe o que te machuca? O que te está impedindo de realizar seus sonhos? Tentas colorir aos poucos uma vida que está cinzenta e escura? A relação de amor que vives te faz bem? Te empurra na direção dos teus sonhos? Ou te afasta de quem você quer ser? Vives um amor saudável porque amas alguém que também se ama? Consegue ter um nível moderado de ego que permita amar sem deixar de se amar?”
Gabriel também explica que “os analistas diferenciam duas energias que movem a psique humana: a pulsão de vida e a pulsão de morte. A pulsão de vida nos leva a conseguir o que sonhamos – estudar, trabalhar, a tentar uma e outra vez, a enamorar, a criar, a praticar esporte. A pulsão de morte nos empurra para destruir e destruir-nos. A deprimir, a angustiar, a culpar, a brigar com os outros, a ter mau caráter e mau humor. Duas energias dentro de cada um, duas energias muito intensas, passionais. Quando pensamos e fazemos coisas que não nos fazem bem – deixamos fluir a pulsão de morte. Ela te empurra para sofrer, para machucar, para prejudicar outras pessoas. Ou quando, alguém, contra ventos e marés, muda um destino que parece muito difícil. Por isso, a “visita” do desejo e da paixão deve ser recebida com muitas cautelas – essa energia pode nos levar ao OLIMPO ou, se deixarmos, pode nos arruinar a vida. E a vida é um lugar complicado onde em algum momento é necessário escolher como se mover, como transitar.”
O jogador, o diretor de empresa, o político, o familiar, escolhe ações que são boas para todos? Escolhe a pulsão da vida ou a pulsão da morte? E você?
Ana Santos, professora, jornalista
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