
“COLETIVISMO OU EGOÍSMO?” Bug Sociedade
O novo – e estranho – presidente dos EUA é aquele egoísta tipo míope, que só enxerga até a altura do próprio umbigo. Provoca momentos inacreditáveis: expulsar imigrantes ilegais – por acaso brasileiros – como se fossem bandidos e não aventureiros atrás de oportunidades é asqueroso, abjeto. E isso tudo com aquela boca estranha, aquela cor de laranja meio Simpsom e aquele modo de falar que parece estar sempre com “nojinho” da espécie humana – nós.
Exemplo de desprezo pelos outros, desde o governo passado nos ensinou a retribuir-lhe o sentimento e, mesmo diante do fato indiscutível de que o mundo mudou, a sociedade mudou, as pessoas mudaram – ele continua, com a sua mão – será que ela também é cor de laranja? – assinando decretos que nos querem puxar de volta ao século XVIII – como se isso fosse possível. Os norte americanos aceitaram ir votar num presidente condenado por ser “tarado”, o que jamais aconteceria nos séculos XVIII ou XIX e que talvez sequer pudesse acontecer no século XX - tão pertinho de nós. Ele e seus asseclas, que compram o mundo das suas redes sociais, claro. Desses, vimos gestos associados à II Guerra, que esperávamos que estivessem enterrados, mas... o que um trilionário faria para ajudar a melhorar o mundo? O que vários bilionários juntos trariam para nós, as pessoas que estão na Era de Aquário, perplexas diante das ameaças climáticas diante das nossas vidas? Gestos e ameaças rumo aos nazis. Talvez pensem que, como fazem foguetes, podem ir morar em Marte – mas sós - não tenho dúvida de que são incapazes de serem amigos entre si, se a coisa apertar.
Enquanto o governador de São Paulo usa aquele boné “Made in China” pra falar que quer a América grande de novo, naquela cena bizarra onde me perguntei se não houve nenhum assessor pra colocar o boné na cabeça dele direito, pelo menos; enquanto me perguntava se ainda não tinha sequer percebido que governava uma dos maiores estados do mundo, o maior do Brasil – afogado pelas decisões erradas que ele tomou em relação ao meio ambiente, ao clima extremo e à segurança pública, claro, que segue caótica.
Mas há brasileiros na Era de Aquário, tentando agir e estimular a criação coletivos funcionais. Procurando parceiros para discutir os graves problemas de comunicação que inundaram nossas vidas, com crianças tendo crises de abstinência na volta às aulas, pela falta do celular. Em busca desses brasileiros, eu reenvio: “Como já devem ter percebido, as pessoas estão falando menos e com cada vez menos vocabulário. O Bug Latino foi criado e está em funcionamento em todas as redes com ferramentas que estimulam a comunicação através da arte, da cultura e informação como formas de entretenimento de alta qualidade. Secretarias de educação, saúde, cultura, esporte, turismo, comunicação, câmaras municipais - por favor entrem em contato. Nos sigam nas redes, se inscrevam em nossos canais, nos procurem para criarmos parcerias para introdução de temas de difícil abordagem como bullying e comunicação funcional, por exemplo. Esperamos por vocês”.
Há, portanto, os egoístas. Mas há também os supercomunicantes da Era de Aquário. Certamente, haverá uma escolha: em que mundo quererá viver? Haverá mundo, se a maioria for cooptada pelos egoístas das “mãos cor de laranja”? Haverá paz? Comida? Haverá palavra, escrita, leitura? Estão aí, são as nossas escolhas. Venha para o nosso coletivo e façamos alguma coisa juntos: buglatino.com.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Basta dar atenção e destravar“ Bug Sociedade
A mesa onde trabalho começou a ter um problema numa roda e eu comecei a tentar perceber porque isso acontecia – a roda não rodava. Não me dediquei muito. O que aconteceu foi que fui tentando não mexer muito na mesa, em primeiro lugar. Não queria riscar o chão. Pensei que talvez fosse algo que estivesse a bloquear o movimento e que eu teria de parar minhas tarefas que não param de aumentar, para me dedicar a esse serviço menor. Depois comecei a pegar na mesa quando precisava de a movimentar. Até que um dia, decidi tentar resolver o assunto, olhar de verdade para ele, dedicar-me um pouco. Talvez trocar de roda, talvez desbloquear a roda de algum objeto. E foi na hora em que parei tudo, inclusive os pensamentos sobre as tarefas que tenho para fazer, e que olhei de verdade para a roda, que percebi que eu a travei sem dar conta. Bastou destravar a roda para a mesa ficar perfeita de novo. Isso me deixou muito pensativa porque eu não pensava que fosse algo fácil. Todas as possibilidades que me vinham eram demoradas, caras, complicadas e isso me fez atrasar a vontade de resolver.
Desde esse dia que tento olhar à minha volta, olhar a minha vida, olhar meu trabalho, minhas relações com os outros, tentando ver se eventualmente existem problemas, bloqueios, atrasos, avarias, não estará algo ou alguém a travar ou se eu sem dar conta “calquei” em algo e travei tudo. Sem saber travamos muitas coisas da nossa vida, não as enfrentamos pensando que vão ser demoradas, difíceis, que não temos condições para isso no momento, e elas perduram como que aguardando que a gente acorde, que abra os olhos, se mexa, dê movimento ao que está parado. E talvez baste destravar uma peça que se travou quando se fazia outro movimento.
O tempo não é algo igual para todos. Sim, temos os relógios que nos sincronizam num mesmo tempo, mas cada um tem sua noção de tempo e cada um lida com seus problemas e desejos no seu tempo. Aquele tempo que demoramos para levantar depois de acordar, que demoramos a começar a estudar, que demoramos a começar a limpar a casa, a se preparar para sair, a tomar um banho, etc.
Talvez uma das coisas mais bonitas de fazer na vida seja conseguir “desbloquear a roda” da vida de outra pessoa. Estando essa pessoa viva ou não. Algo que a gente faz facilmente, tranquilamente, sem nenhum prejuízo, mas que ao fazê-lo, retiramos dessa pessoa um enorme fardo e lhe causamos enorme alívio. Libertamos seu espírito, libertamos seu corpo, lhe devolvemos o poder que ela deve ter sobre si. E quando isso tem esse efeito num povo, num país, num planeta, é perfeito.
Sinto que Walter Salles fez isso com o povo brasileiro com o filme “Ainda Estamos Aqui”. Não sei se vai ganhar algum prêmio – eu gostava muito que ele o ganhasse – mas de qualquer forma, julgo que o universo, o divino, a família Paiva, todas as famílias que perderam familiares, os que morreram depois de tanto sofrimento, lhe estão agradecidos. Penso que de alguma forma este filme está diminuindo um pouco o sofrimento que povoa o Brasil, que encontramos em cada esquina, em cada olhar.
As imagens do povo palestino caminhando em direção ao norte da Faixa de Gaza também parece ter o som de um “travão” imoral que foi “destravado”, permitindo às pessoas voltarem a ter um pouco mais de poder sobre as suas vidas.
Mas imagens de deportados algemados, abusados psicologicamente, travam em muitos sentidos as relações humanas – quem sofreu esse tratamento, quem ficou nos E.U.A e fica com medo de lhe acontecer o mesmo, os familiares dos que sofreram estes abusos e este tratamento desumano, travam em si muitas gentilezas. As pessoas ficam frias, distantes, por vezes vingativas. Tudo venenos que não precisamos. Travões que contagiam, multiplicam, abrem espaço para sermos cada vez piores.
Conheço bastantes pessoas que se deixaram contagiar pelos travões, que parecem leões ou ursos feridos que não podemos nos aproximar sob pena de sermos devorados num segundo, mesmo tendo todas as boas intenções. Ficamos tentando destravar o que eles não conseguem, à distância. Aguardando um momento de sorte, desejando que na milhésima vez que tentamos tocar naquela peça, para a destravar, que ela destrave e “o rio flua de novo”.
Ana Santos, professora, jornalista
Comments