Capítulo 2
Estavam os bombeiros num plantão, quando de uma maneira misteriosa apareceu no quartel uma caixa de papelão.
- O que essa caixa está fazendo aqui? – perguntou o capitão.
Ninguém sabia responder e por isso mesmo ninguém respondeu nada. Então o capitão apertou bem os olhos, chegou perto da caixa e viu que lá dentro tinha uma coisa se mexendo. Um barulho de unhas raspando. Ei! Tinha uma coisa viva lá dentro! A caixa se movimentava e fazia aqueles ruídos de unhas.
- O que essa caixa está fazendo aqui, gente?
Nada.
Bom, ele espiou pelo vão da caixa e viu uma coisinha muito fofa se mexendo. Uai, a coisinha não parava quieta! Abriu a caixa e a coisinha era... era... nossa o que é isso? – Um porco espinho anão? Um cacto em forma de bicho? Não, nada disso – era um bebê... um bebê de porco espinho!
Aí vocês podem perguntar: - Ah... que coisinha mais fofita! Bora pegar?
- Não! Claro que não! É uma coisinha fofita, mas é um porco espinho e eles costumam espetar!
Então, os bombeiros pegaram aquele fofito sem nome, com unhas que faziam aquele barulho sem fim na caixa de papelão e pensaram em ajudar – sem pegar com as mãos vazias!
Luvas! Grossas! Upa!
Riiiiinch! Freia aí! Quem sabe o que é um porco espinho? Que tipo de bicho é esse? A qual família pertence?
Família dos mamíferos, igualzinho a nós, os humanos. Nisso somos irmãos. Com uma diferença – por algum motivo que não sei explicar, eles não são inseguros e metidos a agressivos como nós. Sabem que seus espinhos machucam, mas andam pela mata sem provocar ninguém. Se aparecer um bicho que vá lá tocar neles, os espinhos que eles têm nos corpos se enfiam em quem lhes está tentando pegar. Então, se ninguém mexer com eles, eles não mexem com ninguém. Deveríamos aprender com o porco espinho. Talvez ele seja de uma civilização mais evoluída do que a nossa... não sei bem. Come de tudo e é roedor, como os ratos. Apenas, sendo silvestre, vive nas florestas e não interage muito com os humanos.
E com tantos espinhos, como namoram?
Uau! Essa eu tive que pesquisar. O porquinho fica a fim da porquinha e tal. Se rolar um clima e eles resolverem “namorar”, sobem numa árvore e se penduram nos galhos porque só não têm espinhos pelo lado da barriga. Então, pendurados, podem encostar suas barriguinhas, trocarem carinhos e se tudo der certo, podem se reproduzir. Vocês já sabem o que é reprodução? Uma outra história poderá tirar essa dúvida, tenham certeza!
Voltando pra nossa história, estávamos com o fofito sem nome, abandonado numa caixa de papelão, nos bombeiros. Eles pegaram a caixa nas mãos: quem poderia ajudar? Afinal era um bebê e precisava mamar nas horas certas, de carinho e cuidados. Ele fazia xixi e cocô, alguém tinha que limpar aquela potcheca e também brincar com ele.
E foi assim que eu conheci essa história: parece mentira, mas de todas as pessoas que existem no mundo, os bombeiros escolheram uma que eu conhecia – a minha irmã, que também se chama Ana e tem uma ONG que ajuda bichos encrencados – a AnimaVida.
Lá se foi o bombeiro com a caixa debaixo do braço bater na casa da minha irmã, que aceitou o porquinho sem nome – e claro! – como qualquer pessoa que tem um bebê em casa, tirou muitas fotos e mandou pelo WhatsApp. Bem, eu recebi as fotos e os filminhos. E olhei bem na carinha do porquinho e logo vi aquele ar de revolucionário desbravando a caixa de todas as formas possíveis. O nome logo me veio à cabeça – Robespierre, da revolução francesa – outra história que não vou conseguir contar nessa história, mas que vocês podem descobrir, como a história da fecundação. Uma dica é procurar pelas palavras Igualdade, Liberdade e Fraternidade no Google. Vai ser infalível.
Nada segurava Robespierre! Tinha que ser salvo o tempo todo, tantas aventuras ele entrava. Bem, as crianças todas devem fazer isso, né? Entram em aventuras, aprendem coisas novas, se equilibram. Eu mesma pulava meu berço e minha mãe me deixava brincando numa gaveta pela noite adentro.
O fato é que Robespierre mamava, dormia, acordava, brincava, fazia xixi e cocô, escalava a caixa de papelão com suas unhas de porco espinho bebê e crescia. Todo dia crescia um pouquinho e aprendia coisas novas.
Minha irmã cuidava dele, mas sabia que as suas vidas se juntaram, mas que haviam de se separar algum dia. E isso não era nem bom, nem ruim – era a vida. Robespierre iria crescer, seus espinhos iam endurecer e um dia Ana Cristina pegaria a caixa, a levaria pra entrada da floresta e Robespierre iria embora.
Mas, se a gente continuar sem cuidar das coisas ao nosso redor, será que um dia Roberpierre terá uma floresta pra ir? Será que sobrarão florestas no mundo? E se as florestas acabarem, como nós vamos sobrar? Uma coisa é verdade: a geração dos adultos perguntou sobre tudo: por que as mulheres ganham menos do que os homens, qual é o problema dos meninos brincarem com bonecas e as meninas de bola, por que todos não podemos ser mais livres, por que o mundo não acolhe as pessoas, por que as pessoas insistem em colocar defeito em coisas que não interferem na vida delas: nos gordos, nas mulheres, nos velhos, nos feios, nos gays, nos negros, índios e qualquer tipo de ser diferente? Perguntamos sobre tudo o que era oculto e não falado, destampamos tudo o que era tampado. Foi bastante. Mas não foi nada resolvido. Agora, vocês – as crianças todas - vão ter que resolver essa encrenca.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O Bug Latino agradece a gentileza da AnimaVida, em ceder as imagens. Muito gratas.
AnimaVida
Yorumlar