Muitas vezes decidimos que uma coisa socialmente vai ser vista assim. Fulana não presta. Seu pai nos abandonou. A esposa sou eu. A vergonha, portanto, é deles. Aí o pai morre e a família, em dor, precisa enfrentar muitas verdades que foram convenientemente ocultadas.
Este é o argumento de LITTLE BIG WOMAN em poucas palavras. Muito bem desenvolvido, embora num ritmo cada vez mais afastado do nosso, ocidental. É um filme mental e emocional, mas sem suspense, sem outra ação que não seja mental, verbal, emocional. E isso é muito bom. Lá no final, você está arrumando suas idiossincrasias e mediocridades sociais, procurando a princesinha pra achar um final feliz. Mas como não tem princesinhas, você vê a nobreza do sofrimento daquela que mentiu mais para si mesma do que pra todos os outros e que se mostra como capaz de errar e de se perdoar.
Um raciocínio pleno e uma capacidade de revelar aos poucos a história que conhecemos do tio, da vizinha, do irmão da cunhada... claro que nunca a nossa história porque, tal como no filme, vivemos em busca das nossas princesinhas – de preferência brancas, loiras e lindas, aliás – como os santos e anjos.
Na verdade, esta que é uma produção barata, nos enriquece muito mais do que o que a indústria americana gera, muitas vezes. A pergunta que fica é por quê afinal temos vergonha de que a vida faça curvas. Ela faz uma curva e você esconde um sobrinho gay que se suicidou. Faz outra curva e você prefere culpar a nova companheira do seu ex-companheiro ou culpa a faxineira pelo sumiço de um anel que afinal estava no fundo daquela gaveta – e você cala o que sabe, omite detalhes. Afinal, lhe convém. Lá no final da sua história talvez o destino lhe cobre os comos e os por quês – talvez. Talvez uma casa de milhões nunca seja cobrada aqui, afinal. Ou uma amante. Ou um filho fora do casamento. Mas nunca esqueça de que você sabe.
Uma produção incrível, num filme que se ajusta perfeitamente ao que se dispôs falar, mesmo com pouco dinheiro. Excelentes atrizes, sobretudo. Um elenco basicamente feminino, com temas que interessam a todos nós.
Amei os conflitos. Amei todas as contradições. Amei os lutos. E amei a solução da liberdade que nasce de um karaokê e uma pessoa finalmente capaz de se encarar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Adoro filmes orientais. São intensos, assertivos, com cores cinza, trilhas sonoras/bandas sonoras com muita personalidade e falam claramente de assuntos muito difíceis da sociedade. Nos mostram sempre novos pontos de vista. São culturas com pudores diferentes o que nos estimulam a enfrentar os nossos.
Um filme com excelentes atores, com um roteiro nem sempre previsível, e uma mistura de esperado e inesperado final. Mais um filme que nos deixa a pensar muito na nossa vida, no que fazemos dela, no que deixamos estar e não devíamos. No que acreditamos, no que é a verdade instituída e nos segredos que se enterram até um dia surgirem à luz do dia. No que acontece quando algo muito forte, muito violento, muito duro, muito triste, continuamente difícil sucede e o que fazemos, o que somos, o que mudamos na nossa vida e em nós. O que é importante? É impressionante como este filme toca cada um de nós. Quem tem família, quem não tem, quem acha que tem, quem acha que não tem. Todos somos tocados e a todos alerta.
Uma mensagem do filme que deixo aqui para estimular o vosso interesse de ver o filme: “O ser humano é um ser irracional. Sabemos que algo é danoso para nós e mesmo assim continuamos a fazê-lo.”
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Os membros da família lutam com o falecimento de seu pai distante e os resquícios da vida que ele levou durante sua ausência.
Diretor: Joseph Chen-Chieh Hsu
Elenco: Shu-Fang Chen, Ying-Hsuan Hsieh, Vivian Hsu
Link com informações
https://www.imdb.com/title/tt12397078/?ref_=ttrel_rel_tt
Pelo que vocês dizem é um filme a não perder ...