“ATÉ O GOOGLE SABE A IMPORTÂNCIA DO CANDOMBLÉ, NA BAHIA. MAS A CÂMARA DE VEREADORES...” e “Cavar buracos para os outros, significa que um dia é você que cai” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 21 de out.
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“ATÉ O GOOGLE SABE A IMPORTÂNCIA DO CANDOMBLÉ, NA BAHIA. MAS A CÂMARA DE VEREADORES...” Bug Sociedade
Eu vi – e queria que fosse mentira, mas não é – que a Câmara de Vereadores de Salvador da Bahia aprovou o Projeto de Lei nº 262/2025, de autoria do vereador Kênio Rezende (PRD), que autoriza o uso da Bíblia como material paradidático em escolas públicas e privadas do município. A proposta, que não impõe crença, visa usar o livro como recurso cultural e histórico para disciplinas como História, Literatura e Geografia (Google). Isso, na cidade do Salvador, Bahia, terra dos orixás, candomblés, mães e pais de santo históricos como Stela de Oxóssi e Menininha do Gantois. Lugar onde a cultura negra é raiz, sangue, sofrimento, escravização de um povo, guerra, revolução, vida, política pública de restituição, arte, comida, música, dança, poesia, literatura, miscigenação, Pedra de Xangô.
Nesse lugar, mais do que em todos os outros, nada é tão completamente descabido (pensar quem é, o que é o Brasil e já seria descabido; que dirá em Salvador da Bahia). Um lugar de cultura oral, de manifestações da nossa negritude – porque mesmo os brancos e pardos são negros, se vivem aqui. Nada é mais presente do que a cultura negra, em Salvador. A Prefeitura vende cultura negra o tempo inteiro – carnaval, blocos, músicas, dança afro, Castro Alves, teatro, literatura – mas, pasmem – o livro sagrado adotado para a escola é a Bíblia. Nada contra a Bíblia. Mas, nesse caso, tudo contra a Bíblia. Então, os professores vão pegar inúmeros meninos criados nos pátios dos candomblés pra falarem de regras e mandamentos cristãos por quê? E quando o menino disser que "Deus não joga praga de gafanhoto no mundo não" ou que Oxalá é o Pai de todos os Orixás, os professores vão dizer exatamente o quê? Isso pra nem cair nas outras religiões todas – já que o exercício religioso no Brasil é e continuará sendo livre.
O que as escolas vão fazer contra o assédio moral e o bullying religioso? Vai ter segurança pra quem assumir que é de religião de matriz africana? Os vereadores ainda estão bem lembrados que os candomblés são invadidos e vilipendiados no Brasil diariamente, incluindo a Bahia e Salvador? É outro Salvador? O hipotético, onde você troca árvores por cimento e a cidade “floresce”? Que mistério é esse? Sim, porque na hora de entrevistar as “autoridades,” todo mundo vai falar do Ilê, do Curuzu, das lavagens, do carnaval em Salvador – o melhor do mundo, Iemanjá, festa de Oxalá – mas na hora de valorizar a cultura, coloca outra coisa, de outra raiz? Nem deveria ter nada de religião nenhuma. Religião, cada um tem a sua – foi assim que eu aprendi e acho perfeito e certo. Você tem que respeitar todas e pronto.
O que acontece com quem desrespeitar? Perto do aeroporto, alguém queimou parte da homenagem feita à Mãe Stela – Mãe Stela, gente. E depois que isso aconteceu, nenhum vereador por acaso pensou que seria inaceitável misturar religião com escola?
Quem disse que os vereadores podem fazer qualquer coisa que quiserem? Deixar a cidade “arder”, sem árvores, loteando as áreas verdes, eles acham que pode? Colocarem alguma religião no banco da escola, ao invés de ensinarem a ler, contar, pensar? Alguém avisou que eles são nossos funcionários?
Na próxima eleição temos que ser chefes duríssimos com os vereadores. Que espécie de funcionário péssimo é o vereador que teve a ideia lamentável de colocar a religião no banco da escola? Então que colocasse todas. E teve vereador na Câmara pra votar e aprovar uma coisa dessas...
Dei um Google sobre a importância do candomblé na Bahia – coisa que a Câmara de vereadores esqueceu ou foi interesseira o suficiente pra não o fazer. “O candomblé da Bahia é uma manifestação cultural profundamente enraizada, sendo uma religião de matriz africana que moldou a identidade, a história, a gastronomia, a música e a religiosidade do estado. Ele é considerado um símbolo de resistência cultural e está intrinsecamente ligado à formação da cultura baiana e brasileira como um todo”.
Até tu, Google?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, Tv
“Cavar buracos para os outros, significa que um dia é você que cai” Bug Sociedade
Sou jornalista há mais de uma década. Nunca pensei nisso, nunca desejei isso. Apenas a vida insistiu e me disse que era esse o caminho, também. Relutei porque não queria sair de um lugar que me era confortável, mas a vida não dá tréguas quando é para ser. Agora percebo como foi importante, como é vantajoso, acumular o ponto de vista de atleta, treinadora, professora, mestre em Psicologia, jornalista. Acumular também experiências de sucesso e fracasso, de felicidade e perda, de erro e acerto. Escrevemos sobre a vida de todos, sobre as tentativas de cada um fazer o seu melhor. Precisamos entender que nosso trabalho depende dessas pessoas, afinal falamos sobre elas. Assim como o professor nada é sem alunos, o jornalista nada é sem as pessoas que fazem coisas importantes para serem divulgadas. E na nossa escrita se vê como somos e ou estamos, se felizes, se tristes, se amargurados, se invejosos, se insuportáveis, se amedrontados. Ao falarmos dos outros estamos falando de nós.
Trump, Bolsonaro, “etc”, nos mostram como podemos ser pessoas horrorosas, más, gananciosas, implacáveis com os desamparados e dependentes. Saber falar deles, apontar seus erros e dar soluções e esperança a quem lê, me parece algo que é construtivo. Não é fácil mas é um exercício que podemos fazer.
O Manchester United de Ruben Amorim tem passado por um tempo de dificuldade, vergonha, humilhação, incapacidade, descrença. Demora a sair de um buraco desses. Demora mais quando os jornalistas alegremente cavam ainda mais o buraco. Será que os jornalistas não sabem que é muito mais digno falar dos factos sem machucar? Vale tudo? Pensava que “Vale Tudo” era apenas um nome de novela. O time venceu dois jogos seguidos, um deles na casa do Liverpool, ao Liverpool, algo inacreditável para quem está nessa situação, mas os jornalistas acham sempre pouco e já estão com a “caneta” pronta para o próximo “desaire”. Queremos ser importantes. Concordo. Mas podemos ser importantes sem machucar. Sendo críticos mas construtivos.
Todos sabemos como é difícil sair de um buraco onde caímos na vida. Demoramos a perceber que caímos, demoramos a ter forças para começar a escalar aquelas paredes de lama que só nos devolvem ao fundo sem piedade. Demoramos a conseguir tentar de forma eficaz. Demoramos a acreditar. Isso acontece a todos sem excepção – não se esconda nem finja que você é diferente. Porque é preciso ir lá, no “buraco da pessoa” e calcar suas mãos para ela cair de novo? Qual é o interesse? Onde está a dignidade? Quando saímos do buraco, lá está, uma fila interminável de gente, dizendo que sempre acreditou em nós. Jornalistas incluídos.
Este final de semana foi a Copa do Mundo de Volei Sentado. O Brasil foi Vice-Campeão no feminino e no masculino. Impressionante!!! Podiam ter sido os vencedores, podiam sim. Perfeitamente. Dói um pouco saber que podiam ter sido campeões. Dói. Mas precisam estar orgulhosos do percurso, do que fizeram e de como são especiais e talentosos/as. Com equipes técnicas de grande valor.
Apesar de não conseguirmos o que desejávamos é importante dar valor ao que conseguimos.
O jornalismo ficou todo atento ao Flamengo com Palmeiras, um grande jogo, mas o esporte de um final de semana não é só um jogo. Nem só futebol. Nem só o que sabemos que vai dar mais visualizações. Essa febre de procurar assuntos e situações que vão dar milhões de visualizações, sem eu, jornalista, precisar de me esforçar muito no texto que escrevo, ou nos comentários que gravo, está cavando um buraco para todos. Sim, um buraco daqueles como falei anteriormente. Está levando para lá quem o cava e quem está tentando fazer um trabalho justo. Não está certo e não vai restar ninguém para nos tirar de lá. Os que continuarem a falar mal, vão se afundar mais ainda, e levarão os outros junto.
Na China, é obrigatório dois anos de Tai Chi Chuan para os alunos universitários. Em todas as universidades deveria ser obrigatório ter uma matéria sobre valores, sobre como lidar com frustrações, com perdas, derrotas, conhecer suas emoções, ter vários pontos de vista, passar pela experiência de ouvir falar mal de si, de ser cancelado, de ser menosprezado por causa de uma característica sua, que para você é normal mas para outros é razão de te diminuir.
Antes de acumular diplomas, prêmios, dinheiro e visualizações, precisamos acumular bondade, generosidade, grandeza, nobreza, dignidade. Tanta coisa que virou histórica, que precisa renascer das cinzas.
Ana Santos, professora, jornalista

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Imagem: Mary Vieira




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