Filme de 2020, O LUGAR DA ESPERANÇA deixa o nosso coração exposto, falando de um tema muito conhecido aqui no Brasil: a violência contra o nosso gênero. É muito importante que mais homens assistam e assumam internamente o compromisso de falarem do assunto e, ao o debaterem, levarem a mensagem de que precisamos nos unir entre os que são violentos e os que são contra a violência – sem gastar tempo com subdivisões que enfraquecem os bons, na verdade.
Num dado momento você presenciar, ver a ação objetiva – espancar – ou as consequências dessa ação, com mulheres e crianças traumatizadas pelo medo de que aquilo se repita em suas vidas precisa entrar nas nossas conversas porque precisamos ensinar-lhes a se defenderem de novos ataques. E homens: são mesmo ataques. Ao verem um, vocês precisam interferir e chamar a polícia. Isso serve para o delegado, o promotor, a justiça, o juiz. São ataques selvagens, recheados de mentiras que os justificam, depois.
O filme mostra tudo isso do ponto de vista de uma diretora e faz toda a diferença, acreditem: os fragmentos de memória do acontecimento que invadem o momento presente, a escolha de uma senha que avisa a aproximação da agressão... são inúmeros detalhes que a gente sente como parte da sequência da história, do ponto de vista feminino. Tomadas incríveis, a noção da nossa impotência e, principalmente, que todos podem ajudar, se quiserem.
Agora, nesse momento de festas, talvez seja um dos filmes mais importantes pra falarmos depois do verdadeiro espírito de Natal que não está no bacalhau, mas na preocupação com as pessoas e do que devemos fazer para nos unirmos mais diante de tantas violências diárias.
Filmaço.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme muito importante, sobre violência doméstica e familiar. É irlandês mas podia ser de qualquer país – infelizmente. Uma mulher que sofre abusos do marido e que, junto com duas filhas pequenas, foge da situação. Leva com ela traumas, traumatismos, dor. Cuidar das filhas, dois trabalhos, um lugar onde dormir. Os finais de semana das filhas com o pai e os avós. Uma vida que parece não ter saída. Um belo dia ela encontra uma “fenda nessa parede gigantesca na sua frente”. A possibilidade de construir uma casa, de baixo custo. A partir desse dia, a esperança surge e é a energia – por vezes inacreditável – para ela suportar tudo. Encontrar aliados e aliadas é também uma alternativa importante – que o filme avisa, informa, - porque em todos os problemas que surgem na vida, ter aliados é essencial. E eles – aliados – vêm dos lugares mais inusitados. E isso é tão bom!
Atrizes e atores sensacionais, incluindo as meninas pequenas. Um roteiro muito real e muito preocupante. Mulheres e crianças que são agredidas pelos maridos e pais e os sistemas sociais lhes dão demasiados direitos, até destruírem tanto, mas tanto, que só aí é que a sociedade e a justiça resolve fazer o justo. Mas aí a reconstrução emocional e física das pessoas e dos bens é muito mais difícil. Precisamos melhorar. Infelizmente o ser humano precisa de limites para saber onde parar. Bom, sabendo isso, precisamos ser melhores nos limites e no controle dos limites. Se as pessoas sabem que não devem bater umas nas outras porque o fazem? Quem lhes ensinou que podem? Recordo aqui uma frase de Ashok Khosla que espero que abra os olhos das pessoas: “as mães continuam a educar as filhas para serem servas e os filhos para serem príncipes". Tente não perder este filme.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: A jovem mãe Sandra, foge do seu marido abusivo e luta contra o sistema. Ela se propõe a construir sua própria casa e, no processo, reconstrói sua vida e se redescobre.
Direção: Phyllida Lloyd
Elenco: Molly McCann, Clare Dunne, Ruby Rose O'Hara
Trailer e informações: