
Que capricho! É um trabalho para a televisão que poderia estar no cinema porque tem roteiro, direção de edição, edição, montagem, luz, narração, imagem (santo drone), finalização – tudo perfeito. Até o problema de criar uma linha histórica sem o uso de gráficos, que nem os americanos tinham conseguido modernizar – resolvidíssimo.
Nada do sangue espalhado no chão, muito comum quando falamos de nós, aqui no Brasil. Mas uma frieza impressionante ao apontar problemas, erros, dificuldades e perspectivas. Sem conteúdo político nenhum. Apenas um momento onde paramos para pensar e repensar o que um País pode almejar, a partir do que semeia em termos econômicos, tecnológicos, sociais, educacionais.
Fiquei tentando trazer elementos para o Brasil e me vi presa à divagações. Enquanto o mundo sabe e tenta se defender de mudanças climáticas que já estão em curso, nos justificamos como meninos brigões que vivem colocando a culpa nos outros. Ainda estamos na fase do “Brasil celeiro do mundo”, enquanto o mundo fala em automação como próxima etapa de desenvolvimento global. Falamos em manter o trabalho de frentista ou trocador de ônibus, enquanto o mundo fala em educação para substituição dos espaços de trabalho. Os políticos batem no peito, discursam, cospem ideias vazias sobre nós, mas na prática, como os gregos, podemos estar caminhando rumo à bancarrota.
Somos ricos e temos enorme extensão territorial. Temos água. Temos vida. Temos jovens e uma enorme força de trabalho. E temos também uma estupidez recalcitrante que, a cada novo governo, parece nos puxar para baixo. E mais baixo. E ainda mais baixo. Não queremos mais vender cultura. Não vamos conseguir vender turismo, sem vacinação rápida. Não, não, não. E é preciso dizer isso com lucidez. Seria preciso algo sério, competente e honesto para mudar tantos fatos históricos retrógrados e cá estamos nós diante do espelho do nosso presente – e já com vontade de chorar.
Os dois episódios da RTP mostram muitos problemas que terão que ser enfrentados por Portugal para a sua próxima década ser mais auspiciosa e, ao fazer isso, nos demonstra pragmaticamente, a imensa fragilidade que uma potência como o Brasil precisa reverter. Mas reverter significa aceitar que nossa cor não é branca, jamais será branca e graças aos céus é assim e será assim. Terá que aceitar a absorção de um projeto de educação para todos nós e não apenas para alguns de nós. Terá que aceitar que 220 milhões de pessoas vão sobreviver e é melhor incluí-las antes que a comoção social em que o País vive não vire uma convulsão mais grave. E que temos que começar de algum lugar. Não é comprando armas e sim livros. Não é pedindo à polícia que espanque, mas a escola que acolha e ensine.
Um Governo que pense, que saiba pensar, planejar e executar como é de sua função. Apenas isso. Não teremos nada disso no ano novo. Mas poderemos ter algo assim, se aprendermos a escolher vendo nossos filhos e o que queremos para eles, no futuro.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro , TV

Mais dois episódios. De novo bem feito, de novo qualidade, de novo uma edição linda e de muito bom gosto.
De novo a coragem de olhar o país, assumir o que se foi, o que se é e que caminho seguir. Algo que todos, individualmente, precisamos fazer, no nosso aniversário, no Natal, no Ano Novo, na Páscoa, no Carnaval, quando ficamos doentes, quando morre alguém importante na nossa vida, quando surge uma pandemia - quando a vida trava e o caminho fica enublado. Portugal tenta fazer isso. Mostra sem medo as feridas e tenta dar um caminho. Brasil, precisa fazer isso também. Não entre os intelectuais ou poderosos, mas para todos saberem, se verem, se reverem e ajudarem nas mudanças necessárias. Programas de televisão não servem só para ganhar dinheiro, para tornar famosas determinadas pessoas e criar modas ou tendências de consumo. Programas de televisão podem transformar a vida das pessoas, salvar pessoas, salvar países. Precisam ser isso também.
O futuro é sempre incerto e preocupante. Como gerar riqueza? Como melhorar o estilo de vida de todos? Como manter ou até melhorar o nível cultural e de conhecimento de cada um? Descobrir isso de peito aberto e com extrema honestidade é o caminho para a felicidade dos povos, para diminuir os conflitos, para um planeta menos poluído, por um olhar num amanhã mais entusiasmante. Precisamos que as pessoas que tanto desejam estar no poder, sejam capazes de exercer esse poder com sabedoria, bondade e visão. Se não são capazes disso, vão fazer outra coisa. Os povos merecem pessoas preparadas e que não pensam só em si. Não era já hora de todos no mundo saberem ler, escrever, pensar o mundo? Todos saberem argumentar perante um discurso diferente do seu e crescer com isso? Ter opiniões claras sobre quem são e quem desejam ser? Saber sobreviver e ensinar outros a sobreviver? Saber ser autônomo mesmo que vivam com e para os outros? Com acesso a informação verdadeira? Às melhores condições de vida que existem? Povos assim, desenvolvem, salvam, transformam países. E tornam as suas vidas e os lugares saudáveis e eternos. Por favor, pensemos nisso.
Ana Santos, professora, jornalista
Episódio 1
https://www.rtp.pt/play/p8072/e511380/nos-portugueses-um-futuro-por-desenhar
Episódio 2
https://www.rtp.pt/play/p8072/e511636/nos-portugueses-um-futuro-por-desenhar