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2 Contos: “LIBERTÉ, ÉGALITÈ, FRATERNITÉ” e “Um sonho de menina”

Foto do escritor: portalbuglatinoportalbuglatino


Imagem retirada do Site Wikipédia

Conto “LIBERTÉ, ÉGALITÈ, FRATERNITÉ”

Jogador da seleção de futebol metido até o pescoço em escândalo de venda de resultados! Camisa 10 da seleção, ao redor de privatização das praias brasileiras!  Titular é excluído na internet porque bate na namorada! Estuprador compra liberdade com ajuda de amigo da seleção! Machista! Violência no final do jogo!

- Para! Hoje há o momento, naquelas horas encantadas, onde podemos sonhar um pouco menos mesquinhos, interesseiros e arredios...

Uma LIBERTÉ contando a queda da Bastilha com Heavy metal francês e uma imitação da batalha com canhões de fogos e luzes vermelhas do sangue, nosso sangue, sangue do povo que escorreu na Bastilha, mas também no Pelourinho, no 2 de Julho, em cada grito dos excluídos em que a polícia desce a porrada, antes mesmo de se identificar.

- Foi lindo. Quando via, já estava chorando.

Passou o Brasil. Brésil. Quem pensou em polarização mesmo? Ninguém. Verdadeira ÉGALITÈ. Quem viu direita e esquerda só localizava o lado do atleta incrível que segurava a nossa bandeira. Sem dúvida, um pescador do interior da Bahia, que viu e viveu remos a vida inteira, um que navega como um viking, é íntimo das naus como se fosse um centauro náutico... e aquela que quase entrou no Hades, mas o driblou para vencer nada menos que Cérbero, eram as pessoas certas e decisivas para carregarem a bandeira de um País que inventa de imitar os americanos só naquilo que é inútil, como a polarização e a logorreia antivacina, por exemplo – mas que traz ali nos pés, engatilhada, a alegria do samba que pula rápido, lampeiro, a cada vacilo da Comissão de organização da Olimpíada.

FRATERNITÉ e o sonho de nos ver assumindo a alegria da nossa personalidade, quase a infantilidade, a nossa molecagem em cada piada rápida, ao invés daquela cara de censura incompreensível que a tudo critica. Porque samba, porque ri, porque abraça, porque beija na boca na frente dos outros, rebola, é gay, mina, mana. Basta ser um pouquinho livre... e lá vem aquela cara...

Mas somos livres. Sempre fomos.

- E alguém já viu indígena preso? Alma solta, viajandona! Alguém já viu mente de escravizado presa? E alguém pensa em prisão quando está preso? Que viagem...

E assim, como numa ópera mais legal (um pouquinho só) que desfile de escola de samba, passou Celine Dion dando um show. Piaf era a rainha do drama, quando cantava, mas Celine explodiu minha emoção, sabendo que a doença dela é uma tortura e que o verdadeiro herói enfrenta tudo – até a dor de todos os dias – como Celine.

- A pira num balão, meu Deus, só faltou Santos Dumont!

E assim, por algumas horas, eu esqueci a perversidade e o jogo sujo dos interesseiros, as guerras, as falsidades e as roubalheiras. Plim! Nada de golpes. Plim. Solidarité. Générosité. Humanité. E nós todos juntos. O Brasil – Brésil – e o resto do mundo.

Nós podemos fazer isso. Damos as mãos e a Amazônia tem jeito, o Pantanal, o jacaré que, coitado, ta pegando fogo, a onça pintada, o menino pobre da sua esquina, a banana que podemos dar pra direita e pra esquerda se unirmos as duas mãos para sermos melhores... Juntos.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

Conto “Um sonho de menina”

Eram aqueles olhos, aqueles sorrisos, aquela alegria. Era aquele esforço, aquela vontade, aquela magia. Eram aquelas pessoas e o que elas conseguiam. Tinha algo de especial nos momentos em que o atleta passava a meta e continuava a correr, levantava as mãos, saltava, corria sem parar e sem se cansar. Tinha algo naqueles saltos, abraços, gargalhadas. Tinha algo naquela explosão. Tinha algo que ela ficou fascinada. Desde menina. Ia apanhar fruta e era como se milhões de pessoas assistissem ao momento em que quase caía da árvore ao apanhar aquele figo, pendurado na ponta do galho mais frágil e longínquo. Conseguiu...medalha olímpica...quer dizer, figo na mão. Corria o mais rápido possível, para comprar pão, antes que a padaria fechasse. Era caso de vida ou de morte, era uma final de olimpíada, a casa não podia ficar sem pão. E era tal e qual como bater um recorde do mundo na pista de atletismo. Chegava a tempo, comprava o pão e saía em direção a casa, caminhando da mesma forma que no final de uma prova de 800 metros, sentindo os músculos inchados, o suor escorrendo pelo seu corpo, a alegria de ser capaz de cumprir um objetivo importante para a alimentação do lugar onde vivia. Quase igual a uma medalha de ouro ou a bater o recorde olímpico da prova.

Todos os momentos da sua vida eram momentos olímpicos, grandiosos, memoráveis. Sentia dentro de si coisas muito fortes, pareciam parecidas com as que percebia naquelas pessoas, naqueles momentos, quando assistia aos Jogos Olímpicos na televisão. Era nova, muito nova. 6 anos. Não sabia nem nomear o que via. Não sabia o que aquilo significava, de onde vinha. Mas sabia da importância, pelo que observava nas caras de quem assistia, de quem comentava, de quem fazia. Antes de deitar, depois de fazer xixi, do banho, de lavar os dentes, o último treino do dia – 20 agachamentos, 20 flexões de braços, 20 abdominais, 20 dorsais. Direto para a cama, era hora de dormir. A respiração aumentava e o sonho se construía, enquanto se enroscava nos lençóis e cobertores.

Só bem mais tarde é que aprendeu que tudo aquilo tinha nome. 3 desses nomes ficaram para sempre na sua vida – respeito, amizade, excelência. Os valores olímpicos resumidos em 3 conceitos. Valores olímpicos que eram os valores de vida, da sua vida. Em tudo o que fazia, em tudo o que pensava. Respeito por si, pelo seu corpo, pelos outros, respeito pelas regras, pela vida, pela realidade. Amizade, que não inclui traições, deslealdades, mentiras, desrespeito, violência. Excelência, como uma responsabilidade em dar o máximo, sempre, em tudo o que faz – seja comprar pão, treinar, estudar, a quantidade de água que deve beber por dia, ou tomar banho – fazer o que tem de fazer, da melhor forma possível. Manter-se sempre perto das pessoas que seguem esses valores, manter-se distante das pessoas que não seguem estes valores.

Todos os dias tudo ela repete de novo e de novo, com a mesma alegria, dos seus 6 anos. E um dia, sem dar conta, percebe subitamente que já está nos 18 anos, depois 22, depois 26, depois 30 e é tudo igual como anteriormente. Apenas os nomes são diferentes - treinos de verdade, campeonatos do mundo, jogos olímpicos, medalhas de ouro.

Apenas algo é diferente. Agora outras meninas de 6 anos a olham e é ela que as inspira.

Ana Santos, professora, jornalista

 
 
 

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