
Que filme pesado! Mas imperdível pra você que olha ao redor e acha que evoluímos enquanto sociedade e que as novas gerações entendem e de algum modo concordam com tudo o que fizemos. Num momento onde ministros acham que podem falar com a população generalizando o termo “vagabundos”, onde as bocas no Brasil se abrem para espezinhar, ofender, amedrontar, ameaçar, desestabilizar, o filme mostra que COMO SEMPRE, você acha que ao fazer isso todos vão entender tudo como coragem e destemor, mas – sempre tem o “mas” – as novas gerações podem não ver nada disso. Podem ver o caos, sofrer com ele e reagir de uma maneira totalmente inesperada para nós.
O filme é francês, tem muitas cenas filmadas com o celular e quase reconheci pequenos segundos de YouTube – é pão, pão, queijo, queijo por mais que nosso estômago embrulhe e nos sintamos culpados pela nossa tremenda irresponsabilidade em coexistir, mundialmente falando. Claro que parece que só existe o Brasil e que Europa, Ásia, América, África e Europa sejam só roteiros de férias – mas não. Ou nós nos incluímos na falta de educação que virou o mundo ou podemos afundar com as reações que vamos provocar.
É o filme da vergonha na cara, não do dedo em riste. Porque parece fácil dizer: prendam para sempre, castiguem a falta de educação das crianças, sustentar pobre pra quê, meio ambiente pra quê, floresta pra índio pra quê, educação ambiental pra quê, delicadeza pra quê?! Vamos consertar tudo na marra! Vamos? Vamos?
O filme deveria passar nas escolas para colocar a nossa geração na berlinda e depois pedirmos desculpas aos que vieram por toda a deturpação de tratamento a tudo o que existe e que criamos. Vejam o filme - que tem defeitos - mas que traz a beleza do espelho – olhem-se bastante nele. E depois... se apedrejem a si mesmos, se tiverem coragem...
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
Este filme me recordou mais de 20 anos de professora de escola pública em Portugal.
A chegada a uma nova escola faz de você sempre um mistério. Será que o professor é competente? Será que é fixe/legal?
Os colegas novos e o início de convívio com eles. Você convive muito ou pouco? Pode ser totalmente você ou precisa se preservar?
O tipo de escola. O que é muito importante nunca falhar nesta escola? Para além de tudo o que se deve cumprir.
Os alunos daquela cidade ou bairro ou localidade. Como são? Do que gostam? Como posso contribuir para que eles sejam melhores do que já são? E milhões de outras perguntas e dúvidas.
De alguma forma que eu não sei explicar, a profissão de professor é muito censurada e muito vigiada. O ser humano que é professor precisa ser perfeito. Sempre. Não tem espaço de erro. As outras profissões têm. Nunca entendi por que a sociedade faz isso e me influenciou muito como pessoa. Muitas vezes evitei ter comportamentos que me poderiam ter feito mais feliz nesses momentos, mas que iriam me prejudicar na profissão. E sem trabalho ninguém vive. Você precisa se proteger.
O filme também recorda que o professor vive para os alunos. Só eles passam a interessar porque vivemos para eles, para a sua vida ser a melhor possível. Se o professor não tem essa preocupação tão exacerbada, muitos consideram que é pouco dedicado. Se trabalha 24 horas para os alunos, muitos acham que não tem vida e que deve ter algum problema.
A competência de um professor sempre poderá ser posta em causa por quem olhar o copo meio vazio e poderá ser respeitada pelos que veem o copo meio cheio.
Os alunos, os jovens, em todos os lugares, vivem o mundo de uma forma muito diferente. E têm um mundo muito diferente. Precisamos de os tentar entender e aceitar o que pensam para podermos comunicar com eles. Quanto mais comunicarmos com eles mais os conseguimos manter por cá... É sério. Todos os países estão fazendo estudos sobre depressão e suicídio e estão se assustando com os resultados. Com a população em geral é preocupante, mas os números em jovens dos 15 aos 19, é assustador. Precisamos de fazer alguma coisa. Os adultos. Os que podemos. O Bug Latino também quer ajudar. Contribuir.
Por último, o filme mostra atividades inacreditáveis dos jovens colocando em risco a sua vida, que parecem de filme, mas acontecem nas escolas todos os dias. Precisamos acordar. Urgentemente.
A trilha sonora marca tensão no espetador. É espetacular como a música nos dirige.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações do filme
https://www.imdb.com/title/tt7175992/
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