
Lembro me de ser o estranho na tua vida.. Lembro-me de ser o vazio do teu querer, Do sabor seco do copo de água, Do branco na tua aguarela, Do horizonte perdido num globo de criança.
Aquele estranho Messias que hibernava na tua mente. Tal como um vendedor de sonhos numa praça de mercado... O encantador que te seduzia sem te tocar, O flautista de hamlin dos teus desejos que te fizeram vir no meu encalço...
Aquele que existia sem mesmo me conheceres.. O naufrago que se aconchega na areia da praia, como o soldado se abriga nas balas e como a morte aconchega o moribundo.
Esse teu ser que abraçava a minha presenca sem sequer a sentir. Essa tua alma que saciava as minhas incertezas com a força com que a montanha abafa o grito. Como o negro ilumina a noite. E como o cego vislumbra os traços de rua em cada cidade maldita.
Em cada palavra te reencontro Em cada olhar te penetro a alma como a faca espeta o peito... Como a dor te acompanhava no vazio.
E ali estavas serena e expectante Como o mar depois da tempestade Como quando o céu acaricia o horizonte. Quando o doce adormecer do corpo atordoa a sede da presença, adormeces com o falso aconchego do sonho como que se a porta se fechasse à esperança.