“AQUILO QUE NÃO ENTENDO NO BRASIL” e “Normal, é desinteressante” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 18 de mar.
- 7 min de leitura

“AQUILO QUE NÃO ENTENDO NO BRASIL” Bug Sociedade
Passamos a vida ouvindo que somos um país rico, mas embora vendo riqueza por todos os lados, não compreendo como continuamos tropeçando na pobreza, enquanto se finge socialmente que as pessoas pobres não existem, e se foge desesperadamente do que se finge não ver. Somos um país estranho onde os ricos pedem – e acham que devem conseguir – descontos, abonos, ajudas, enquanto na TV assistimos aos técnicos dizendo que o Governo precisa economizar – à custa do abandono das questões que envolvem os pobres. Eles andam pelas cidades, veem subempregados e inventam que todos eles são empreendedores, quando na verdade, o instinto, a honestidade, os fazem sobreviventes.
Muitos se dizem conservadores. O que eles querem conservar? A pobreza? A miséria? Seu quinhão apenas? Porque aqui no Brasil, nos acostumamos que as vidas podem ser socialmente desniveladas e isso não é uma coisa a se acostumar. Nunca. Não se ouve numa conversa comum, alguém falar que todos precisam ter escola e emprego – todos falam de como o seu próprio emprego pode melhorar, enquanto reclamam do preço de manter um filho estudando aqui ou no exterior.
Me surpreendo sempre quando peço orçamentos. Para os outros – sobretudo os homens – os orçamentos são discutidos e explicados detalhadamente. Para mulheres, é o preço dado e pronto – a gente discute de “intrometidas” que somos. São feitos para “pagar e calar”, estejam eles certos ou errados. Mecânicos e serviço de consertos são campeões em “inventar” problemas e soluções.
No governo passado, a inflação estava totalmente descontrolada, mas a economia - saía no jornal – estava caminhando, mesmo com a COVID. Não foi, aliás, um escândalo vermos os mortos se acumularem por todos os lados. Parecia uma coisa da vida, um Karma. Se não fosse a internet, quem falaria abertamente sobre genocídio, sobre indução de pessoas à exposição ao vírus? Neste governo, os índices bons se multiplicam a cada nova medição – mas o resultado desse bom, sempre é ruim. Os fazendeiros jogam comida fora para aumentar o preço de venda e isso nem é noticiado, quando deveria ser denunciado, o mercado vaticina o Brasil ao fracasso, ao invés de dar sugestões que não envolvam empobrecer os mais pobres e menos estudados, os governos deveriam criar soluções de transporte para os pedestres em primeiro lugar e depois para os motoristas, tentando nos convencer a usar o que é público com qualidade de serviço prestado e não com excesso de usuários de cada serviço. E por fim, se as prefeituras conversassem seriamente conosco sobre como reorganizar a coleta de lixo em cada cidade do Brasil – aqui em Salvador, não se separa nada de nada, é um colapso de negligência acumulada – talvez nós nos sentíssemos a caminhar para algum lado, objetivamente.
Ao invés de progressão, muito mais vejo que há um movimento orquestrado para criar em nós, os brasileiros, a ideia de que terroristas estão apenas protestando, com receitas de bombas que são jogadas em pessoas e lugares, como se não representassem Instituições que precisam ser sempre respeitadas. A nossa Democracia, principalmente. Por fim, ninguém ensina a importância de cuidar da democracia em nenhum lugar, quando deveria estar em todas as campanhas publicitárias, na escola, nas TVs. Quando alguém precisa nos defender é apontado por alguns como herói e por outros como bandido – dada a ignorância das pessoas porque isso não deveria nem ser discutido, como o poder de Deus ou algo assim. Aí vem um filme que fala da democracia e todos se emocionam – mas o governo não aproveita o momento pra nos fazer – a todos nós – “Xandões e “Dinos” da democracia brasileira (e tem pouca gente nessa lista, por exemplo).
Assim, tivemos que consumir aquelas pessoas totalmente perdidas da realidade, ontem, em Copacabana, naquele sol, naquele calor, assistindo gente discursar sobre coisas que não fazem parte da vida real, mas que eram tratadas como se falassem, assim como aconteceu com a fala da pandemia, a “gripezinha”, a não necessidade de vacina - cinco anos de COVID, quem se lembra? Mais de setecentos mil mortos, quem se lembra? Quem foi preso? Alguém vai ser preso, um dia? Alguém reparou que logo ali ao lado havia um campeonato de natação no mar, com campeões olímpicos competindo? Com Ana Marcela Cunha – BAIANíSSIMA – competindo? Melhor ter que engolir o governador do Rio mandar a PM dizer que eram 400 mil pessoas, quando dava pra ver que não deu nem perto do público esperado?
Por que não treinam uma pessoa para nos falar a verdade, se comunicar conosco?
- Jogaram melancia fora pra ela não baixar de preço, dizem que os ovos daqui estão sendo vendidos nos Estados Unidos porque tem uma peste que pegou as galinhas deles, é de dar medo as pessoas acharem que tomar vacina é opcional – só é opcional se você for viver sozinho porque doença pega, meu filho! Quem quer atacar a democracia é o pior dos bandidos e por isso a pena tem que ser pesada. Coisas simples, diretas e objetivas.
Quem topa começar?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
“Normal, é desinteressante” Bug Sociedade
Tentamos ser iguais: aos que têm sucesso, aos que vieram primeiro, aos que se dizem saber mais da vida. Porque parece ser esse o caminho da vida. Todas as setas apontam para esse caminho. Afinal basta viver do jeito que nos faz bem e que nos faz felizes. E ter a oportunidade e a coragem de fazer isso. Mas a sociedade ajuda? Ela tem ciclos, épocas, marés, tendências, iluminando ou maximizando alguém ou algo. O que acontece, que esquecemos, que não damos muita importância, é que ao fazer isso também minimiza os que não fazem parte dessa escolha.
Os grandes artistas, sofridos artistas, que agora são venerados, também foram muito menosprezados por não se encaixarem no que a sociedade considerava correto e normal. Pensem em Fernando Pessoa, em Clarice Lispector, em Basquiat, em Francis Bacon (o pintor), em Chopin, em Mozart e em tantos e tantos outros e outras. A sociedade sempre vê anomalias no que sai do padrão e considera inútil. Até que vê uma forma de se dar bem e de rentabilizar suas capacidades. E cria uma nova tendência.
Vejam por exemplo as pessoas de espectro autista. Durante muito tempo nem eram visíveis – viviam fora dos olhares da sociedade. Depois eram medicados de imediato, para tentar transformá-los em “normais”, isto é, em iguais a todos os outros. Até que a sociedade viu lucro em tratar essas pessoas e surgiram imensos profissionais especializados em espectro autista. Com isso, centros e escolas especializados. E agora, as empresas descobriram que os talentos das pessoas de espectro autista podem ser muito benéficos para a sua rentabilidade. E até aceitam mudar algumas das suas regras. Por exemplo, sabendo que os primeiros segundos das entrevistas de emprego os deixam extremamente tensos e desconfortáveis, precisamente o momento mais importante da avaliação numa entrevista, passaram a demorar e a sorrir mais, a fazer mais perguntas, a deixar que eles se acalmem para realmente iniciar a entrevista. Também criaram salas de descanso com pouca luz, para diminuir a sensação de sobrecarga emocional e auscultadores para que possam descansar em completo silêncio. E tem mais aqui. Você deve se estar perguntando porquê, porquê agora, né? Porque será que empresas que são frias e calculistas, que só pensam no lucro, aceitam fazer todas estas modificações? Deixo-vos alguns detalhes que fizeram os empresários “virar a chave”. As pessoas de espectro autista dão extrema atenção aos detalhes, e isso reduz em 90% os erros de produtos, de palavras e de preços. São excelentes em sustentar o foco nessas tarefas e isso implica um aumento de 30% na produtividade da empresa. Excelentes memórias, excelente capacidade de repetir com a mesma eficácia. Não ficam entediados com as tarefas repetitivas. Adoram o ritmo da repetição, ao contrário das mudanças de tarefas que os fazem dispersar muito - isso é muito desconfortável para eles. A sociedade encontrou uma forma de se dar bem com estas pessoas? Elas são incluídas.
Como transformámos então, todas as pessoas que a sociedade considera problema e que exclui, em pessoas rentáveis, pessoas que a sociedade tem vontade de incluir? Como todos podem ser lucro e dessa forma atrair os olhares dos que comandam as sociedades – e que comandam o dinheiro?
Acredito que existe lugar para cada talento, que a sociedade será melhor no momento em que permitir o lugar certo para cada pessoa. Os que sabem qual é o seu caminho, deixá-los ir tranquilos. Mesmo que em determinado momento da vida possam repensar – está tudo bem. Os que não sabem o que seguir, os que não têm nada de interessante no que é oferecido, os que se sentem incapazes de fazer o que é oferecido, os que estão identificados socialmente como pessoas com incapacidades – esses precisam de um apoio. Assim como se fazem exames, vestibular, entrevista de emprego, fazer com eles uma espécie de entrevista simpática, pelos 18 anos, por exemplo. Nessa conversa poderia ser possível encontrar o seu lugar, a utilidade para os seus talentos e para a sua felicidade. Empregado feliz produz 5 vezes mais. Com entrevistadores excepcionais claro, porque serem entrevistados por pessoas que não fogem do padrão, dificilmente encontrarão uma solução feliz. Quem sabe esta poderia ser uma das formas de melhorar a sociedade?
Sou só eu ou você também vê, por todo o lado, pessoas nos lugares errados? Pessoas que você percebe que estão subaproveitadas? Pessoas que você percebe que lidam com demasiado? Que lidam com tão pouco que gastam seu talento fazendo coisas bem erradas?
Esqueça ser normal. Ser normal é não ser nada. É repetir. É viver sem sentir. Faça o que o faz sentir vivo. Faça o que faz os outros felizes. Faça o que consegue fazer com paixão, com entusiasmo. Quebre os padrões. Seus e dos outros. Fuja do que a sociedade nos incita a fazer – a ver apenas os defeitos nossos e dos outros. Aprenda a ver os talentos seus e dos outros e dê-lhes asas, abra portas, destrave rodas.
Existem tantos “sóis” escondidos nas nuvens, com as luas na frente. Quem sabe se fizermos as coisas de uma forma diferente do habitual, conseguimos, aos poucos, ver o sol forte e brilhante de cada um – incluindo o seu?
Ana Santos, professora, jornalista
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