
Curioso que, em tendo a engenharia de ter sido retirado da vida real do cientista Stanislaw Ulam, o diretor Thor Klein não soube dar todos os nós dramáticos que eram necessários – e que a vida real certamente soube dar.
Muitas relações deixaram pontas soltas – todas as familiares, com certeza. Foram irmãos que “sumiram e depois apareceram”, esposa que sabia segredos militares porque “ouviu falar”, “cura de lesões cerebrais mal explicadas” – houve um pouco de tudo. Talvez a questão principal – a ética – não tenha sido tão bem explorada quanto poderia, de tantas aparições e desaparecimentos de subtemas.
De novo a não opção para filme legendado também incomodou – e sempre incomoda – pela impossibilidade de assistir a interpretação do ator e a construção da personagem feita pelos atores originais - o que me afeta, sempre. Porém, a guerra da Ucrânia traz de volta o mesmo tema, a existência de Putin, reaviva a questão ética de uso de bombas mortais e o paradoxo que criamos com elas.
A questão permanece insolúvel desde a segunda guerra e a forma de agir escolhida criou a bizarra situação em que vivemos até hoje - o planeta pode ser totalmente destruído mais de 20 vezes porque o mundo machista, se autoafirma com tiros, gritos e bombas – e depois eles nos chamam de descontroladas ao menor aumento do tom de voz!
Vale ver e rediscutir as manchetes atuais, vale ver e discutir as faltas familiares que as mães cobriam e que agora não conseguem mais, vale ver e perceber que a sociedade tem um papel permanente no cumprimento de preceitos éticos do mundo político - já que ali não existe esse tipo de vida porque o lucro da ética não habita contas bancárias; mas o mundo precisa e pode ver-se com um pouco menos de vergonha e de asco, com certeza.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O mundo e a vida são complicados. Stan Ulam, um talento, um gênio, conta num livro o seu ponto de vista sobre o que viveu. Este filme se baseou no seu livro. Para quem gosta de ciência, de biografias, ou tem curiosidade sobre os momentos mais importantes da humanidade, como a descoberta da bombas como a bomba atômica e a bomba de hidrogênio, este filme é imperdível.
Profissionalmente buscamos sempre evoluir, mas quando a evolução da nossa sabedoria e conhecimento vão na direção de bombas que destroem a humanidade, precisa existir mais do que ambição, senão o planeta desaparece num instante. E Stan Ulam atravessa o filme com essas interrogações, com o confronto emocional, dos seus valores morais, com perdas familiares, com decisões difíceis, em plena segunda guerra mundial, vivendo num país estrangeiro. Um polaco nos Estados Unidos. Complicado. Tudo muito complicado. Los Alamos eram na verdade uma terra de ninguém onde cientistas viviam em casas pré-fabricadas, junto com suas famílias – mulher e filhos. Bizarro não aceitarem irmãos por exemplo. Enfim, um tempo que convém não esquecer. Me pergunto se continuam a existir outros Los Alamos por este planeta, onde cientistas descobrem atrocidades para servirem de defesa e ou proteção com tantas doenças para descobrir a cura. O filme completo no link abaixo – livre no youtube.
Ana Santos, professora, jornalista
Diretor: Thor Klein
Sinopse: A história afetuosa do imigrante e matemático polonês Stan Ulam, que se mudou para os Estados Unidos na década de 1930. Stan lida com as perdas da família e dos amigos enquanto ajuda a criar a bomba de hidrogênio e o primeiro computador.
Elenco: Philippe Tlokinski, Esther Garrel, Sam Keeley.
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt6875374/
Link com o filme completo
https://www.youtube.com/watch?v=hWtOoLFXFv4