Este é o tema de Ventos da Liberdade – um filme idealista, sem ideologia – ou com a ideologia de se ser livre para viver, para aceitar, para discordar – coisa cada vez mais difícil no nosso País de Facebook, por exemplo.
Num rompante de sonho, duas famílias enfrentam a polícia política da Alemanha Oriental e fogem – pelo ar! Mil perigos, em outro excelente filme baseado em fatos reais. No Rio, houve militares que tiveram a “genial ideia” de explodirem a Companhia Estadual de Gás – CEG – para mostrarem que tinham “a força” – uma coleção de He-Men de araque/falsificados, como em toda ditadura. Mas um militar teve a coragem de dizer não a todos os outros – e se negou a explodir a CEG, que fica no Centro da Cidade porque ia matar, destruir. Ele, mesmo perdendo tudo, inclusive a patente, inclusive o soldo/salário dos militares – foi livre, voou. E ganhou o processo que moveu depois contra os militares, que lhe devolveram tudo, tudinho.
Há ventos assim. No filme, a fuga é real, pelo ar e tem ação, drama, medo, suspense, perseguições incríveis. E no final, lá estava ela – a liberdade – como o prêmio que realmente vale à pena, o sonho de ser livre e a constatação que quem fala a favor de regime de força, não conhece regime de força.
Um elenco lindo, com crianças lindas, adultos lindos e todos sem maquiagem, cara lavada, rugas, corpo comum. A força que se renova do fato de você se ver em cada corpo, em cada medo. Impossível não vibrar.
Ventos da Liberdade deveria fazer parte do currículo escolar – já falei de tantos filmes que deveriam ser exibidos para abrirem discussões – para que se pudesse explicar qual é a sensação que temos ao fugir rumo a nossa liberdade – e não precisa ser apenas a liberdade de um regime de força, mas qualquer liberdade – de sonhar, de desconfiar, de trabalhar em busca de um futuro livre. Livre. Livre!
O foco, a tensão, o amor que é necessário para enfrentar seus medos e ser você mesmo. Vale cada segundo no cinema, é incrível, imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um país dividido em duas partes totalmente diferentes, por um muro. Parece “filme” para os que nasceram depois do muro da Alemanha, ser “derrubado”. A importância de comprar uma pedra do muro para “ter” a certeza que era verdade, que realmente deixou de existir essa divisão e que iam deixar de existir as regras de controle e de vigilância de pessoas, famílias, ações, foi e ainda é um ato de liberdade para muitas pessoas.
“Ballon” é um filme extremamente bem feito, com figurino e cenários tremendamente reais. Uma produção fantástica, com atores e atrizes lindíssimos e talentosos. Me recordo de muitos diretores que têm tendência para focar a atenção do espetador na beleza estética dos atores. Principalmente das atrizes. Neste filme, com pessoas lindas, a beleza é secundária porque o efeito que o filme provoca e o talento do elenco é tremendo e te coloca naquela aflição asfixiante de falta de liberdade. E sendo a estética secundária, quando um sorriso aparece, é uma luz que acende no écran/tela e nos nossos corações pelo que significa na liberdade das pessoas em causa. Mesmo os meninos pequeninos são uma fofura total.
O cinema enquanto arma, ferramenta de luta, forma de ter palavra e voz, de mostrar as injustiças cometidas e os heróis da vida, será cada vez mais necessário. Penso que estamos a perder tempo demasiado quando o cinema fica apenas como uma forma de lucro e de vaidade. Os tempos de hoje, lembram outros tempos difíceis e perder tempo não é opção. Muito menos desperdiçar dinheiro em exercícios e práticas cinéfilas.
Filmes como “Ballon” são necessários para que os que nasceram depois do muro “cair” saibam como se vivia num lugar que hoje é um dos mais vanguardistas em termos de arte, música, etc. Você nem liberdade para pensar e sentir tinha. A vida como um “faz de conta”, onde o que parecia era o importante. Tem sempre os que gostam de viver dessa forma e até bem felizes, controlando e limitando a esperança dos que precisam voar. E tem os que se sentem asfixiados e que fazem o que for possível para conseguir sair desse lugar físico e emocional. Mesmo que isso custe deixar os pais, deixar o país, deixar o que tem e o que é.
A força do amor, da vontade e da nossa chama interior, nos permite fazer coisas inacreditáveis. Coisas que ninguém tentou ou nem sequer pensou. Nunca o devemos esquecer. Principalmente nas horas difíceis. Há uns anos atrás alguém me falou que ninguém morre por amor. Tem razão. Quem, como essa pessoa, não ama verdadeiramente, nunca morrerá por amor. Nem sabe o que isso é. Nunca saberá o valor e o significado de morrer de ou por amor. De fazer tudo por amor. Uma pena. Mesmo entrar num Balão com os filhos pequenos, quando se tem medo de alturas, por exemplo, como nesta história de vida.
Um filme sobre histórias de vida verdadeiras, nobres, que buscam o verdadeiro sentido de estar aqui. E que lutam contra injustiças e imoralidades, como podem. Se unindo. Dedicando a vida à verdade. Acreditando no que é certo e justo.
Este filme é quase um documento histórico. Mais um filme para passar nas escolas e mostrar como era o mundo em alguns países, como ainda é em outros países e como pode voltar a ser em qualquer lugar ou país em que as pessoas se deixam anestesiar pelas mentiras e promessas vazias.
Ana Santos, professora e jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt7125774/?ref_=ttrel_rel_tt
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