
Todo baiano, toda pessoa que vive na Bahia e consegue sentir a mágica que existe aqui tem que assistir ao filme. Todos os grandes músicos da minha geração e da que veio antes da minha estão nele. Só de podermos ter o luxo de ouvir Gil, Bethânia, Nana, Danilo, Dori, Macalé, Milton, o filho de Tom, de Vinicius falando de quem era Dorival, seu espaço musical, sua essência, o violão até hoje inimitável vale a ida ao cinema.
Um documentário não pode ter compromisso com a suavidade, já que precisa tentar ser fiel. Mas e se a personagem principal fosse o homem mais feminino que já vi? Que com aquele bigode bem aparado revirava os olhos, ensinava Carmen Miranda a dançar e ainda tinha jogo de cintura pra estar cara a cara com Walt Disney, conversar com o gênio dos gênios? Parece mentira, mas ainda hoje recebi O Zé Carioca cantando ‘O que é que a baiana tem’... Parece mentira, mas a obra de Dorival não caduca nunca e que sua influência musical tenha estruturado tantos outros gêneros.
Qualquer homenagem seria pouca. Ver, os três – Carybé, Jorge e Caymmi sempre juntos, amigos inseparáveis – é como ver algo ao qual vemos cada vez menos, por tantos interesses individuais e pouca generosidade.
Estaríamos piores? Mas um mundo onde se fala das diferenças não teria que, obrigatoriamente ser melhor? Necessariamente... não. Porque no mundo deles havia o privilégio da aceitação. E com a aceitação, a diferença desperta no máximo um olhar.
Certamente o mundo onde habitavam essas personagens da história da arte, aqui no Brasil, era muito diferente – talvez pra melhor. Era um lugar onde Caymmi derramava seu charme pra todas, mas voltava pra Stela-Estrela. Voltava pra luz de seu amor. Você sai com o coração doce como uma cocada, um toque diferente na alma e o coração mais leve. Tudo de bom.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, televisão e teatro

As músicas de Dorival Caymmi sempre foram um cartão de visita e uma forma de amarmos o Brasil, nós que não somos brasileiros. E desenhou no nosso imaginário um Brasil onde todos queríamos viver. Tinha tudo o que sonhamos quando vivemos infância, adolescência e idade adulta em lugares com 10 meses frio: o calor constante, o sol, o mar, a praia, o convívio em volta da mesa ao ar livre depois da praia, entre múltiplas possibilidades, porque seriam nossos curtos verões repetidos 5 vezes.
Canções com música doce, serena, vidas simples e amores e amizades inteiros. Comportamentos humanos do quotidiano falados com carinho e nobreza. E tudo isso e pequenas explicações do modo de vida, o que tem a baiana, o mar, o vento, foram uma forma de aprendermos sobre o Brasil e a sua vida. O filme é mais uma delícia por nos ensinar muitas coisas como a forma como criou as músicas, as suas amizades, a família, seu jeito de ser. E fico sempre encantada com a amizade entre Dorival Caymmi, Jorge Amado, Carybé. Amigos que sabem manter amizades sem trair os que os amam. Sortudos.
Um filme obrigatório pelo menos para estrangeiros como eu e que precisa passar nas cidades de Portugal. Para mantermos um pouco mais esses sonhos de um Brasil que encanta e é amado pelo mundo inteiro. Um Brasil que ensinou Portugal a falar de tudo, a enfrentar as vergonhas e a perder preconceitos como na época historicamente marcante em que a novela Gabriela entrou nas casas dos portugueses e mudou para muito melhor sua forma de ver o mundo e a vida. As pessoas com mais de 50 anos ainda sabem a letra de cor.
Ana Santos, professora e jornalista
Circuito Saladearte
Link com informações sobre o filme
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-265277/